domingo, setembro 30, 2007

Liberdade e mercado livre

Donald Tusk, o presidente do partido polaco Platforma Obywatelska (Plataforma Cívica) está em Inglaterra a fazer campanha (para as legislativas a 21 de Outubro) junto da crescente comunidade polaca emigrante.
A mensagem que lhes leva, na esperança de que eles contribuam para tornar a Polónia num "país ocidental" que permita aos seus cidadãos beneficiar do mesmo nível de vida que os britânicos, é (minha tradução, via BBC):
Nós não iremos descobrir petróleo ou ouro. O único recurso que temos é a nossa liberdade. A chave é o mercado livre.

Posso estar enganado, posso não ter prestado a devida atenção, mas não me recordo de nenhum presidente do PSD ou do CDS ter formulado em tão poucas palavras todo um programa que permita uma alternativa de oposição ao socialismo que, desde 1974, tem levado o nosso país ao ponto a que chegou.

O conforto do assegurado rotativismo PS / PSD não obriga a grandes coragens políticas na demarcação de novas posições por parte dos partidos não situados ao fundo da esquerda. Será que a perspectiva da renovação da maioria eleitoral do PS não ajudará o ambicioso novo presidente do PSD a reformular o posicionamento tendencialmente socialista do seu partido, optando por alternativas não antes exploradas?
Podem chamar-me pessimista ou mesmo derrotista, mas não creio. Falar alto e falar muito, atacar sempre e ser do contra, propôr diferente porque feito por diferentes pessoas, parece-me que será assim a continuação da prática da oposição em Portugal.

Pela minha parte, a esperança continua. Tal como o presidente da Plataforma Cívica prefiro ter esperança que de uma nova geração de portugueses, mais ambiciosos, menos presos à tradição socialista pós-revolução, possa um dia surgir a mesma formulação que o pleno usufruto da Liberdade e o mercado livre indicam o caminho para a prosperidade.

Já colocado no Insurgente.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Rovinj



Água, casas...
Rovinj (Croácia).

terça-feira, setembro 25, 2007

Mahmoud Ahmadinejad em Columbia


O Presidente da República Islâmica do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, em debate na Universidade de Columbia.
Destaco esta passagem, Ahmadinejad chega até a recolher aplausos entre a assistência, o que não deixa de ser surpreendente.
Um debate assim, duro e sem complexos, só mesmo num país livre. Com um largo espectro de liberdade de expressão (nós, europeus, somos mais dados ao proibicionismo; vide a forma como lidamos com o discurso dos extremistas, com o racismo e o anti-semitismo).
É bom recordar que, para muitos americanos, para as famílias de militares em comissão no Iraque, este homem é o rosto do inimigo. No entanto, pôde expor livremente as suas ideias, perante uma audiência de professores e alunos de uma prestigiada instituição universitária.
Mahmoud Ahmadinejad. Um político hábil; um demagogo.

No Coração desta Terra


Numa remota fazenda, uma mulher; na imensidão de África.

Através dela, da sua escrita em forma diária, vamos conhecendo as personagens que partilham esse espaço, o pai, viúvo, e os criados hotentotes, Hendrik e a sua noiva-menina, Anna (Klein-Anna).

A protagonista deste romance de J. M. Coetzee é uma mulher amargurada, esquecida, à margem da vida. É animada pela fúria contra um destino madrasto . Inteligente e cheia de ódio. Implacável e minuciosa no diagnóstico da sua condição.
No Coração desta Terra (The Heart of The Country) é um romance estruturado em torno de notas diarísticas, a partir das quais Coetzee vai operando uma espécie de desconstrução da narrativa, embora acabando por preservar o fio condutor.
Em muitos trechos, a fértil imaginação da protagonista (prodigiosa mente feminina engendrada por Coetzee!) submerge a realidade circundante. Ou, se quisermos, é a realidade. Pelas ficções a que se entrega (talvez para manter a sanidade ou salvar a alma), entrevemos esse mundo colonial, os seus códigos e interditos, as suas relações de ordem e hierarquia.
Nem tudo é imaginação feminina, a realidade irrompe, com o parricídio (o pai tinha feito de Anna, a criada africana, sua amante, o que desencadeou o gesto trágico da filha), a inversão de papéis, a humilhação às mãos de Hendrik. No fim de tudo, a solidão. A terrível solidão desta mulher.

