sexta-feira, março 31, 2006

Vashti

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Descobria-a pelos Animal Collective e logo me deixei cativar pelo universo pastoral de Vashti.
Vashti Bunyan escrevia poesia e canções no tempo em que frequentava a escola de artes nos anos 60. Acabou expulsa, incapaz de conciliar a paixão pela escrita de canções com a aprendizagem artística que lhe era exigida pela escola.
Nesses anos conheceu o insucesso no mundo londrino da música. Em 1968, decidiu partir.
Com uma carroça, um cavalo, o cão e o namorado rumou às ilhas de Outer Hebrides, na Escócia, para se juntar a uma colónia onde um grupo de artistas procurava criar uma sociedade nova. Um pedaço de utopia.
A viagem durou quase dois anos e no fim Vashti não encontrou “a terra prometida”. Mas dessa viagem pela ruralidade britânica brotaram doze pérolas. Doze canções escritas que, por entre as agruras da jornada, conservaram o sonho. Canções de inocência, bucólicas, delicadas melodias que nos transportam para um outro lugar que eu não sei definir mas que sinto como algo de muito belo.
O mundo que Vashti buscava talvez nunca tenha existido externamente, mas apenas como parte de si. E está materializado nas canções que deram corpo ao álbum “Just Another Diamond Day”.
Se há pureza no ideal hippie, ela está personificada em Vashti.

quinta-feira, março 30, 2006

A sesta "goes home"

A primeira Conferência Nacional da Sesta decorre sábado em Estremoz, em pleno Alentejo, para destacar os seus benefícios para o ser humano e o seu contributo para uma melhor qualidade de vida.

Instado a comentar a realização de tal reunião, um habitante local mostrou-se preocupado:
"Nã sê se temos chaparros que cheguem p'rá sesta de tanta genti. Calhando, tem que s'atenchar pr'aí umas sombrinhas. Ou atão arrimam-se uns ó's outros."
Entendo-lhe a preocupação.
O que vale é que por estes dias não há bolêtas (nem landes) que possam cair e lhes perturbar a sesta.
Perdão. A reflexão.

Mais cartoons

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Este cartoon foi publicado pelo jornal indonésio Rakyat Merdeka (curiosa palavra...), de pendor islamita segundo a notícia do News.com.au. Satirizados são Alexander Downer, ministro dos negócios estrangeiros australiano e o primeiro ministro John Howard ("I want Papua!! Alex! Try to make it happen!"). Eis o comentário de Downer:

"You can publish cartoons which are tasteless and grotesque, but you are free to do so, and Indonesia is a free and pluralistic society," he [Downer] said today.
"Obviously, there are standards of public taste which publications are measured against.
"I would have thought those cartoons, in our society, fell way below the standards of public taste. I think a lot of Australians would regard those kind of publications as very offensive.
"But they're free to be offensive in a magazine in Indonesia if they wish to be."
Australia's decision to grant visas to 42 of 43 Papuan asylum seekers has sparked outrage in Indonesia, with nationalists accusing Canberra of secretly plotting the province's breakaway from Jakarta's grasp.
They have likened the situation to the 1999 independence crisis in East Timor.

Na sequência da referida decisão, a Indonésia retirou o seu embaixador da Austrália. Downer disse também que, quando ele voltasse a Canberra lhe perguntaria o que o seu governo poderia fazer para que os jornais indonésios não ultrapassassem a decência.
Se no seu comentário inicial, o ministro esteve bem, já discordo que sugira a outro governo que influencie a sua imprensa. Se há limites à decência, esses deverão ser os impostos pelos editores (de livre vontade) e são demonstrados pelos leitores do próprio jornal se decidirem não o comprar. Finalmente, o ministro australiano tem sempre a hipótese de processar o publisher do jornal, se entender que lhe é devido um reparo.
Texto já colocado no Insurgente.

Mais um humorista odemirense

Parece-me um bocado propagandex, à Socratex, mas se for verdadex, é bonzex.

Depois do falecido Camacho Costa, outro ilustre odemirense dedica-se ao humor. A frase acima é de José Ribeiro e Castro, presidente do CDS sobre as 333 medidas apresentadas pelo PM para desburocratizar a administração pública.

[via Blasfémias]

quarta-feira, março 29, 2006

The Black Dahlia

O filme de Brian de Palma, baseado no livro de James Ellroy ("LA Confidencial", "O Grande Desconhecido") está quase a sair.
Apresento-vos "Kay Lake", a personagem de Miss Scarlett.

750 anos

O concelho de Odemira comemora este ano a passagem de 750 anos desde a atribuição do seu primeiro foral:

O Foral de 28 de Março de 1256 veio estabelecer o equilíbrio entre os diferentes grupos sociais dominantes saídos da reconquista e define os limites territoriais de Odemira, que se mantiveram sem grandes alterações até ao período liberal. No séc. XIX, o concelho absorveu outras localidades como Vila Nova de Milfontes, Colos, Santa Clara-a-Velha, S. Martinho das Amoreiras e Vale de Santiago, ficando com os limites que tem actualmente. O foral constituiu o primeiro acto legislativo da administração régia depois da reconquista. Em 1510 D. Manuel concedeu foral novo a Odemira, no âmbito da reforma foraleira que fez a actualização de todos os forais velhos do reino.

terça-feira, março 28, 2006

The Alentejo will be televised

A revolução tecnológica passa pelo alentejo.
Online: Tv Beja e na Tv Alentejo

(via Blasfémias)

Serviço a que público?

