sexta-feira, outubro 30, 2009

Jon Hassel - Sons do 4.º Mundo


Umas notas soltas sobre o concerto de Jon Hassel no Teatro Maria Matos.
O inventor de novas geografias musicais, traduzidas na expressão 4.º. Mundo, trouxe consigo músicos de proveniência e linguagens várias. Da Noruega vieram Jan Bang, excelente na manipulação dos samplers, e Eivind Aarset na guitarra e no baixo, mais discreto mas não menos eficaz. Da Argélia veio o violinista Kheir-Eddine M´Kachiche, que impregnou a sala de atmosferas do Oriente. Juntamente com o compositor e trompetista Jon Hassel, eles formam o grupo Maarifa Street, projecto musical que ainda não conhecia e de que tomei contacto no concerto (o disco, esse, já o tenho encomendado).
Jon Hassel ofereceu-nos uma só peça ao longo de uma hora e pouco de música. Foi uma peça feita de alguma contenção em registo de ambient music, mas com momentos mágicos. O trompete de Hassel remetia-nos ora para o futuro ora para tempos ancestrais. E dos samplers e dos laptops saíam sons de sabor minimalista, bem temperados pelo calor emanado do violino de Kheir-Eddine M´Kachiche.

No fim do espectáculo, Jon Hassel agradeceu os aplausos do público, mas reconheceu, num gesto que só atesta a sua grandeza de espírito, que o concerto não tinha corrido como esperava. Reconheceu fragilidades, numa música que, como ele bem frisou, não tem páginas escritas. É com a vida: nunca se sabe aonde é que ela nos leva, porque o futuro é um lugar incerto.
Eu, pela minha parte, digo que foi um privilégio ter assistido ao concerto de Jon Hassel. Na primeira vez em que ele esteve entre nós.

quinta-feira, outubro 29, 2009

Leituras sobre Carris



Da Democracia na América - Alexis de Tocqueville

quarta-feira, outubro 28, 2009

Da formação de uma deputada comunista

Só para recordar as palavras da deputada Rita Rato, eleita pelo PCP. Palavras que não podem de deixar de ser referenciadas ao PCP e às suas posições sobre os mesmos temas.
Via CM:
- Mas se falarmos de atropelos aos direitos humanos, e a China tem sido condenada, coloca-se essa não ingerência na vida dos outros partidos?
- Não sei que questão concreta dos direitos humanos...

- O facto de haver presos políticos.
- Não conheço essa realidade de uma forma que me permita afirmar alguma coisa.

- Mas isto é algo que costuma ser notícia nos jornais.
- De facto, não conheço a fundo essa situação de modo a dar uma opinião séria e fundamentada.

- No curso de Ciência Política e Relações Internacionais, não discutiu estas questões?
- Não, não abordámos isto.
(...)
- Como encara os campos de trabalhos forçados, denominados gulags, nos quais morreram milhares de pessoas?
- Não sou capaz de lhe responder porque, em concreto, nunca estudei nem li nada sobre isso.

- Mas foi bem documentado...
- Por isso mesmo, admito que possa ter acontecido essa experiência.

- Mas não sentiu curiosidade em descobrir mais?
- Sim, mas sinto necessidade de saber mais sobre tanta outra coisa...
Sim, parece-me bem que tem muito a aprender. Mas enfim, aos esquerdistas a falta de formação tudo desculpa. Até a falta de memória e de respeito por muitos milhões de mortos por delito de opinião.
Talvez possa começar por este livro:


Já agora, a Assembleia para onde foi eleita votou em 2008 um voto de pesar pela morte do autor do livro e prémio Nobel, Alexander Isayevich Soljenitsin.

terça-feira, outubro 27, 2009

Do PC e do Estalinismo. E da Rita Rato

Cada vez mais se perde o rigor com as palavras. Palavras que perdem a sua significação original para vaguearem ao sabor das modas ou conveniências. O que se entende afinal por estalinismo? Será que já nos esquecemos de que o PCP fez a denúncia do estalinismo durante o V Congresso do Partido, no longínquo ano de 1957?
Poderíamos, em jeito de adenda, recordar um excerto da célebre entrevista de Oriana Fallaci, em que esta acusa o dr. Cunhal do pecado do estalinismo, ao que este retorquiu dizendo não perceber por que razão a jornalista o identificava “com esse período negro do comunismo soviético”. Está na capa de edição do Círculo de Leitores, Oriana Fallaci – Entrevistas com a História. Certo que Cunhal repudiou tal entrevista, mas não foi por causa da questão do estalinismo que à época pouca expressão tinha. Foi por outras coisas.
Em suma, em bom rigor é errado falar do PCP como um partido estalinista. Mesmo em relação à União Soviética houve denúncias do sistema que aí vigorava em congressos passados. As mais vigorosas no tempo em que Carlos Carvalhas era Secretário-geral do Partido.
Porém, permanece um mistério por desvendar o porquê de os deputados e dirigentes do PC se deixarem enredar por estas questões, vulgo, estalinismo e gulags, em vulgares entrevistas. Feitas por vulgares jornalistas. O porquê de não serem assertivos na denúncia de tais crimes do passado e para os quais os comunistas portugueses regra geral não contribuíram.
Agora foi a (bela) Rita Rato que, perante as perguntas da praxe, hesitou, preferindo refugiar-se em “não-ditos”. Não acredito que se tenha tratado de uma questão de ignorância. Não embarco nesse tipo de ingenuidade. Porém não compreendo.