P.S. Hotentotes, povos que habitavam os desertos e terra áridas do sul de África.


1. HOJE, O MEU PAI TROUXE PARA CASA A sua noiva. Atravessaram planícies, toque-toque, numa carreta puxada por um cavalo, com uma pena de avestruz a adejar na cabeça, suja por causa da longa caminhada. Ou talvez tivessem sido puxados por duas mulas de plumas - também era possível. O meu pai vinha de fraque e cartola, a noiva trazia um chapéu de aba larga e um vestido branco apertado na cinta e no pescoço. Não posso contar mais pormenores a não ser que os invente, já que não os vi chegar. Estava no meu quarto, de portadas fechadas, no lusco-fusco esmeralda do fim de tarde, a ler um livro ou, o que seria mais provável, deitada, com uma toalha húmida nos olhos por causa da enxaqueca. eu sou das ficam no quarto a ler, a escrever ou curar a enxaqueca. As colónias estão cheias deraparigas assim, mas nenhuma, acho eu, tão radical quanto eu.
O meu pai é dos que andam de um lado para o outro, incessantemente, em passos lentos e de botas pretas.
E há depois a terceira personagem, a sua nova esposa, que dorme até tarde. São estes os antagonistas.

248. As vozes falam. Na ausência de inimigos e de resistências externas, enclausurado numa pequenez e regularidades opressivas, a única alternativa do homem é lançar-se à aventura. Acusam-me, se é que as compreendo, de transformar a minha vida numa ficção em virtude do tédio que sinto. Acusam-me, se bem que com muito tacto, de ficar mais violenta, mais inconstante, mais destroçada pelas amarguras do que realmente fico, como se me estivesse a ler como um livro, um livro enfadonho que punha de lado, preferindo inventar-me a mim própria. É assim que eu entendo as acusações dessa vozes. Dizem-me que não criei a minha história por revolta contra uma verdadeira opressão, mas, sim, como reacção contra o tédio que era servir o emu pai, mandar nas criadas, cuidar da lida da casa, passar os anos nesta modorra; como não encontrei o tal inimigo externo, como não apareceram hordas de cavaleiros de cor vindos das colinas, bradindo os seus arcos e aos gritos , fiz de mim um inimigo, do meu ser pacífico, do ser obediente que mais não queria do que fazer as vontades ao pai e desabrochar à vontade.

In No Coração desta Terra.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Leituras sobre Carris



Pura Anarquia - Woody Allen

Este país é um terrível aborrecimento.
Aparte as propostas do Zé Faz Falta e as palhaçadas dos labregos eufémicos.
Ou as táticas e performance da selecção de futebol.
Ou a festa do Avante.
Ou uma ou outra greve geral.
Ou o dia continental sem carros.
Ou então este país não é nada aborrecido e, por isso, compreende-se que nem toda a gente venha a ler mais este livrinho do mestre do disparate.
É que ter tanto disparate na vida pode fartar.

Do Intervencionismo Liberal

Assim mesmo. Para ilustrar um caso presente que nestes dias ocorreu no Iraque. Sim, outra vez o Iraque.
Referi-mo ao incidente que envolveu paramilitares da Blackwater, e que causou a morte de onze civis iraquianos. Não é no entanto caso virgem, não é a primeira vez que os seus mercenários, ou melhor dizendo, os seus colaboradores, para utilizar a linguagem asséptica do meio empresarial, ceifam vidas de iraquianos.
A Blackwater é a empresa responsável pela segurança e protecção do pessoal diplomático americano em missão no Iraque. Foi fundada em 1996, por Erik Prince, antigo oficial das forças especiais da marinha, com laços estreitos à direita religiosa. Um homem de fé.
A Blackwater é apenas a ponta do icebergue, de um prática cada mais disseminada na lógica de guerra da hiperpotência americana, e que poderíamos designar pela contratação de serviços privados, talvez porque as empresas são mais eficientes do que o Estado, como postula a ideologia.
Mercenário é aqui palavra em desuso, ofuscada pelos intricados sistemas de subcontratação e prestação de serviços, cada vez mais dominantes na linguagem, mesmo que insistamos em ver neles um eufemismo para velhas práticas.
Tais empresas operam à margem do Direito e das convenções internacionais, na prática, são mais eficientes a executar determinadas missões, ao contrário dos soldados ao serviço de um Estado-nação democrático, que em princípio estarão sujeitos ao escrutínio das opiniões públicas. Os paramilitares e seus chefes, porém, não conhecem limites éticos. O Iraque tem sido um filão para estas empresas de prestação de serviços no domínio da segurança (em sentido lato), com a prestimosa ajuda da administração Bush, cuja prática política poderíamos inscrever num processo mais vasto de privatização das funções do Estado. Não é assim de admirar que um dia destes o nosso mundo se assemelhe às ficções de Philip K. Dick ou de Robert A. Heinlein.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Rui Ramos, o Iraque e o Vietname