Ontem à noite, tinha eu acabado de ver o parlamento inglês explodir em grande estilo, cheguei a casa e tive a infeliz ideia de ligar a TV na RTP 1.
Lá estava a senhora dona Fátima (como o seu estilo teria sido apreciado nos anos 50...) e os seus convidados para mais um xaroposo Prós & A Favor.
A coisa já ía a meio e Manoel de Oliveira ainda tinha de ir para casa. Para o Porto.
Na bancada dos A Favor, Paulo Branco começou a falar. E não se calava. A senhora dona Fátima sorria e tentava que a racha do vestido não proporcionasse um momento de "candid TV". O senhor Branco, se bem percebi, gostaria de ser o Programador Em Chefe da RTP e demais grupos estatais de comunicação, informação e formatação cultural do público. Ele é que sabia o que fazer com o dinheiro dos contribuintes e estava em campanha para nos educar. Como os ouvidos me começavam a doer, por conta do apocalíptico discurso, desliguei o aparelho.
É incrível como caí nesta de zappar pelo Prós & A Favor.
É incrível como sou obrigado a pagar por isto.

Sexiest

Scarlett Johansson foi escolhida pelos leitores da FHM para encabeçar a lista das "100 Sexiest Women in the World":
"It's remarkable how Scarlett Johansson has caught the attention of our readers," said Scott Gramling, the magazine's U.S. editor in chief, in a statement. "Her sultry voice and striking beauty certainly have a lot to do with that, but so does the confidence she exudes."

"She seems to be one of those women who would be equally at ease on the red carpet as she would just hanging out with the guys."

John Hurt

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Em 1984 e 40 anos depois.
Do outro lado da barricada.

V for Vendetta

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“Uma revolução sem uma dança não vale a pena ser feita.”

segunda-feira, março 27, 2006

Dever de Resposta

À pergunta do Bruno, deixo a resposta ditada pela voz da Experiência.

"Não sei."


Entretanto, já mandei calar a Experiência e vou eu mesmo pensar numa resposta adequada. Logo te a dou, Bruno. Depois da minha senhora a rever e autorizar a sua divulgação.

Visto

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Nenhum ser humano é só aquilo que cada um dos outros vê nele em cada momento. Nenhum ser humano é apenas mais um de uma categoria. Cada ser humano é um indíviduo, capaz de agir diferentemente de outro e de acordo com as circunstâncias.
É na ligação entre esses seres humanos, desiguais entre si e em cada momento, que surgem as colisões.

Leituras recomendadas

Na sua coluna semanal, o congressista Ron Paul dirige-se aos seus compatriotas. No entanto, facilmente podemos estender as suas palavras ao que ocorre noutros países e os seus conselhos aos cidadãos, políticos e governantes de outras democracias representativas.

sexta-feira, março 24, 2006

Só mais esta...

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As habituais fotografias de membros do belo sexo que costumam abrilhantar este modesto weblog, são hoje substituídas pela foto de uns moçoilos bem fornecidos de cojones.
Obrigado.
Escusavam de me terem feito sofrer tanto.
Seus sacanas.
Obrigado. Já tinha dito?

A sequela

Parece-me, claramente, "Oscar material"...

Velha Europa

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Old Europe

Le Chat qui Peche,
Rue de la Huchette.
Paris at night,
and the strains of a ghost saxophone.
Juliette and Miles
Black and white city.
Paris by night,
and the ghosts of two people in love.
I'll be dreaming again,
always dreams of yesterdays.
Those days live on,
safe here in my heart.
Cherchez la femme,
slips through a doorway,
out of the night
to the warmth of a new lover's arms.
Rue St Benoit.
La route enchantee.
Indigo nights,
and the ghost of the moon in the Seine.
I'll be dreaming again,
always dreams of yesterdays.
Those days live on,
safe here in my heart.

Robert Wyatt, in Cuckooland.

Vitória Futebol Clube

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Ontem, no Bonfim, voltámos ao Jamor.
E se tudo correr bem, à UEFA.

quinta-feira, março 23, 2006

Símbolo nacional

Os governos europeus têm promovido a noção de "campeões nacionais".
Empresas que é preciso proteger a todo o custo, tal a sua importância para a soberania nacional. Algumas dessas empresas são mesmo encaradas como símbolos nacionais. Por vezes, são as empresas a pagar o preço desse simbolismo. O que fazer, então, quando um desses símbolos é usado por uma agência da ONU como exemplo de racismo? Aconteceu à dinamarquesa Lego:

The poster shows what looks like one of the company's famous building blocks. It reads "Racism takes many shapes" and shows a picture of a jigsaw puzzle next to a red brick.
It was launched by the UN to mark the International Day for the Elimination of Racial Discrimination.
"We feel that the message of this poster can be interpreted as if we are a racist company," Lego spokeswoman Charlotte Simonsen said.
"I don't know if that's what's intended, but it's definitely one way of interpreting it."

Example
Por coincidência, o cartaz foi tornado público depois da crise dos cartoons que levou aos ataques às embaixadas europeias, a muitas bandeiras dinamarquesas queimadas e à exaltação da rua islamita. A ONU já pediu desculpas pela má interpretação que o poster teve.
Texto já colocado no Insurgente.

quarta-feira, março 22, 2006

Brokeback Mountain



“Brokeback deu-nos forte e feio, não?”
O reencontro quatro anos depois da idílica Brokeback, por entre a virilidade dos abraços e da luta, Jack (Jake Gylllenhaal) e Ennis (não vou esquecer a personagem interpretado por Heath Ledger) dão largas ao desejo, numa das mais belas cenas do filme, plena de amor e ternura.
O segredo de Brokeback Mountain tem a força e o lirismo dos grandes westerns (embora numa versão mais moderna e num tempo mais próximo do nosso), as marcas da paisagem (os grandes espaços) e os códigos masculinos intrínsecos a este género cinematográfico. Talvez isso explique a boa recepção do filme em lugares do interior americano, no coração conservador dos “Estados vermelhos” (republicanos), onde talvez as gentes mais se identificam com este imaginário.
Há um lado crepuscular, Jack e Ennis são como que anti-heróis, personagens à deriva, desajustados num mundo onde os interditos sociais pesam sobre o desejo de união; Mas é também um mundo em declínio e do qual os protagonistas são parte inseparável (por este prisma lembra os Inadaptados de J.Huston)
Eu confesso que fiquei rendido à beleza deste filme; a esta forma de filmar o amor e o desajustamento.