DocLisboa- Irão I


Vários filmes provenientes ou centrados no Irão estiveram em destaque na edição deste ano.
Consegui ver dois destes filmes, Bassidijs, de Mehran Tamadon, e Green Days, de Hana Makhmalbaf.
O primeiro é um olhar sobre o universo dos Bassidjis. Os bassidjis são as milícias populares do regime iraniano, criadas no início da revolução islâmica e que desempenharam papel de relevo durante a guerra Irão-Iraque. Guerra longa de oito anos, causada pela agressão dos exércitos de Saddam Husseim.
Hoje, dedicam-se à promoção dos valores islâmicos e à prevenção do vício. Estão disseminados pelos bairros das principais cidades. Estão nas mesquitas, nas escolas, nas universidades e nos principais edifícios públicos.São, em suma, um dos pilares do regime dos mullahs. Um instrumento da repressão social.
Mehran Tamadon é um iraniano exilado em França, filho de um antigo militante comunista que combateu o regime do Xá Reza Pahlevi. Ateu confesso, esteve três anos entre os bassidjis, para melhor conhecer as motivações e o pensamento dos mais devotos apoiantes do regime islâmico. Seguiu três bassidjis, com destaque para o carismático Nader Malek, que geria um editora de propaganda religiosa. Não obstante as profundas diferenças ideológicas que separam os dois homens, pressente-se que há um sentimento de proximidade, talvez até de cumplicidade, que muito contribuiu para fazer deste filme um objecto singular.
O documentário começa em ritmo de entrevista, com a recolha de testemunhos dos Bassidijs: primeiro no grande memorial a céu aberto, junto à fronteira com Iraque, onde jazem os mártires da guerra, depois em Teerão, durante as cerimónias religiosas que recordam o martírio de Hossein (a Ashura); e por fim na casa dos livros, sede dos Bassidjis. Mas a entrevista depressa cede lugar ao debate, quando o realizador confronta os membros da milícia com testemunhos anónimos, gravados, entre os quais sobressai o de uma mulher, bastante crítica, que se refere aos bassidjis como pessoas que “nunca nos olham nos olhos”, que preferem desviar o seu olhar de nós. Este testemunho causou perturbação entre Malek e os restantes bassidjis presentes na editora. Hesitam…Por fim respondem que o olhar de uma mulher “pode mudar um homem, independentemente das convicções religiosas”. Que importa por isso tomar precauções para não sucumbir ao poder inscrito no olhar de uma mulher.É um momento marcante deste magnífico documentário que soube tão bem devolver-nos o olhar dos bassidjis.
Mehran Tamadon não é observador neutro, toma parte activa no debate, no questionamento dos pontos de vistas dos bassidjis. E o documentário acaba em dialéctica.
No debate que se seguiu ao documentário, o realizador disse acreditar numa via reformista para a democracia no Irão. E isso não se faz sem conhecer a mentalidade do Outro.

Uma estranha aliança

Chegam-me rumores (são isso só) que uma aliança muito pouco natural se prepara na eleição para a presidência da Assembleia Municipal cá do burgo.
Não serei o primeiro a defender o PCP (que venceu as eleições) mas não deixaria de ser estranho que se desse tal concordância entre partidos tão díspares (ou assim creio) para derrotar o PCP.
Vamos a ver o que os próximos dias trarão de desmentido ou de confirmação destes rumores.

Ainda não esqueci que o PCP demitiu Carlos Sousa sem ter dado cavaco aos seus eleitores; digamos que há partidos com telhados de vidro quanto a práticas que não vão de encontro às escolhas dos votos. Seria agora curioso que uma aliança (que à partida me parece pouco natural) viesse a originar resultados não antecipados pelos dirigentes do PCP.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Uma boa medida da dimensão da iliteracia em Setúbal

quarta-feira, outubro 14, 2009

CDU em Beja e Setúbal - Caminhos rumo à vitória e à derrota

Falando da CDU nas autárquicas, Setúbal e Beja revelam tendências de sinal contrário mas com resultados paradoxais.
Começando por Setúbal, a Coligação Democrática Unitária regista uma quebra ligeira, quer em número de votantes quer em percentagem dos votos expressos (38,83% nesta eleições; 40,39% em 2005), mas consegue mesmo assim a maioria absoluta de mandatos na Câmara Municipal, que não detinha em 2005 (4 Vereadores da CDU contra 5 da oposição).