Num artigo no Público de ontem, o historiador Rui Ramos escrevia sobre a impossibilidade de retirarmos lições da História. Ou não: podemos dela retirar as lições que mais nos aprouverem e, nesse sentido, a História ajudaria toda a gente e não ajudaria ninguém; foram estas as palavras do cronista.
O artigo versava sobre o Iraque, mas não esquecia o Vietname, paralelismo que anda na boca do mundo, quer dos apologistas, quer dos detractores da empresa americana em terras da antiga Mesopotâmia. Uns invocam-no, como o presidente G.W. Bush, para alertar para o desastre que poderia advir da retirada do exército americano, aludindo à provável irrupção de uma guerra fratricida ou de um banho de sangue. Outros falam do impasse em que cada vez mais se encontra a intervenção militar, lembrando “o atoleiro vietnamita”, que ceifou perto de cinquenta mil vidas (refiro-me aos soldados americanos que pereceram naquele país do Extremo Oriente).
Para o actual inquilino da Casa Branca, não há margem de recuo, ele tem de persistir na tese da necessidade da presença militar americana no Iraque, pois fez dela o núcleo do seu discurso político, esta empresa era central à guerra ao terrorismo. Mas o problema da retirada será uma questão incontornável para próximo presidente dos Estados Unidos, provenha ele do campo democrático ou do campo republicano.
Rui Ramos ainda acredita nas virtudes desta intervenção militar e gostaria que fosse dado mais tempo (Cinco anos? Dez?) ao General David Petraeus, como este pediu ao Congresso. Isto faz-me regressar ao Vietname. À época, o então General Westmoreland também pediu mais tempo, invocando os progressos no terreno e a crescente competência do exército sul vietnamita. E viu os seus esforços recompensados, por Washington, com mais oito anos de guerra. O desenlace foi o que todos sabemos, ou deveríamos saber: uma humilhante retirada.
Mas Rui Ramos relativiza as lições que podemos retirar da História. Além disso, faz eco da tese de que, no Vietname, os militares americanos estavam à beira da vitória, e que foram timoratos políticos a deitar por terra esse esforço. Bem, eu duvido que tal tese tenha expressão entre os historiadores…A não ser uma expressão similar à das teorias que negam o fenómeno do aquecimento global. Parece-me mais própria do cinema, daquelas estórias de rambos a que Sylvester Stallone deu corpo nos idos anos oitenta.
Em suma, subjaz a ideia de que só o reforço das tropas americanas poderá conduzir à pacificação do Iraque. Mesmo que isso signifique mais uns anos de guerra. O historiador Rui Ramos recusa ver os americanos como parte do problema, e não da solução. Crê que sem a presença destes, os iraquianos se entregarão a pelejas sem fim, talvez mesmo até à extinção. Nesta visão das coisas, é por certa alienígena a hipótese de uma redução dos níveis de violência com a saída dos americanos, deveras inconcebível.
Poderíamos ver nisto resquícios de uma visão colonial. Mas eu não vou por aí. Penso que é apenas uma questão de afinidades electivas.

terça-feira, setembro 18, 2007

Afinal, não há bruxas - II

Afinal, nada de mais.
Apenas, sem combinação prévia como ficou demonstrado, dezenas de funcionários da CMS escolheram ausentar-se dos seus postos de trabalho sem a devida autorização. Como toda a normalidade, se verificou que a pena para tal procedimento era a reforma antecipada. Um castigo justo para tão grave falta.