Trampolinada (The return of)

Há uma nova polémica sobre o MIT, desta vez envolvendo dois ministros que têm versões diferentes sobre o mesmo tema.
Primeiro, disse o ministro da Economia que não existe um acordo entre o Governo e o Instituto Técnico de Massachussets, apenas um protocolo.
Depois, o ministro da Ciência e Ensino Superior, à RR, garante que esse acordo existe.

Lembram-se da irritação pública de Sócrates com a pergunta, feita por um ex-responsável por chocar tecnologicamente o país, sobre a eventual descoordenação inter-ministerial neste assunto?
Noutros tempos isto seria mais uma trampolinada. Na realidade não deve passar, provavelmente, de uma questiúncula sobre quem vai receber os louros e a quem vai caber distribuir as benesses dos possíveis projectos que o MIT venha a implementar. E tudo ainda não passa de intenções.
Mais um exemplo da vontade que os ministros sempre mostram de deixar obra feita.

Texto Já colocado no Insurgente.

Adenda: Na caixa de comentários do Insurgente, o Dos Santos sugere a leitura deste esclarecimento do MIT.

Tort law

O Ministério da Justiça quer que o cidadão possa não só pedir indemnizações ao Estado, mas também a funcionários públicos, sempre que haja um incumprimento legal que lhe crie prejuízo. É a proposta de lei da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado (...)
A maior novidade é o alargamento da responsabilidade aos funcionários.(...)Agora, a culpa do Estado é sempre presumida e cabe-lhe provar o contrário.

[RR]
Não me parece nada mal a clarificação dos procedimentos para que os cidadãos possam ser compensados por prejuízos causados pelos serviços do estado. O que me preocupa é saber que não existem intenções políticas claras de diminuir a presença do aparelho público e dos seus poderes de intervenção. Sem isso, não se diminui o risco de um dos seus agentes decidir ou actuar de forma a que mais tarde o estado seja considerado culpado de causar prejuízos aos cidadãos ou empresas (como no caso da AirLuxor). E já sabemos de onde virá o dinheiro que o estado poderá pagar como indemnização.

Texto já colocado no Insurgente.

terça-feira, março 21, 2006

Serviço ao público de rádio

As rádios do Grupo Luso Canal (de Luís Montez) já têm emissão online. Estas três já estavam memorizadas no carro e agora estão também na pasta de Rádio dos Favoritos:
Rádio Radar

Rádio Oxigénio

Rádio Marginal

Três anos de Iraque

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Três anos passaram de uma intervenção militar assente no primado da guerra preventiva e num unilateralismo avesso às instâncias internacionais de mediação dos conflitos, eis os eixos da política externa americana no Iraque.
A revolução democrática que iria mudar a face de todo o Médio Oriente (como nos tinham prometido os ideólogos neoconservadores) não se deu. Em vez disso, um Estado falhado ou em colapso e a irrupção sectária nas terras da antiga Mesopotâmia.
Pouco importa qual o limiar da guerra civil, o quotidiano dos iraquianos é hoje feito de atentados mortíferos, da arbitrariedade das milícias ou da incapacidade das forças ocupantes em garantir a segurança.
Os estrategos americanos tinham, como é sabido, previsto um cenário idílico quando dos preparativos da invasão: os soldados seriam recebidos com flores pelo povo iraquiano enfim liberto do jugo de Saddam Hussein; o pentágono contava retirar a maioria dos seus militares lá para o fim de 2003, deixando atrás de si uma democracia em florescimento.
Não contavam como uma insurreição prolongada num contexto urbano, pesadelo de qualquer exército, nem com a espiral de violência étnica que assola o país.
Mais do que incúria, o logro dos americanos é o mesmo em que caíram os ingleses em 1917.
Se há algo de bom a retirar desta triste aventura é o facto de ter servido para demonstrar os limites da hiperpotência, obrigando os responsáveis americanos a descer à terra, como se prova pelo discreto multilateralismo a que se têm remetido na crise do programa nuclear iraniano.
O regime dos aiatolas é talvez o maior beneficiado da empresa militar americana, tem caminho aberto para vir a ser a nova potência regional, depois do desastre iraquiano, país onde hoje uma coligação de partidos religiosos xiitas é força dominante, e vê a sua oposição reformista diminuída. Para tal desfecho, os mullahs em muito contaram com a preciosa, mas involuntária, ajuda dos políticos de Washington.

segunda-feira, março 20, 2006

Visto(s)

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O primeiro porque queria ver se havia por ali um filme ou apenas uma boa campanha de marketing. Demorou um bocado, pelo menos metade do filme, mas depois lá se justificou a ida ao cinema. Gostei mais de Heath Ledger do que de Jake Gyllenhaal. Mas nada de piadas sobre o uso do verbo "gostar"...
O segundo porque sim. Porque gosto deste tipo de cinema fantástico e porque a Kate Beckinsale é uma vampira lindíssima.

A arte da opinião insurgente

Serve a presente posta para dar conta que na página 29 da revista Dia D (Público) de hoje poderão encontrar o texto "Uma mina de ouro" (sem link) sobre "Sistema Social" (corrigido), escrito por António Amaral, co-autor d'A Arte da Fuga e d'O Insurgente.

sexta-feira, março 17, 2006

Uma questão de maiúsculas

Era tudo uma questão de maiúsculas, foi o que me disse, ao telefone e depois de uma longa espera, uma voz feminina vagamente sensual das finanças (sinal de modernidade?), quando já tinha esgotado quatro das cinco tentativas permitidas para entrar no sítio da DGI com a senha que me fora enviada.
Reconfortado pela doce voz que dissipou o desânimo, lá remeti, com sucesso, a minha declaração de IRS.
Acabou o tempo da info-exclusão.