Já quanto a Beja, a CDU regista um aumento do número de votantes (embora descendo em percentagem de votos, que ainda assim é mais alta do que a verificada em Setúbal) e no entanto acaba por perder a Câmara Municipal que detinha desde que o poder democrático de Abril instituiu a democracia local. Ou seja, a boa votação do PC, para utilizar uma linguagem pura e dura, não impediu uma pesada derrota autárquica. Digo pesada não pela dimensão dos números (diferença entre PS e CDU até foi curta), mas sim pelo que Beja representa no imaginário comunista. É pois uma dura perda para a Coligação Democrática Unitária.
Tanto em Setúbal como em Beja, há um terceiro actor que voluntária ou involuntariamente contribuiu para aqueles resultados. Trata-se, evidentemente, do PSD, que vê o seu eleitorado pulverizado em Beja (perde o vereador, passa de uma votação na casa dos 17% para uns reduzidos 4,98% de votos) e Setúbal (recua de três para um vereador). Em Beja, o eleitorado do PSD engrossou a votação socialista, permitindo ao PS ganhar a Câmara. Em Setúbal, a transferência do eleitorado social-democrata para o PS e o CDS criou o quadro da maioria absoluta da CDU agora existente; bastaria o PSD não ter perdido tantos votos para o CDS, ou ter feito uma coligação com este partido, para continuarmos com uma maioria relativa no executivo camarário setubalense.

Jerónimo de Sousa falou em acordo tácito entre o PS e o PSD, no que toca à Câmara de Beja. Talvez assista alguma razão ao Secretário-geral do PCP. Contudo, não é de excluir que o desnorte que afecta o PSD tenha redundado em mais uma “não candidatura”, como sucedeu em Setúbal. É que o desnorte não grassa apenas na direcção nacional, mas também está patente na ligeireza com que algumas concelhias escolhem os candidatos às câmaras municipais.

P.S. Em Baleizão ainda mandam os comunistas.

Setúbal - Número de Mandatos nas Assembleias de Freguesia

terça-feira, outubro 13, 2009

Parabéns ao Sôr Presidente

O Ricardo Oliveira, o meu comunista favorito e estimado comentador deste espaço, vai ser o novo Presidente da Assembleia Municipal de Setúbal.

Ó Ricardo, eu não sei se o cargo tem direito a tal, mas se precisares de um "No-man" para te assessorar não te esqueças aqui deste munícipe. Também sei tirar fotocópias e desenrasco-me a tirar cafés.

A sério: sinceros parabéns pelo resultado. Sabes bem que o muito que nos divide é bem menos que a nossa amizade.

O Bloco de Esquerda nas autárquicas/impressões

Temos de considerar negativo o resultado do Bloco de Esquerda, não obstante o número de mandatos obtidos ter sido superior ao verificado nas autárquicas anteriores. Mas esse crescimento foi de tal forma tímido que quase poderíamos falar de uma progressão marginal: passa de 7 para 9 vereadores nos executivos camarários; de 114 para 139 mandatos nas assembleias municipais; de 229 para 235 nas assembleias de freguesia. Muito pouco, portanto.
Sabemos que o processo de implantação nas autarquias não se faz de um dia para o outro, que é preciso muito porfiar. Até porque o terreno já se encontra ocupado por outras formações partidárias há muito implantadas no poder local, casos dos dois grandes partidos nacionais, PS e PSD, e da CDU, que continua a ter uma importante expressão autárquica (apesar de perdas importantes, como Beja ou a Marinha Grande). Em suma, o processo de implantação será longo e difícil, feito de obstáculos vários.
Só que isso não obsta a que achemos que o Bloco poderia ter feito mais. Basta olhar para Lisboa e o Porto, onde os candidatos eram pessoas conhecidas nos concelhos em que se candidatavam. Certo que a missão de Luís Fazenda era espinhosa por causa da ruptura com Sá Fernandes, que a nosso ver afectou e muito a credibilidade do Bloco em Lisboa. Mas se para a Câmara Municipal até podia ser expectável uma votação mais reduzida, como se explica o recuo nas assembleias de freguesia da capital? E, no Porto, o resultado de Teixeira Lopes, primeiro deputado a ser eleito para a Assembleia da República por este círculo, é assaz decepcionante. Não ter elegido nenhum vereador nestes dois concelhos tem de ser considerado uma derrota, não há como iludi-lo.
Também em Setúbal, a minha cidade, o resultado do BE ficou muito aquém das expectativas. Penso que a concelhia daqui tem de fazer uma reflexão séria. Porque o BE teve nas legislativas um excelente resultado, mais de 16% de votos. Porque noutros concelhos do Distrito de Setúbal, onde a posição do PCP é bem mais sólida, o BE até conseguiu eleger vereadores, casos de Almada, Seixal e Moita. Porque o BE não progrediu em número de mandatos na assembleia municipal e nas freguesias. Nestas até foi ultrapassado pelo CDS, que conseguiu eleger quatro representantes, contra três do BE. Ora a implantação do CDS no concelho de Setúbal é bem mais diminuta do que a do BE. Como explicar então este resultado do Bloco?