Eu gostava muito que um dia, à minha escolha, alguém me disciplinasse desta maneira.
É um desejo masoquista, eu sei. Mas desde que me tornei pagador dos salários da função pública e da suas regras disciplinares, que o sado-masoquismo me é familiar.

Afinal, não há bruxas

RSO:
Depois de arquivado, por falta de provas, o processo do Ministério Público (MP) relativo às reformas compulsivas na Câmara de Setúbal, a presidente da autarquia, Maria das Dores Meira, espera agora que, «com a maior brevidade», a investigação da Inspecção-geral da Administração do Território (IGAT) sobre o caso tenha idêntico desfecho.
(...)
A última é aquela que pode levar à dissolução da Câmara(...) Ainda assim, recorde-se, o responsável máximo da IGAT, Raul Melo dos Santos, decidiu em sentido contrário [ao relatório dos inspectores da IGAT], enviando para a câmara uma proposta de dissolução.
(...)
O Ministério Público conclui agora que todos os trabalhadores que faltaram injustificadamente “não violaram deveres inerentes aos cargos, com excepção do dever de assiduidade, cuja relevância é meramente disciplinar”, lê-se na notificação de arquivamento. “Por isso mesmo foram objecto, de acordo com a lei, dos respectivos processos disciplinares”, acrescenta.

É por isso possível afirmar que “os elementos recolhidos não permitem concluir que tivesse existido entre qualquer dos trabalhadores e qualquer dos responsáveis camarários, designadamente presidentes e vereadores, qualquer combinação, acordo, promessa, incentivo ou, como impressivamente se referia na comunicação social ‘esquema relacionado com as faltas, respectivos procedimentos disciplinares, propostas de sanção e respectivas decisões’”.

sábado, setembro 15, 2007

Pelos Balcãs





















Kotor (Montenegro)

Videoclip Lounging

(#) livros que não mudaram a minha vida

Caro João,
Companheiro de outras paragens, desafias-me então para elencar quais os livros que não mudaram a minha vida.
Caro amigo, temo desiludir-te.
Poucos livros me disiludiram ao ponto de se terem tornado insignificâncias lembradas. É preciso que primeiro tenham tido algum significado, para que depois possam desiludir. É como concordar que só os que nos são próximos e caros, nos podem magoar.
Ou não...?

Viagem no tempo.
Agradecimento renovado à Biblioteca da Gulbenkian em Odemira. E já agora aos Senhores meus Pais, que nunca me recusaram um tostão sempre que lhes pedia para o gastar em mais um livro. E esses gastos inconscientes podiam em alguns casos ter tidos consequências desastrosas. Quiçá, até para a Humanidade.
Por esses dias, deu-se-me na cabeça (e no coração), apaixonar-me pela História, especificamente pela Arqueologia.
É triste, não é? Um puto, pré-adolescente, mais interessado nas histórias da família Leaky e quejandos que em andar à corrida atrás de uma bola. Fruto das mãos largas dos meus progenitores, lá apareciam os livros sobre as explorações das cidades bíblicas, as descobertas no Rift Valley, as cavernas onde os nossos antepassados europeus garatujavam.
Esses livros podiam ter feito estragos, mas não fizeram. Durante alguns anos, à parva pergunta sobre o que queria ser quando fosse grande, respondia "arqueólogo", espantando a audiência (quer pela ignorância sobre a resposta quer pela desilusão com o falhanço educacional do casal Silva). Tenho a certeza que a Humanidade agradece a materialista mudança da adolescência.

Mas a coisa podia ter sido ainda mais grave.
A exposição precoce a certos livros pode ter consequências assaz funestas, digo-te eu.
Um chavaleco pode ver-se-lhe alapar na cachimónia que também é capaz de escrever contos tão bons ou melhores que as histórias das colecções de aventuras ou policiais ou sci-fi ou cauboiadas ou... que lia. Pfffff... Aquilo era fácil de fazer! E dava idéia que ainda pagavam aos autores! Vêem? Já lá estava o bichinho materialista.
As más influências ajudam. Lembra lá a alguém que hajam professores de português que em vez de classificar os TPC de ficção, escrevam notas a pedir que se lembre deles quando publicar o primeiro livro? Uma vergonha para a classe profissional. Compensada apenas pelo facto de ser novinha e fazer topless na praia, o que potenciou a importância das suas palavras. Hormonas, 'tás a ver?
Mas a História... Bom, acabei por me curar. Mais ou menos (fazer as cadeiras todas de História Económica da "fac" é coisa de quem não tem os 5 alqueires bem medidos).
A mudança de paragens fez-me mudar as minhas ambições científicas e literárias (na minha cabeça, ambas estavam ligadas).