Paris em revolta II

Pelo teu post, o Estado-providência tem de facto as costas largas e o peso do determinismo na explicação dos comportamentos individuais, no caso as manifestações de indignação.
Os jovens viveriam então no conforto e na protecção desse mesmo Estado, tolhidos pelo medo da mudança e, por isso mesmo, incapazes de compreender a bondade das medidas governamentais. Ou seriam “facilmente arregimentados”. Por quem? Pela extrema-esquerda, claro está.
Além disso, perpassa o subtexto do empresário incansável criador de riqueza por contraponto ao trabalhador “improdutivo”, peça tornada inútil na engrenagem capitalista... A realidade a preto e branco.
As manifestações talvez exprimam a recusa de um mundo onde não há escolha possível, para além do desemprego ou do trabalho sem direitos à mercê das idiossincrasias do empresário. Desempregados ou trabalhadores no fio da navalha, em todo caso cada vez mais nas margens de uma sociedade cada mais polarizada.
É a sociedade refém do ethos capitalista, naquilo que este tem de pior, o pesadelo de um futuro assente somente no primado do lucro.
No ideário liberal deste nosso admirável presente, a ética parece ser apenas atributo de capitalistas, a quem deveríamos agradecer a riqueza criada e a nossa condição de felizes consumidores.

Natalie

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Miss Portman protege alguns veneráveis escritos.
Não vá aparecer por aí nenhum activista tresloucado...

Les uns et les autres - II

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Em França os jovens manifestam-se por causa de legislação que pretende facilitar o acesso ao mercado de trabalho.
O facto é que o actual modelo (semelhante ao resto da Europa) prevê a protecção dos que já têm emprego, mesmo sendo improdutivos e causando ineficiências na economia, em detrimento de quem está de fora. Ou seja, desempregado. É o modelo actual que permite este "garrote" à contratação de jovens (ou não jovens) não permitindo a flexibilização no acesso ao mercado de trabalho.
Como explicar, então, as razões destes contestatários? Para começar, o medo do desconhecido - cresceram filhos do estado social, da sociedade com emprego para todos e para toda a vida, das garantias impossíveis de cumprir e que muitas vezes estão embutidas na legislação (até nas constituições). Depois, porque cada vez que algum governante altera esse sistema de garantias (que a realidade demonstra não serem possíveis de cumprir) causa a imediata reacção de quem desconfia que quem governa tem como objectivo último tramar os trabalhadores em benefício dos capitalistas, essa raça alienígena que ameaça a humanidade.
Os mais emocionalmente fáceis de arregimentar e levar a demonstrações públicas de descontentamento são os jovens adultos e adolescentes. Poucos tiveram alguma vez de assumir responsabilidades pelo caminho que escolhem seguir (na formação e na profissão) e pelas consequências das suas atitutes. Antes atribuiem aos governantes a obrigação de tudo preparar para lhes dar a vida segura, confortável e ao abrigo de incertezas que o estado socialista, que os seus doutrinadores lhes venderam, lhes garantiria. A demonstração do falhanço desse modelo, do não cumprimento dessas expectativas e a sua comparação com outros onde a responsabilidade individual é maior (com uma consequente maior liberdade de contratação no mercado de trabalho) não os demove. Infelizmente para todos nós.
Texto já colocado no Insurgente.

Les uns et les autres - I

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"É proíbido proibir os estudantes de estudar"

Nem todos alinham nos bloqueios, nas ocupações ou nas destruições de livros.

Paris em revolta

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Paris e a revolta, uma vez mais.
Centenas de milhares de estudantes nas ruas em manifestação contra o Contrat Premiére Embauche (CPE), que consagra a precarização do trabalho para os jovens com menos de 26 anos de idade.
O diploma em causa institucionaliza a insegurança no trabalho, ao permitir ao empregador rescindir sem justificação nos dois primeiros anos do contrato.
Dizem-nos que a escolha é entre o trabalho precário ou o desemprego, em França com forte incidência na população mais jovem em idade activa.
A revolta é a expressão desse impasse, e a violência será inversamente proporcional à falta de interlocutores entre os actores políticos da esquerda, partidos e sindicatos. E não vejo nestes nem energia nem talento para enquadrar a insatisfação dos jovens e traduzi-la pelos canais do debate político.
Muitos comparam a revolta ao Maio de 68. Eu não creio. Vejo uma diferença abissal entre o optimismo radical desses jovens soixante-huitards e a desesperança dos estudantes de hoje (como entender a destruição de livros na Sorbonne?).
Resta-nos a rua. A rua que em França faz cair os governos...

quinta-feira, março 16, 2006

Mai' nada!

"já só falta um jogo para ouvir de novo a Tuna Sadina cantar o Rio Azul no Jamor"

João de Deus, preparador físico do Vitória de Setúbal

O sorteio ditou que na próxima quinta feira o Vitória Sport Club visita o Bonfim.

A minha coluna favorita

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Caro Marvão, isto é quão longe vou, em termos anárquicos.
Mas vou com gosto.

Um herói anarquista

quarta-feira, março 15, 2006

A Taça ainda é nossa!

Rock Star

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Via NYT:
Davis, who died in 1991, was finally unsentimental about jazz, yet he respected many of its forms. With rock he could be more instinctive, brusque, shocking, mystifying, wasteful. With "In a Silent Way," from 1969, he did want his music to sound "like rock."
Miles Davis passou, desde ontem, a fazer parte do Rock and Roll Hall of Fame.

Com o dinheiro dos outros, tudo é possível - II

Ainda sobre a visita dos deputados bloquistas ao Bairro da Bela Vista (e que poderia servir de exemplo aos deputados dos outros grupos parlamentares), via RSO:
(...)a participação e interesse pelas actividades e progressos dos filhos fica muito aquém do desejável e Solange Delicado [presidente do conselho executivo da Escola 2/3 Ana de Castro Osório] não tem dúvidas de que muitos estão matriculados «apenas para garantir o rendimento mínimo» às famílias.

terça-feira, março 14, 2006

Com o dinheiro dos outros, tudo é possível

O deputado do Bloco de Esquerda Fernando Rosas aproveitou a visita de ontem à Bela Vista, em Setúbal, para defender a "implosão progressiva" do bairro e o realojamento das populações que ali vivem em locais mais humanizados e com melhores condições.

