A ver vamos se terça-feira é mesmo a consagração de Barack Obama, que soube gerir com mestria todas as incidências desta dura campanha.
Bom orador, inteligente e seguro nos debates, podemos dizer que Barack Obama não deu um passo em falso ao longo da corrida eleitoral. McCain e a sua "vice", Sarah Palin, pouco mais tiveram do que as tradicionais questões dos impostos e do governo federal; do que as alusões à natureza socialista do candidato democrata que quer subtrair a riqueza aos americanos para "a distribuir ou espalhar por aí"; que quer impor médicos às famílias americanas, restringindo a liberdade de escolha destas.
McCain não era suficientemente conservador, isso mesmo foi dito numa entrevista pelo presidente George W. Bush, logo após a nomeação daquele. Para suprir esse défice, McCain escolheu para "vice-presidente" uma mulher de perfil conservador, uma mãe de família profundamente anti-aborto, enfim, alguém capaz de arrebatar a direita religiosa do Partido Republicano. Parecia ser uma jogada de fino recorte político, atendendo ao fenómeno Palin então gerado, mas a crise financeira veio alterar os dados da equação. Aparentemente, McCain viu fugir-lhe parte não despicienda dos republicanos moderados e não logrou penetrar no eleitorado independente.
Barack Obama, um homem de esquerda (é ver o seu plano de saúde, ou a veemente denúncia do iníquo sistema fiscal de Bush, que ao invés de gerar riqueza agravou as injustiças), parece pois ter caminho aberto para a Casa Branca.
Mas é recomendável alguma prudência: um olhar atento
às sondagens em vários estados, que poderão vir a ser decisivos, revela um estreitar das distâncias entre os candidatos, com McCain a recuperar na Virgínia, na Florida e no Missouri, e aproximar-se perigosamente na Pensilvânia. Em todos estes estados, as diferenças reveladas pelas sondagens permanecem dentro da margem de erro. Se Barack perder nestes e não lograr vencer no Ohio, a sua vitória poderá ficar seriamente comprometida. Por outro lado, importa lembrar que nas primárias democratas Hilary Clinton arrecadou por regra a maioria do voto dos indecisos. As sondagens acabaram então por sobrestimar o voto em Obama (não poderá estar aqui o célebre efeito Bradley?). Portanto, é necessário ter cuidado na antecipação da vitória de Obama. Mas se Barack lograr vencer, então um sopro de optimismo percorrerá o mundo. Pelo menos, terá o efeito de um bom antidepressivo. E a consagração de um candidato negro será, sem sombra de dúvida, uma grande vitória da sociedade americana.