Aqui faço um interregno temporal.
Lembro as colecções completas de BD que li e que nunca me fizeram querer ser desenhador. Mesmo um adolescente ambicioso sabe os seus limites. Lamento dizer mas não me influenciaram nada (não sendo crente, posso mentir sem pecar, não é?). As prateleiras e caixotes que tenho delas, dão testemunho do seu fracasso. O facto de hoje ter ficado embasbacado a ver o Tintin na TV deveu-se apenas à sonolência matinal, nada à paixão que tenha por tal bonecada. E ainda dizem que o gajo era facho e racista e mais não sei quê. Nããã... Nenhuma influência nem importância na minha vida. Ou o Maltese. Ou o Obélix (um favorito da minha barriga, o que só por si o desqualifica, óbviamente). O Luke. Ainda poder-se-ia pensar que fumo por causa dele ou que bebo por causa do Archibald Haddock ou que se gosto de cogumelos é por causa do conde Pacôme Hégésippe Adélard Ladislas. Mas não. Nada lhes imputo.

E de repente, há 23 anos (ah sim! sei exactamente quando foi!) no primeiro dos meus "teen years", o 1984.
Lixei-me. Aí tive de ceder. Havia ali qualquer coisa. São momentos de fraqueza que não gosto de recordar. Fiquemos por aqui.

Tempus fugit.
E depois do Orwell, houve outros que não deixaram marcas. O facto do Graham Greene ter escrito prolificamente, mostra que é perigoso deixar livre essa gente com a mania de passar aos outros as histórias que passam na sua cabeça. Livros como "Nosso Homem em Havana" ou o "Comediantes" o "Americano Tranquilo" ou todos, todos eles, não conseguirão nunca mudar a vida de alguém.

Mas um livro, um só, que nunca mudou a minha vida ou não ficou para sempre na milha alembradura? "Memórias de Adriano". Alguém mudaria de vida por causa daquilo? Que faria um tipo? Enlouquecia e passava a comportar-se como um imperador romano? Não, claro que não. Por isso: nenhuma influência, nenhuma mudança. Nem levando com uma "Obra ao Negro" por cima da caixa craneana, a Marguerite Cleenewerck de Crayencour mudou um pouco a minha vida. Até que porque um nome destes não ajuda nada.

Outro que não mudou um milímetro da minha vida, foi um tal de Tom Sharpe. Sinal do meu desepero. À procura dum livro que mudasse a vida, um homem tenta tudo. Até a literatura "não séria", aquela que os senhores barbudos, de cachecol traçado (do ter traças) e sacola de cabedal ao ombro nunca leriam. Porque a vida se lhes muda a cada novo livro, não concebem a necessidade de tais literaturas, de tais deseperos.
Sharpe é um claro idiota, escrendo idiotices ainda maiores. Mas eu tentei. Juro que sim. Tentei-lhe todos os livros. Todos. Ainda o ano passado tentei o último. Nada. Nada de mudança. Nota-se aliás. Alguém nota em mim alguma idiotice que lhe possa, ainda que de forma remota, ser apontada? Claro que não; infelizmente nada lhe devo. Nem mesmo o reforço do Woody Allen, que enquanto não clarineta ou filma, também escreve, me tornou mais idiota. Isso de achar que só com humor se deve olhar a vida, parece-me parvoíce alheia e não contagiante. Nope. Nenhuma influência.