P.S. São questões que têm assaltado um simpatizante da causa, longe de mim querer pôr em causa o esforço e dedicação dos que na minha terra foram para o terreno da luta eleitoral.

segunda-feira, outubro 12, 2009

Setúbal - A Assembleia Municipal


















Aqui o cenário é de maioria relativa.

Setúbal - Os Votos e as Percentagens

Setúbal- Câmara Municipal: CDU Com a Maioria Absoluta de Mandatos

















Com um resultado ligeiramente inferior ao obtido há quatro anos (quer em número de votantes, quer em percentagem dos votos expressos), a CDU conseguiu ainda assim alcançar a maioria absoluta de mandatos, ou seja, cinco vereadores.
Este resultado da coligação foi obtido à custa do PSD, que perde dois dos vereadores que tinha, e, também, graças às vicissitudes do nosso sistema eleitoral (o método D'Hondt não é assim tão proporcional, ao contrário do que poderão julgar alguns).
Decepcionante o resultado do Bloco de Esquerda, que pouco progride em relação às últimas eleições autárquicas. Em termos relativos, quem mais cresceu foi o CDS-PP, que faz a sua estreia na assembleia municipal (conseguiu dois mandatos).
Fonte: Stape.

sexta-feira, outubro 09, 2009

9% dos votos

É quanto basta para o Bloco de Esquerda estrear-se na vereação camarária. Já está representado na assembleia municipal e nas freguesias, falta entrar no clube da vereação.
Se tivermos em conta que o BE teve nas últimas legislativas, aqui em Setúbal, mais de 15% dos sufrágios, então sim, é possível.

Folhetos de Campanha, sondagens...

Um folheto vale por mil sondagens.
Sim, há um folheto de cor cinzenta, diga-se desde já que trabalho de profissional, em que um conjunto heterogéneo de personalidades da “sociedade civil setubalense” apela ao voto na candidata da CDU, Maria das Dores Meira.
São artistas, professores, empresários vários, etc., etc., (entre estes está o presidente da SAD do Vitória Futebol Clube), a grande maioria insuspeita de simpatias pelo partido comunista. Alguns deles são mesmo da área do PSD, como é o caso do advogado Fuzeta da Ponte.
Ora, quando uma coligação assim se forma em base de apoio, isso é um sinal inquestionável da dinâmica de vitória de uma dada candidatura. É, em matéria de política local, o melhor dos barómetros. Por isso, é mais do que provável a vitória da CDU nas eleições autárquicas de Setúbal, agendadas para Domingo próximo. E face a tal consenso em torno da candidatura de Maria das Dores Meira, ergue-se o espectro da maioria absoluta. Digo espectro, pois sinto que o poder do executivo camarário (seja qual for força a protagonizá-lo) deve ser temperado por uma maioria relativa. Ou seja, por oposições com poder. Porque sem oposição a democracia fica amputada de um dos seus membros vitais. Isto é ainda mais válido para o poder local do que para o governo nacional.

Democracia Local IV -A Obra/Projecto Urbanístico/Imobiliário

Falo de projectos urbanísticos/ imobiliários que, pelo seu impacte profundo na vivência dos munícipes, faria todo o sentido escrutinar melhor. Falo de obras que pela sua dimensão e natureza estruturante mereceriam uma discussão alargada e outras formas de escrutínio. Que não podem ficar confinadas aos executivos camarários nem aos especialistas. Porque é perigoso deixar aos especialistas o governo das coisas e dos homens, a história do último século aí está para prová-lo.
A política é o lugar das escolhas que vão além dos critérios de natureza técnico-científica. E, no poder local, os critérios de natureza técnica são muitas vezes brandidos para despolitizar o debate sobre as escolhas públicas. Para obscurecer o político, fazendo recuar o espaço da cidadania.
Tais projectos são, muitas vezes, afirmados como um imperativo categórico, espécie de uma única via sem a qual não há futuro para a cidade e o concelho. Assim se procura de deslegitimar a crítica democrática e as escolhas políticas que lhe subjazem. É como se a esquerda e a direita se diluíssem perante a força opressiva da obra ou do projecto imobiliário que vem sempre bem acompanhado da noção de utilidade pública. Ora, isso é o pior que pode acontecer à democracia local que acabará por se tornar mero simulacro. Ou refém dos interesses do betão.

