Sobre a vitória de Hugo Chávez no referendo último, devo dizer que não me entusiasma nem o estilo nem a instituição de mecanismos que ajudem um homem a perpetuar-se no poder. Lá como cá, sou pela limitação dos mandatos e pelo exercício do poder limitado pela lei.
Em Chávez, não gosto do lastro de populismo que não raro desagua em autoritarismo e em desprezo pela crítica e a oposição.
Lembro o que escreveu LA Boétie, no seu Discurso Sobre A Servidão Voluntária: “Assim também, quando os habitantes de um país encontram uma personagem notável que dê provas de ter sido previdente a governá-los, arrojado a defendê-los e cuidadoso a guiá-los, passam a obedecer-lhe em tudo e a conceder-lhe certas prerrogativas; e isto é uma prática reprovável, porque vão empurrá-lo para o mal.” Não estou a dizer que Chávez seja portador de tais virtudes (Numa América latina em maré de esquerda, as minhas simpatias vão para o líder boliviano, Evo Morales, e para o nosso “irmão” Lula), tão-só que não é prudente tudo confiar a um homem só.
Por agora, parece-me manifestamente exagerado dizer que Chávez virou ditador. O que ele conseguiu, com o referendo de Domingo, foi a possibilidade de se perpetuar no poder através de eleições. Mas importa não esquecer que também pode perder o poder através de eleições, pois estas não foram abolidas. E na Venezuela a oposição existe (embora na minha opinião não seja de fiar) e mobiliza recursos.
Não podemos compreender o fenómeno Chávez (uma máquina de ganhar eleições e referendos) sem as políticas redistributivas nunca antes postas em prática na Venezuela. Porque os de sempre, que mandavam na Venezuela, faziam eco do discurso veiculado pelos analistas financeiros (melhor dizendo, ilusionistas) que nos precipitaram a todos na actual crise: sob o lema, “o importante é criar riqueza”, as políticas de redistribuição do rendimento eram relegadas para um futuro longínquo feito de prosperidade. Só que a riqueza entretanto gerada ia parar às mãos dos de sempre, permanecendo os pobres cada vez mais pobres.
Chávez teve ao menos o mérito de romper com esse ciclo. Com ele, a pobreza diminuiu e os cuidados primários de saúde chegaram aos mais desfavorecidos. Chávez ousou pôr em prática políticas de redistribuição do rendimento minorando o sofrimento dos muitos que pouco ou nada têm. Dos muitos que não tinham futuro nem presente. É por causa disso que é tão odiado pelas direitas de lá e de cá.
P.S.Dados sobre os méritos da governação Chávez
aqui