Tempus fugit.
Um gajo cresce e procura outras drogas. Leva umas bofetadas do Faulkner (um tipo desregulado da cabeça, que inventava territórios com famílias e seres humanos sózinhos consigo mesmo) e fica a pensar: porra! nem assim vou mudar um pouco. Nada me demove da minha insensibilidade às palavras destes autores. Os tais que é um perigo deixar que imprimam tais palavras, tais histórias.
Como sou um homenzinho crescido (o 1984 foi em 1983), leio coisas de gente crescida. O que por vezes pertuba a minha família e amigos (será que lhes muda a vida?). "Que interesse tem, leres essas coisas? Para qu'é que isso serve?"
Têm razão.
O Mises é uma seca, o Hazlitt é um tolo e o Bastiat devia beber mais que a conta. Mas só para ter a certeza que os fulanos não tinham razão nenhuma e nenhuma mudança lhes era devida, insisti. Mais uns quantos indignos individuos que lhes concordavam nos pensamento, ajudaram a nada me mover. Nada mudou. Aliás, vê-se que o país concorda abragentemente comigo e, mudar, tá quieto ò preto.

Caro João, como vês, não é compreensível o teu pedido, o teu interesse em saberes que livros não mudaram a minha vida (por oposição aos que teriam mudado). Um livro é lá coisa para mudar a vida de alguém?
Ainda se fosse uma mulher, o seu amor, um seu sorriso, o seu odor ou toque. Isso sim. É coisa para alavancar a Terra e mudá-la para o outro lado do Sol.

Um abraço,
Luís Silva

sexta-feira, setembro 14, 2007

Querida Wendy


Após as férias, cinema sob o signo do dogma.
Sim, fui ver último filme de Thomas Vinterberg, Querida Wendy, que tem a colaboração de Lars Von Trier, autor do argumento.
Temos universo de uma pequena localidade mineira americana, Estherslope, onde um grupo de jovens decide ter existência à parte, forjando um clube dandy
Dick, o protagonista, era um rapaz demasiado frágil para poder trabalhar nas minas. Vivia em desajustamento, mas conservava bem presente a leitura de o Retrato de Dorian Grey, (Oscar Wilde). Cultivava também ideias pacifistas.
É Wendy quem vai despoletar a mudança na existência de Dick. Wendy, ao contrário do que poderíamos supor, não é uma rapariga, mas sim uma arma de fogo; à primeira vista, uma pistola de brincar.
Enamorado de Wendy, Dick depressa junta à sua volta alguns jovens e cria, numa mina abandonada, o clube dos dandies, onde o amor pelas armas se irá fundir com a filosofia pacifista. Como era de prever, o amor pelas armas irá prevalecer e toda esta história acaba por ter um fim trágico, com tiros e mortes exibidas à maneira de um western pop (a música dos The Zombie, banda britânica dos anos sessenta, é neste filme presença incontornável). Lá está a obsessão de Trier pela América profunda, na sua relação umbilical com as armas (tal como em Manderlay, segunda parte da triologia americana de Trier, que não chegou às nossas salas de cinema). Só que isso não basta para fazer de Querida Wendy um objecto à parte no universo do cinema dogma. Longe da excelência de A Festa.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Imagens














Ilha de Pag (Croácia).

Boa notícia cinematográfica

Via AF:
O Freeport, em Alcochete, reabre as portas dos seus cinemas na próxima quinta-feira, dia 20 de Setembro, em parceria com a UCI Cinemas.

Normalidade




Retorno à normalidade, ao trabalho que foi o que homem achou de melhor para nada fazer da sua vida.
Imagens, impressões de viagens. Somos movidos por um obscuro desejo de renovação, a promessa de um qualquer recomeço, um tempo de mudança, mas que é tão-só interlúdio; breve interlúdio.
Turista por terras dos Balcãs, por países saídos da defunta Jugoslávia que outrora era união dos povos eslavos do sul. Não podia faltar Sarajevo, uma Sarajevo que parece querer recuperar a sua identidade cosmopolita. Belas esplanadas e cafés, as ruas convidativas do Bašcaršija (bairro turco). Nem sombra de segregação entre Ocidente e Oriente. Na Sarajevo de hoje, celebra-se a vida. Infelizmente, já não cheguei a tempo de espreitar o festival de cinema da cidade.
Saudades de Sarajevo e das águas da costa da Dalmácia.

terça-feira, setembro 11, 2007

E vão quatro...

"Everybody knows they have times when they wanna just lay back
kick their feet up, y'know
listen to some good music and just lounge."

Loungin - Jazzmatazz (Guru)

In Memoriam