Democracia Local III -Democracia Participativa

Mas nem tudo se esgota na arquitectura do poder do local que é o nosso. É necessário, também, considerar as formas democracia participativa que poderão trazer ganhos em matéria de controlo e escrutínio dos executivos pelos cidadãos. Refiro-me ao instrumento do referendo.
Foi contemplado pelo legislador (Lei orgânica 4/2000, de 24 de Agosto/Regime Jurídico do referendo Local), mas de forma tímida. Existem muitos obstáculos à sua materialização, como se o legislador tudo tivesse feito para que este corpo estranho não se insinuasse no seio dos poderes emanados democracia representativa local. Na prática, trata-se uma lei castradora, pois o veredicto é dado pela assembleia do órgão autárquico (municipal ou de freguesia), que pode sempre vetar a petição formulada por um grupo de cidadãos, independentemente do maior ou menor número destes. Assim, o referendo quase não tem ressonância na vida política local.
As petições, desde que subscritas por um número de eleitores significativo e conformes à lei geral, deveriam ser vinculativas, obrigando os órgãos autárquicos a agendar a consulta popular. Deveriam materializar-se sob iniciativa popular, e não por efeito de acto administrativo das próprias autoridades.
Com a discussão em sede de referendo dos eufemisticamente denominados projectos estruturantes (vulgo, grande projectos urbanísticos), sairiam reforçadas as formas de escrutínio dos executivos camarários. E, com isso, a democracia local ganharia novo fôlego.

ROTFLOL (*)

Barack Obama, que dada a sua provecta idade já teve tempo de escrever 2 autobiografias 2, é o receptor do Prémio Nobel da Paz em 2009.
Segundo o comité, tal acontece "pelos esforços diplomáticos internacionais e cooperação entre povos" que desenvolveu.
 
Isto merecia outra autobiografia.
 
(*) - ROTFLOL - Rolling On The Floor Laughing Out Loud

Democracia local II - Presidencialismo a mais

Longe de mim querer dissecar os males de que padece a democracia local, mas, num registo mais ou menos impressionista, arrisco aventurar-me pelo terreno movediço das causas.
Apontaria, desde logo, a arquitectura do poder local, com a assimetria de poderes entre a Câmara e a Assembleia Municipal, em prejuízo desta última. Diria que há presidencialismo a mais e escrutínio a menos na nossa democracia local. A Câmara Municipal é um órgão executivo colegial, onde estão representados os vereadores eleitos nas listas partidárias mais votadas; é no seu seio que são decididas as questão que dizem respeito à nossa vida enquanto munícipes ou cidadãos. E, neste órgão colegial, as fronteiras entre governo da cidade e oposição nem sempre são claras, o que não contribui para a clareza do debate político ou, melhor dizendo, para a qualidade da democracia.
Com o reforço dos meios de fiscalização e escrutínio ao serviço da assembleia municipal, estou em crer que ganharíamos em vida democrática. É que o grau de representação das opiniões é maior na assembleia, porque sempre podem ter aí voz algumas minorias ou correntes de opinião não representadas na vereação camarária. Ou seja, com o reforço dos poderes da assembleia municipal teríamos mais e melhor debate acerca da cidade que queremos (ou não queremos). E oposições revigoradas também contribuem para o (bom) governo da cidade. Talvez o bom governo seja mesmo indissociável delas.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Do estado da democracia local I

Como estamos em tempo de eleições para os municípios e freguesias que constituem o mapa político-administrativo do nosso país, talvez seja oportuno dizer duas ou três coisas sobre a nossa democracia local, legado da Constituição de República de 2 de Abril de 1976.
Porque falar de democracia local é, também, falar das cidades que temos. Do seu passado e presente, e do queremos que elas sejam no futuro.
A Cidade (Pólis) é por excelência o lugar da política e, portanto, tem de ser um espaço de abertura ao pensamento crítico, divergente, breve, de conflitualidade democrática, não podendo ficar refém de fórmulas consensuais. É do jogo das ideias e das práticas políticas em oposição que nascem as soluções (necessariamente imperfeitas) para os problemas da cidade. Soluções que mais tarde são postas em causa, desconstruídas para dar lugar a outra coisa. Essa deveria a substância da democracia local.
Infelizmente, tal não tem sido atributo da nossa democracia local. Esta não raro tem sido prisioneira de práticas políticas (por exemplo, o caciquismo alastrou, pois só tardiamente o legislador avançou para a limitação dos mandatos) que desencorajam a cidadania. Pelas teias que o poder local vai tecendo, com o betão em pano de fundo, a democracia acaba em mero simulacro.