[DN, via Insurgente]
Escreve o BrainstormZ no Insurgente a propósito desta sugestão de Fernando Rosas para o bairro com a melhor paisagem de Setúbal:

Claro que o dinheiro para tal empreendimento será confiscado a cidadãos que poderiam querer usá-lo para viverem em "locais mais humanizados e com melhores condições"...

Nem mais, caro Bz. Mais ainda tendo em conta que a conduta cívica de muitos dos que habitam neste bairro não promove o espírito solidário nos demais cidadãos.

Os "Core Businesses" estatais

A administração do Hospital de Santa Maria vai privatizar, através de parcerias público-privadas (PPP), a maioria dos serviços da unidade.
(...) a gestão do Santa Maria apenas se ocupará do "core business", ou seja, consultas, cirurgias e cuidados continuados.(...)De acordo com a mesma fonte, as mudanças permitirão à unidade hospitalar poupar cerca de 53 milhões de euros a partir de 2008.(...)
Para o presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa(...)"O investimento privado permite aquilo que com os recursos do Estado, de imediato, seria complemente impossível de executar".

[RR]
São de saudar estas decisões. Menos saudações merece a lógica e os conceitos que continuam a manter que o SNS, universal e de contribuição mandatória, faz parte da missão do estado. Os cuidados de saúde não deveriam ter no estado a importância que numa empresa se atribui ao "core business". As actividades estatais nesta área deveriam ser restringidas à prestação de cuidados ou apoios aos que pelas vicissitudes da sua vida não podem preparar e segurar para si os custos com os serviços médicos que venham a necessitar. Mesmo isto não implica a existência de uma gigantesca estrutura própria, podendo esses serviços serem prestados por entidades privadas (nacionais ou não) .
Numa empresa, um "core business" estável e gerador de fundos, permite o investimento em novos áreas de actividade ou permite o reinvestimento, melhorando as performances futuras. Nada disto acontece com a intervenção do estado na saúde. Pelo contrário. Os recursos que são mal aplicados neste sector fazem falta noutros onde o estado deveria ter outra eficiência e eficácia. Falo, por exemplo no "core business" que devia ser a justiça.

Texto já colocado no Insurgente.

O Som no Office

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In a Silent Way - Miles Davis

Em 1969 foi registado um disco que abria portas para o resto da música que se seguiu. Três pianistas (Hancock, Corea e Zawinul) e um jovem guitarrista (McLaughlin) marcam o disco. O soprano de Shorter e os pratos de Williams ajudam.
Miles a todos une.
Um disco especial, para ouvir várias vezes seguidas.

segunda-feira, março 13, 2006

O leopardo

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Foi um fim de tarde de Domingo sob o signo da aristocracia e da dança…Talvez a mais sublime das danças.

Milosevic

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Num julgamento que ameaçava eternizar-se, o cenário temido por muitos acabou por consumar-se, Slobodan Milosevic morreu sem conhecer o veredicto do Tribunal Penal Internacional de Haia para a ex-Jugoslávia.
A causa da justiça internacional alicerçada no primado dos Direitos Humanos é uma causa nobre e as tiranias deste mundo não podem ficar eternamente blindadas pela soberania nacional. Mas este processo nasceu torto, contaminado pelos maniqueísmos do Ocidente.
A loucura identitária, a espiral de violência étnica que assolou a região, tinha para os políticos e os media apenas um rosto. O rosto de Milosevic.
Não pretendo alijar responsabilidades ao líder sérvio, que fez da ideologia nacionalista instrumento privilegiado da sua ascensão ao poder. Não esqueço a revogação da autonomia de que desfrutava a província do Kosovo (herança de Tito) e as perseguições aos albaneses; não esqueço Vukovar nem Srebrenica. Mas também não esqueço Franjo Tudjman e a expulsão dos sérvios da Krajina, ou as atrocidades perpetradas pelos muçulmanos bósnios e o papel de Alija Izetbegovic . A tragédia jugoslava teve também outros carrascos.
Ao encarnar a culpa em Milosevic e no povo sérvio, o Ocidente prestou um mau serviço à causa da justiça global, no caso da Jugoslávia cada vez mais a assume a forma da justiça dos vencedores.
Eleger, entre povos arrastados para um conflito étnico e que buscam num passado feito de ressentimento a legitimação para a violência presente, vítimas de um lado e algozes do outro, é um exercício político redutor e a prazo fonte de novos conflitos.

Visto

Example
Finalmente visto.
A história agarra o nosso interesse até ao momento em que os créditos finais aparecem. Ao procurar justiça para os seus actos, o personagem interpretado por Jonathan Rhys Meyers, procura também desmentir a sua falta de Fé. Sem justiça, o vazio da Fé vai manter-se.
Scarlett Johansson aparece definida nas palavras da sua personagem. É sexy (muito mesmo) sem ser bela (apesar de o ser).

A importância da Cultura e do ensino para as artes.

António Barreto, sobre a importância da cultura e as limitações de uma educação meramente técnica para a formação dos indivíduos:

Quem, em Portugal, quer dar alguma formação artística (e já agora cultural…) aos seus filhos tem de recorrer a escolas privadas, cursos de fim de tarde e nocturnos ou qualquer outra solução.

Na verdade, os programas e currículos oficiais não consideram as artes como matérias essenciais. Não Há professores qualificados, os que existem não tem, eles próprios formação suficiente. As disciplinas artísticas, de estudo ou de expressão, não estão organizadas como sendo elementos essenciais do currículo, com carga horária obrigatória e possibilidade de escolha entre opções, com provas e exames. No furacão da formação profissional e da aprendizagem para o emprego (com, aliás, muito reduzida eficácia), perderam-se a cultura e as artes como contributos indispensáveis para a formação das pessoas. Ao conferirem o privilégio às disciplinas técnicas e práticas, com uma aparente preocupação de igualdade social, as ideologias dominantes acabaram por produzir o mais perverso dos resultados: as diferenças culturais entre classes são definitivamente mais radicais do que as diferenças técnicas. Por outro lado, do ponto de vista do emprego, que tanto parece preocupar as autoridades, as artes e a cultura, tanto nas suas versões eruditas, como nas modalidades de massas, são hoje factor de criação de emprego e riqueza.