Sugestões para os candidatos autárquicos de Setúbal - (II)

No seguimento do post anterior, segue mais uma sugestão deste cidadão eleitor para os candidatos autárquicos da cidade do Sado.

Depois das obras do Polis terem refeito a Av. Luisa Todi, houve algo que não mudou. Continua pejada de janados a tentar extorquir dinheiro a quem precisa estacionar no reduzido número de lugares dsiponíveis. Além do mais, são lugares pagos; preço pelo qual nenhum serviço de qualidade é prestado.

A sugestão era que tais seres humanos fossem impedidos de exercer coacção sobre quem receia ter a sua propriedade danificada (riscos no carro, para referir apenas os casos mais leves) ou sentir em perigo a sua integridade física. Estamos a falar de drogados que nalguns casos já perderam completamente o juízo, alguns mal articulam palavras perceptíveis, mas nada garante aos cidadãos desta cidade que não serão capazes de os afligir.

Se a Câmara dispõe dos meios legais ou executivos para a tal prover? Não sei, talvez a criação de uma Polícia Municipal pudesse ajudar nesta área que tão facilmente se liga à pequena delinquência. Tem sido bem provado nos EUA que o combate aos pequenos delitos ou comportamentos atentatórios da propriedade alheia têm resultados significativos a jusante, na criminalidade mais perigosa. Certamente, os nossos sábios políticos locais (ou os seus staffs de cientistas sociais estará a par de tais análises).

Em qualquer caso, exige-se à Câmara que se constitua assistente da PSP na implementação de práticas policiais que devolvam a uma das mais perigosas cidades do país e aos seus habitantes a paz de poderem viver a sua vida sem receios de serem maltratados ou de verem a sua propriedade destruída ou roubada.

Comece-se pelas coisas mais fáceis de resolver. Impedir que a Av Luisa Todi e as demais artérias da cidade sejam sequestradas pelos drogados é uma delas. Claro, faltará provavelmente tê-los no sítio para tal fazer; é sempre preferível contratar mais uns assalariados estatais que criem programas de apoio aos coitadinhos dos janados.

(PS- Para que conste, digamos que tenho uma atitude mui liberal em relação ao consumo e comércio de estupefacientes; a mesma atitude mui liberal que tenho perante a responsabilidade individual).

quarta-feira, outubro 07, 2009

Setúbal - As Três Últimas Eleições Autárquicas

















* 1997 - Agregação dos resultados da UDP e do PSR (Ainda não tinha sido formado o Bloco de Esquerda).
** 2001 - PSD e CDS concorreram coligados.

Autárquicas no Distrito Setúbal- História


A estabilidade do voto nas eleições autárquicas é traço dominante do nosso distrito. Essa estabilidade do voto dos eleitores rima com a hegemonia histórica do partido comunista (FEPU, APU e CDU, as diferentes coligações que o “pc” trajou).
Ainda assim, Setúbal e o Montijo são os concelhos em que a Câmara Municipal mais vezes mudou de mãos; três vezes no caso setubalense, quatro no que ao Montijo se refere.

terça-feira, outubro 06, 2009

Autárquicas: a abstenção em Setúbal


Como estamos em tempo de eleições autárquicas, poderá ser interessante comparar a abstenção em Setúbal (concelho) com a verificada ao nível distrital e do país.
Seleccionámos as últimas três eleições autárquicas para a Câmara Municipal, a saber, as realizadas em 14-12-1997, 16-12-2001 e 09-10-2005.
Primeira constatação, a abstenção verificada, quer no concelho quer no distrito, é maior do que a do país autárquico em geral.
Segunda constatação, para os períodos eleitorais em causa, a abstenção em Setúbal-concelho apenas foi inferior à do distrito em 2001, ano da candidatura de Carlos Sousa, que à época granjeou grande capital de esperança e que acabou por pôr termo ao domínio do partido do socialista na Câmara de Setúbal (o então presidente Manuel da Mata de Cáceres esteve à frente da edilidade durante quatro mandatos, de 1985-01).
O fenómeno da abstenção é complexo e multifacetado, não se prestando a uma leitura linear, ou dito de outro modo, às explicações que comummente são avançadas, como por exemplo, a descrença ou descontentamento dos eleitores em relação ao exercício do poder democrático, neste caso o local e logo o da nossa cidade-concelho.
Por último, tomando como boas as intenções de voto reveladas pela sondagem do Expresso/Renascença, é provável que uma taxa de abstenção superior à verificada há quatro anos atrás catapulte a CDU (cuja vitória é dada como certa pela sondagem em questão) para a maioria absoluta de mandatos no executivo camarário.