António Barreto, in Público, 12/03/2006

sexta-feira, março 10, 2006

28

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A requintada electrónica das terras do sol nascente.

Cavaco e Sócrates.

Há a expectativa, largamente difundida entre os portugueses (a avaliar pela sondagem publicada ontem na SIC, se não estou em erro), de que Cavaco será um presidente “mais interventivo” do que o seu antecessor, Jorge Sampaio.
O discurso da tomada de posse privilegiou as questões do emprego e da economia, embora não esquecendo também a justiça e a reforma do Estado. Vai de encontro às preocupações dos portugueses. E além disso são questões de governo
Muitos realçaram, neste discurso, uma convergência com a agenda governamental do Eng. Sócrates, prenúncio de uma estreita colaboração institucional. Salientaram também a semelhança de perfis, ambos de pendor tecnocrático. Eu, aqui neste ponto, discordo profundamente, pois se o Prof. Cavaco Silva encarna o mito lusitano daquele que vem de fora, legitimado pelos títulos académicos, para pôr “ordem nos assuntos da política” (sucedeu exactamente o mesmo com o Prof. Oliveira Salazar, salvaguardando diferenças e tempos históricos) , já Sócrates é aquilo a que poderíamos designar de “político profissional”, com carreira inteiramente feita nas concelhias e distritais do partido até chegar a primeiro-ministro.
Esta diferença parece-me fundamental, visto que os portugueses, na sua maioria, olham com desconfiança os políticos profissionais (não será isso um sintoma do nosso atraso histórico, na medida em que por essa Europa fora não rareiam os homens comuns, políticos de formação, e que deram bons governantes ?) e valorizam demasiado os títulos académicos/profissionais, como se isso fosse condição primeira para o bom exercício da política.
Portanto, Cavaco tem uma importante vantagem simbólica sobre Sócrates, que poderá fazer toda a diferença. E, além disso, este último carrega o ónus das promessas não cumpridas.
É claro que subjacente a tudo isto está ideia de que o presidente tem uma agenda política própria, fruto do sufrágio universal e directo, e que não é a “Rainha de Inglaterra”.
E em Cavaco parece até haver um agenda moral, na figura de Sir João Carlos Espada.
Tempos interessantes...

quinta-feira, março 09, 2006

O Primeiro Post

Em tempo de Cavaco.
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Faltam (também) as boas maneiras

O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda saíu do Parlamento sem apresentar cumprimentos ao novo Presidente da República.
Não estiveram sózinhos: também o conselheiro de estado e ex-Presidente, Mário Soares e Senhora fizeram o mesmo.
Adivinho que muitos baterão palmas e cumprimentarão Francisco Louçã por esta grandiosa atitude de não submissão e a Soares... enfim,... acho que ninguém lhe baterá muitas mais palmas...

Quotas no parlamento

Ontem ouvi o Primeiro Ministro dizer que estava a pensar impor, por via da lei, as quotas de mulheres nos grupos parlamentares. E como justificação disse que as mentalidades só se mudam por via da lei.
Eu nunca fui muito favorável ao sistema de quotas, quer seja de mulheres, licenciados, homens, não licenciados, do interior, do litoral, sei lá. Sempre fui de opinião que as pessoas estavam na política porque gostavam e ocupavam os cargos por mérito. E também penso que devemos alterar as mentalidades dando o exemplo.
O governo não pensa assim, pensa que devemos alterar as mentalidades pela lei. Eu comprrendo porquê. Em 16 ministros 2 são mulheres e em 35 secretários de estado são 3. é Mais fácil escrever na lei que dar o exemplo, não é?

quarta-feira, março 08, 2006

Co-incineração

Agora que o processo de queima de resíduos industriais na Secil parece atingir a fase de concretização, foi reactivado o Movimento de Cidadãos pela Arrábida. O ex-candidato ao munícipio de Setúbal pelo BE antecipa as formas de luta (via RR):

"Pensamos que faria sentido apresentar uma providência cautelar [para impedir a co-incineração de resíduos industriais perigosos] enquanto não se resolve a questão da impugnação do estatuto do Parque Natural da Arrábida", disse o médico João Bárbara, um dos activistas do movimento.
"Percebemos agora que a exclusão da cimenteira da Secil, no âmbito do Plano de Ordenamento da Arrábida, foi feita de forma capciosa, para poder mais tarde vir a acolher a queima de resíduos perigosos"

Por outro lado, os Verdes planeiam apresentar uma queixa em Bruxelas por causa da co-inceneração decorrer numa área protegida. Este argumento parece-me um pouco frágil, uma vez que a acontecer, decorrerá no âmbito da actividade normal de uma cimenteira há muito instalada na Serra da Arrábida.
Há um ano atrás, o agora deputado por Setúbal e na altura cabeça de lista do PS, António Vitorino dizia que a co-incineração de resíduos industriais perigosos não viria a acontecer num governo PS (apoiando até o fim das operações da Secil, no âmbito da requalificação ambiental da Serra). Para mais, recordava ele, a própria empresa desinteressara-se do recurso a esse sistema (o mesmo foi referido pela Comissão de Acompanhamento Ambiental da Secil-Outão e em comunicado do ministério do Ambiente).
Seria um bom exemplo de comportamento parlamentar que o deputado Vitorino esclarecesse os seus eleitores sobre o rumo que a co-inceneração irá tomar. Infelizmente não tenho esperança que tal aconteça. Depois da figura de corpo "não-presente" que fez durante a campanha autárquica do PS (era candidato à assembleia municipal de Setúbal), duvido que ele se interesse muito por assuntos que afectem a cidade.