Adivinhe-se quem vai receber a conta

O Setubalense (meu destaque):
    "O palacete abandonado na avenida dos Combatentes foi, anteontem, simbolicamente ocupado por militantes e candidatos do Bloco de Esquerda. Albérico Afonso, candidato à presidência da Câmara, anunciou como prioridade a recuperação de habitações degradadas no centro histórico.(...)
 
Diga-se que este palacete, de dois pisos, localizado na avenida dos Combatentes, de esquina com a Rua Aníbal Álvares da Silva, foi edificiado no início do século a mando de uma família proprietária de uma fábrica conserveira. Sofreu a influência do arquitecto Raul Lino, mas está abandonada desde o período do 25 de Abril de 74 e até já funcionou como sede do GDUP, de apoio à campanha de Otelo Saraiva de Carvalho."
 
Suponho que seja aos impostos alheios que os trotskistas, maoistas, enverhoxistas, esquerdistas em geral e demais lunáticos do BE pretendem ir buscar o dinheiro para recuperar este marco histórico da luta revolucionária (incluindo a terrorista).
Podiam aí colocar um museu às vítimas, perdão, aos beneficiados pelas ditaduras assassinas, perdão, democracias populares tão caras aos apoiantes de Otelo e demais terroristas, perdão, heróis.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Prioridade ao Desemprego

Não faz sentido falar em fim da recessão quando o desemprego aumenta ou permanece elevado. Porque, quando falamos de desemprego, falamos da vida das pessoas comuns. Lamentavelmente, a maioria dos analistas regozija-se com umas décimas a mais no crescimento do PIB, esse indicador que mais parece tender para o feiticismo quando na boca dos jornalistas especializados e de muitos economistas de profissão. Diríamos que eles se masturbam com o PIB, mas que recalcam o fenómeno do desemprego.
Paul Krugman, felizmente, parece ter outra visão. Não, a missão não foi cumprida e temos que dar combate ao desemprego. Precisamos de um programa de estímulos públicos para fazer recuar o desemprego, em vez do regresso à ortodoxia do défice mínimo ou reduzido.
Neste artigo publicado no NyTimes, Krugman cita um estudo que nos diz que, face ao crescimento do desemprego, o número de crianças a viver em situação de pobreza tenderá a expandir-se. E as crianças de hoje serão os adultos de amanhã, pelo que importa não esquecer os custos socais futuros associados a essa condição.

Moreover, unemployment that remains that high, that long, will cast long shadows over America’s future.

Anyone who thinks that we’re doing enough to create jobs should read a new report from John Irons of the Economic Policy Institute, which describes the “scarring” that’s likely to result from sustained high unemployment. Among other things, Mr. Irons points out that sustained unemployment on the scale now being predicted would lead to a huge rise in child poverty — and that there’s overwhelming evidence that children who grow up in poverty are alarmingly likely to lead blighted lives.
But can we afford to do more — to provide more aid to beleaguered state governments and the unemployed, to spend more on infrastructure, to provide tax credits to employers who create jobs? Yes, we can.
The conventional wisdom is that trying to help the economy now produces short-term gain at the expense of long-term pain. But as I’ve just pointed out, from the point of view of the nation as a whole that’s not at all how it works. The slump is doing long-term damage to our economy and society, and mitigating that slump will lead to a better future.

P.S. A taxa de desemprego cresce mais do que o esperado, no que aos Estados Unidos diz respeito. Está nos 9,8%.

Vitória por falta de comparência

Sondagem da Rádio Renascença para Setúbal:
 
        "A CDU lidera nas intenções de voto em Setúbal, com uma margem confortável sobre o PS.
A verificar-se a previsão do estudo de opinião (entre 35,8% a 40%), a coligação liderada pelo PCP obterá um resultado idêntico ao alcançado em 2005, apesar de a cabeça-de-lista Maria das Dores Meira ter substituído o antigo presidente Carlos Sousa a meio de mandato.
A candidata socialista, Teresa Almeida, consegue, ainda assim, aumentar bastante a votação do partido no concelho, com um intervalo entre 27,5% a 31,3%.
Em perda está o PSD. A candidatura de Jorge Santana tem entre 15,5% e 17,9% das intenções de voto, quase menos 8% do que há quatro anos.
O Bloco de Esquerda é a quarta força partidária, com um intervalo entre 6,9% a 8,7%, e o CDS fica com o último lugar, com uma votação entre os 4,4% e os 6%.
No que respeita à composição do executivo, a CDU mantém uma maioria relativa com quatro a cinco mandatos, o PS obtém três a quatro, o PSD um a dois e, finalmente, o Bloco de Esquerda entre nenhum e um."