Recordações

Ontem, o regresso de Paulo Portas à ribalta, na Quinta-feira a tomada de posse do prof. Cavaco Silva.
Lembrei-me logo da irreverência do primeiro Independente, quando muitos de nós, no espectro da esquerda, aguardávamos ansiosamente pelo próximo número e pelo próximo escândalo do cavaquismo, num tempo em que a oposição partidária definhava e se falava da “mexicanização” do país.
É sabido que hoje os tempos são outros e que a história só se repete na fórmula de Marx (primeiro como tragédia, depois como comédia); que Cavaco deixou de ser um pai severo e que o Paulo assume uma pose de estado em tudo distinta da idade de ouro do Independente.

terça-feira, março 07, 2006

Ghost in the Shell

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Não é regra científica, apenas intuição do senso comum, mas a exposição prolongada à blogosfera comporta riscos inimagináveis.

The Lord of the Medals

Cavaco Silva vai amanhã almoçar a Belém, véspera da tomada de posse, com Jorge Sampaio.
Servirá o repasto, em privado e longe do rebuliço solene da sessão na AR, para Sampaio entregar a Cavaco a chave do armário onde estão as restantes medalhas e condecorações junto com a lista da meia dúzia de portugueses ainda não comendados?

segunda-feira, março 06, 2006

Coisas soviéticas outra vez

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Hoje ao fim da tarde, lembrei-me deste filme, Quando passam as cegonhas, de Mikail Kalatosov; da sua atmosfera impregnada de romantismo, da sua deslumbrante fotografia e dos belíssimos planos do par amoroso junto à ponte.
Mas é um filme sob o signo da separação que a guerra traz, ou de como as nossa vidas íntimas são coisas quase imperceptíveis diante das convulsões da História.
De uma beleza trágica.

VISTO II


Fui ao cinema na expectativa de ver o Boa Noite, e Boa Sorte, mas como o horário do filme não era compativel com o meu, acabei por ver Match Point.
Tinha ouvido dizer que era o melhor filme de Woody Allen dos últimos anos, e fui nessa expectativa.
A verdade é que até ao meio o filme decorre como uma banal história de amores e desamores, mas de repente... e aí terão de ir ver. Vale a pena.

Visto

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A expectativa que me levou ao cinema era grande. Tudo o que tinha lido sobre a interpretação de Philip Seymour Hoffman, faria com que olhasse para o filme não como quem quer ser entretido durante uma hora e meia, mas com o olhar avaliador de quem se interroga se todo o "buzz" criado à volta da sua personagem se justificava.
O actor, que desde há muito faz parte da minha lista de mais valias em qualquer projecto, conseguiu impressionar-me. Uma interpretação que vai aos limites das fronteiras com o "overacting", sem nunca lá pôr um pé. Um exercício ao alcance de poucos.
Ou seja, um óscar bem entregue.
Para mais, um filme que inclui o lindíssimo "It's Easy to Remember" do John Coltrane, tem logo uma estrela extra nas minhas contas...

sexta-feira, março 03, 2006

Jornais antigos. Ou como é difícil tomar uma decisão

Não sei se foi por apego àquele tempo presente, mas lá por casa foram-se acumulando os suplementos de música Pop-Rock e Sons, do Público, bem como quase todos os números do semanário “Já”, de que era ávido consumidor enquanto o projecto, de fugaz existência, durou.
Sabemos que os jornais, talvez mais do que outros artefactos da nossa época, sofrem a erosão do tempo, e o simples gesto de os folhear pode tornar-se uma coisa ingrata , quase nos antípodas do prazer. Mesmo assim, a ideia de me desfazer deles assumia foros de heresia; como se alguma parte de mim estivesse contida nas capas ou nos artigos daqueles jornais.
Agora,que tomei a decisão de tudo mandar para a reciclagem, sou novamente assaltado por dúvidas. Há uma parte de mim que resiste.

Eva

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Mademoiselle Green será Lynd; Vesper Lynd.
Bond que se cuide.

Discordo

O LT que me desculpe, mas vou usar o mesmo título do post dele. Via PD:

Depois de Telmo Correia ter considerado o Ministério dos Negócios Estrangeiros um «embaraço» e de Freitas do Amaral ter «vergonha de ser ocidental e de viver em democracia» e «sofrer de um complexo de esquerda», o ministro reagiu voltando-se para o deputado centrista afirmando que este «precisava de umas aulas de boa educação». Mais: «Só espero que sinta remorsos para o resto da sua vida. Porque eu lutei, quando o senhor ainda não era nascido, pela democracia e liberdade em Portugal. É preciso topete!».(...)
Freitas do Amaral afirmou ainda que, nesse dia, escreveu uma carta ao seu homólogo dinamarquês manifestando a solidariedade do Governo para a violência sentida neste país da EU. Por isso, frisou o ministro, «não me pareceu que fosse necessário, para consumo interno, falar no problema da violência». Contudo, «era preciso realçar a ideia de que o Islão tinha sido atacado».

O Sr. Prof. considera, portanto, que recriminando em privado a violência (em termos que desconhecemos) já estaria em posição de publicamente dar voz ao horror e choque que lhe causou o tal ataque ao Islão. Não considera o Sr. Prof. que o "consumo interno" dos eleitores da A.R., onde estava a falar, merecia conhecer a sua posição de desaprovação dos ataques às embaixadas, por exemplo. De facto, não mereceremos que perca o seu tempo a explicar-nos tais minudências.
A reafirmação de tal desprezo bem como o apoucamento dos valores e direitos (os tais pelos quais lutou) que permitiram a realização das manifestações contra os cartoons Europa fora (ao contrário das perseguições sofridas por quem os ousou publicar) teve o total apoio do primeiro ministro. A conclusão é simples e óbvia: a posição do Sr. Prof. é a mesma do primeiro ministro. Caso contrário já o teria demitido.
Se não votei no partido que deu origem a este governo por não me sentir representado pelos seus valores, decididamente ainda me sinto menos representado por este ministro e por quem o segura no lugar.
Texto já colocado no Insurgente.

O Orientalismo

Arthur James Balfour, ilustre político conservador do início do século passado, proferiu, em 13 de Junho de 1910, na Câmara dos Comuns um discurso intitulado “Os problemas que enfrentamos no Egipto”. Deixo aqui dois excertos deste discurso para assinalar equivalências com a nossa contemporaneidade:

Em primeiro lugar, observemos os factos deste caso. As nações ocidentais, a partir do momento em que nascem para a história, dão testemunho da sua capacidade de autogestão […] por méritos próprios […] Podemos olhar para toda a história dos orientais, na região que conhecemos como Oriente, e não encontrar quaisquer vestígios de autogestão. Todas as grandes épocas - e foram de facto muito grandes - floresceram sob o despotismo, sob governos absolutos. Todos os seus grandes contributos para a Civilização – e foram de facto grandes – foram realizadas sob essa forma de governo. Um conquistador sucedeu a outro, um império sucedeu a outro; mas nunca, em nenhumas das revoluções do destino e da fortuna, terão visto uma dessa nações estabelecer aquilo a que, do ponto de vista ocidental, chamamos autogestão.

É bom para estas grandes nações – admito a sua grandeza – que esta gestão total seja exercida por nós? Julgo que sim. Acredito que a experiência nos mostra que com este governo conseguiram o melhor governo de todos os que tiveram lugar ao longo da história do mundo; facto que não os beneficia apenas a eles, mas a todo o Ocidente Civilizado. […] Estamos no Egipto não apenas para o bem dos egípcios, anda que lá estejamos para bem deles; estamos no Egipto para bem de toda a Europa.
Edward Said, in Orientalismo.

A parte que destaquei a bold tem como fim realçar analogias com o discurso dos neoconservadores americanos. Estes estão no Iraque para “praticar o bem” e para “servir a causa da democracia e do mundo civilizado”. A lógica é a da imposição ao outro, “o oriental”.
Poderíamos parafrasear Marx, dizendo que a História se repete, primeiro como tragédia, depois como comédia, se o Iraque actual não fosse uma tragédia.

quinta-feira, março 02, 2006

O ocaso dos neoconservadores

Francis Fukuyama é um autor que me dá voltas ao estômago (um pouco à semelhança de alguns pratos, da nossa lusitana cozinha, a que sou avesso), mas ainda assim não resisto a citar este artigo que versa sobre os enganos e limites dos neoconservadores:

How did the neoconservatives end up overreaching to such an extent that they risk undermining their own goals? The Bush administration's first-term foreign policy did not flow ineluctably from the views of earlier generations of people who considered themselves neoconservatives, since those views were themselves complex and subject to differing interpretations. Four common principles or threads ran through much of this thought up through the end of the cold war: a concern with democracy, human rights and, more generally, the internal politics of states; a belief that American power can be used for moral purposes; a skepticism about the ability of international law and institutions to solve serious security problems; and finally, a view that ambitious social engineering often leads to unexpected consequences and thereby undermines its own ends.

The problem was that two of these principles were in potential collision. The skeptical stance toward ambitious social engineering — which in earlier years had been applied mostly to domestic policies like affirmative action, busing and welfare — suggested a cautious approach toward remaking the world and an awareness that ambitious initiatives always have unanticipated consequences. The belief in the potential moral uses of American power, on the other hand, implied that American activism could reshape the structure of global politics. By the time of the Iraq war, the belief in the transformational uses of power had prevailed over the doubts about social engineering.

Um presidente mãos largas

A seguir às eleições presidenciais, Vital Moreira lamentava que um economista plebeu e tecnocrata sucedesse ao aristocrata Jorge Sampaio.
De facto o ainda presidente da república tem feito o possível para ser recordado como um monarca do séc. XIX. Lembram-se da frase "Foge, cão, que te fazem barão! Mas para onde, se me fazem visconde?"?
A multitude de condecorações concedidas nos últimos tempos pela presidência deveria despertar nos recipientes alguma desconfiança oitocentista quanto à qualificação honorífica que tal prodigalidade instititui.
Se é o mérito excepcional que deve ser reconhecido por uma condecoração, então esta massificação de reconhecimentos não pode ser vista a não ser sobre a óptica socialista, numa tentativa para redistribuir aquilo que se vê como uma benesse pelo maior número de cidadãos que conseguir. A todos prover com uma medalhinha, dando curso à função estatal de indicar modelos de vida e cometimento ao bem comum.
Nos dias que faltam até à sua saída de Belém antevê-se um esforço derradeiro, mas díficil de ser bem sucedido, para atingir o record estabelecido pelo grande pai do socialismo português.
Texto já colocado no Insurgente.

Novo blog

Ali à direita, mas integrando a equipa da esquerda, o novo blog de Filipe Moura: "o Avesso do Avesso"

Broken Flowers

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Um envelope cor-de-rosa escrito a tinta vermelha, é o que basta para um homem se fazer à estrada.
Delicioso o último filme de Jarmush, embora nele perpasse muito desencanto e também alguma crueldade (que dizer da antiga namorada hippie, que Don Johnston/Bill Murray encontra transformada numa insípida agente imobiliária).
A paisagem tem as marcas da América profunda.

quarta-feira, março 01, 2006

Visto

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Bill Murray reafirma-se como o rei do "cool" cinematográfico.
Para Jarmusch os aplausos de saber contar esta história.
Boa banda sonora.
Grande filme.
Imperdível.

O que fazer num dia de Carnaval, para quem nao quer entrar nas festas carnavalescas?
A minha opção foi visitar a Quinta da Regaleira em Sintra, onde o divino e o profano se cruzam, a religião com a maçonaria. Um local a visitar

Parabéns!

O Blasfémias completa dois anos.
Espera-se a continuação de excelentes postas!