quinta-feira, outubro 01, 2009

Rendezvous Festival Setúbal



O Pedro Baliza teve a amabilidade de mais uma vez me contactar com novidades sobre o festival:

A acontecer de 22 a 25 de Outubro de 2009 nos espaços do Club Setubalense, a segunda edição do Rendezvous Festival Setúbal explorará relações entre o Jazz e a Música Experimental, de Improviso e Electrónica, construindo-se um cartaz que integra participações nacionais e internacionais e que pretende ser plataforma comum a produtores de discurso transversal na área do Jazz.
Também na presente edição, o programa de concertos completar-se-á com um ciclo de cinema que complementa a programação musical, com vista a uma maior envolvência do público no Festival.
Como tal, ao longo dos quatro dias de Festival, passarão pelos palcos de Setúbal os artistas Benôit Delbecq (FR), Sei Miguel (PT), Jason Kahn & Manuel Motal (US + PT), Mikado Lab (PT), These Mountains (UK), Glaciers (UK) e Coclea (PT); e serão ainda projectadas as películas Blow Up, On The Edge e Wild Combination.
Os bilhetes para o Festival já se encontram à venda (disponíveis no site, em Setúbal na bilheteira do Cinema Charlot, Gabinete da Juventude, Loja Coisas de Setúbal e Baco Bar; e Lisboa, na Trem Azul, Louie Louie e Flur), e os preços situam-se entre os 13 euros (bilhete diário) e os 23 euros (passe de quatro dias). Associados aos bilhetes, estão descontos nos transportes da Fertagus e TST, no trajecto Lisboa-Setúbal-Lisboa.
Mais informações podem ser encontradas em www.rendezvousinfo.org ou http://rendezvousfestival.wordpress.com .

Se ainda Houvesse União Soviética...













Esta posta é meio plagiada, acho que fica bem confessar.
Decidi ilustrá-la com uma foto do U2, o célebre avião espião dos americanos, e completei o quadro com um míssil da saudosa Pátria dos Trabalhadores, a União Soviética. Penso que assim não nos escapa nenhum dos actores desta estória feita de escutas e espionagem.
Que falta não faria um desses mísseis soviéticos ao Prof. Cavaco Silva! Com alguma sorte, poderia abater um desses aviões de espionagem que moldaram a nossa imaginação ao tempo da Guerra Fria. Quem sabe se um avião pilotado pelo dr. Vitalino Canas? Ou pelo dr. Vítor Ramalho?
Não haveria prova mais cabal de que São Bento estava a espiar Belém. E o Presidente da República poderia então informar a boa sociedade das perfídias do Partido Socialista e, assim, despedir José Sócrates. Se ainda houvesse União Soviética...

Sugestões para os candidatos autárquicos de Setúbal

No dia da votação para as legislativas, depois de pedir um café ao balcão de uma pastelaria da Praça do Bocage (por sinal, ao meu lado estava Maria Meira), sentei-me na esplanada. Não demorou muito para que um dos muitos pombos, que passarinhava por entre as cadeiras e mesas, resolvesse levantar vôo. Ele e mais uns quantos dos seus companheiros, pelo meio dos clientes, lá foram eles.
Serve esta história para recordar aos candidatos e às suas entourages a praga que se tornaram estas ratazanas com asas. Por todo o lado da cidade se reproduzem e multiplicam (assim se vê a força da palavra de Deus).
A Praça do Bocage e a Praça do Brasil são disso exemplo.
Nesta última até a maldita arquitectura dos velhos prédios que a rodeiam a isso favorece, com as suas varandas quais pombais. Será que os bichos as tomaram por habitação "social"? Será que os comunistas e socialistas que nos têm governado também para a pombalhada aplicam a regra do desrespeito pela propriedade alheia e o direito ao "social" à conta dos outros?
A praça foi transformada num imenso cagadoiro, com um cheiro intenso a merda. Para mais, diariamente há uns quantos cadáveres espalhados pelo chão e que são devidamente triturados pelos pneus dos carros que ali estacionam.
Infelizmente, este exemplo estende-se a outras zonas da cidade: na nóvel Av. Luisa Todi, junto à fonte dos golfinhos, ocuparam a relva e ali estabeleceram uma colónia balnear; nas demais avenidas e ruas da cidade, transformaram semáforos e postes de iluminação em poleiros.
A praga alastrou e nada foi feito nos últimos anos.

Sugestão final: porque não entreter parte da rapaziada da cidade numas belíssimas caçadas à ratazana voadora? Assim sempre davam melhor uso às armas e munições que orgulhosamente costumam exibir aos comerciantes que visitam.