sexta-feira, abril 27, 2007

Perplexidades

É a machete do Diário de Notícias de hoje, os jovens libertários, que na passada Quarta-feira, 25 de Abril, se manifestavam contra o fascismo, pretendiam atacar a sede do Partido Nacional de Renovador (PNR).
Para quem não raro vê estes jovens anarcas nas imediações do Chiado, custa acreditar em semelhante estória. É que não vejo neles o culto do corpo e da violência comum noutras paragens do espectro político; pelo menos em Portugal. Como poderiam eles enfrentar os skinheads, que como sabemos engrossam as fileiras do PNR? Mas bem, o DN já não é o que era, agora o sensacionalismo é quem mais ordena... Nos outros medias mais institucionais, a versão da polícia tem assumido primazia.
Mas parece que o pecado dos jovens foi o de terem graffitado umas montras de bancos. Será que tal delito justifica tão grande aparato policial? Intervenção tão desproporcionado que não poupou sequer alguns inocentes transeuntes? É que não consta que seja crime ser filiado em movimento anarcolibertário.
Deixo a versão do Indymedia:

Mais tarde, após uma manifestação contra o fascismo (quer o “oficial”, da extrema-direita, quer o “não-oficial” do sistema social e económico) – que decorreu pacificamente, sem quaisquer incidentes –, a PSP decidiu cercar cerca de 50 pessoas, que desmobilizavam em grupo. Conforme um relato publicado “Na altura em que estavam os manifestantes a alcançar as escadas por de baixo do elevador de Sta Justa (a meio da Calçada), começaram eles -manifestantes- a fazer meia volta e a correr calçada acima. Alguém os avisou que tinham sido encurralados. E assim foi. Carrinhas com polícias de choque às largas dezenas desceram em grande velocidade o Chiado, selando o alto da rua do Carmo, enquanto outras com igual força e os referidos polícias de choque subiam a rua do Carmo. Estes últimos desceram imediatamente dos carros, ainda antes destes travarem e começaram a correr em direcção aos manifestantes, agredindo-os à bastonada enquanto estes tentavam escapar desesperadamente. Os que estavam perto, meros espectadores ou pessoas que acompanharam o cortejo de lado, ficaram também encurralados (...). Vi polícias em grupos de cinco ou mais «dar caça» na baixa a manifestantes ou outras pessoas. Uma rapariga que ia a fugir, estava diante da Pastelaria Suiça, quando foi agredida, imobilizada no chão e arrastada sob prisão a 500 metros de distância para ser encurralada nos carros celulares. O mesmo passou-se com outros (eles não fizeram nenhum gesto agressivo, a fuga era para os polícias o «motivo» para perseguirem e baterem selvaticamente nessas pessoas).


Ver também o Expresso.

quinta-feira, abril 26, 2007

Niobe

Da natureza das memórias

Viveram-se acontecimentos, conheceram-se pessoas, disseram-se coisas e fizeram-se outras. Estava-se na década de 70.
Eu estava a entrar na escola primária quando o PREC começou a ser passado e dessa época guardo apenas memórias difusas da TV a preto e branco, com umas imagens de tanques a passar nas ruas de uma cidade lá longe (parece que já na altura Lisboa era a capital do país), memória de uma gaivota, que voava, voava..., memória de uns tractores a carregarem com uma carrada de gente no atrelado que diziam à minha família para votarem nas argolinhas, memória de uma viagem da turma da Dª Fátima até Vila Nova de Milfontes, a visitar a Cooperativa Agrícola, e daqueles gaiatos todos a cantarem músicas que tinham aprendido com os pais nos ajuntamentos das argolinhas.
Foi há 30 anos, mais anos, mais mês, mais semana.

Hoje, por estes dias, não faltam as reportagens em que os repórteres (estagiários na casa dos 20 anos, que nem se lembrarão da morte de Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa, cujo funeral passou por baixo da minha varanda) perguntam aos adolescentes e pré-adolescentes o que sabem sobre o 25 de Abril, os capitães, o Salazar e o Caetano, e a liberdade tão duramente arrancada às prisões da PIDE.
É o mesmo que perguntarem o que sabem sobre a saída de Vasco da Gama para a Índia, a carta de Pero Vaz de Caminha, a chegada do mestre de Aviz a Lisboa ou a batalha de S. Mamede.
Para eles isso está lá algures numa meia dúzia de páginas dos manuais escolares. Tudo junto, tudo parte da mesma obrigação de estudo para ter boas notas e conseguirem o prémio prometido pelos pais.

E porque raio lhes perguntam pela liberdade?
Então porque não lhes perguntam pelo ar que respiram?
Pode ser chocante para quem se lembra da década de 70, do antes (não é o meu caso) e do depois (aí já me lembro).
Deixem os putos em paz; tirem satisfação do facto de eles se rirem das histórias de proibições que o Estado Novo impôs (como eu me ri da história de só se poder acender um isqueiro debaixo de telha e da respectiva lincença de porte e uso), das rídiculas manifestações de crenças no Homem Novo e no Paraíso Terrestre do PREC, da perplexidade perante os assaltos e ocupações de casas e empresas particulares, dos fantásticos comités de bairro que ocupavam os clubes de ténis para dar a conhecer os chuveiros aos filhos do proletariado.
Imaginam o que é explicar a um puto de hoje que tomar banho de chuveiro é coisa da minha geração?

É da natureza das memórias que elas pertençam a quem viveu os dias que as enchem. É da sua natureza que desvaneçam. É da natureza de quem as tem marcadas profundamente, a surpresa por não serem partilhadas por todos.
É da natureza dos adolescentes e crianças deste século que o que se passou há 30 e tal anos seja história, tão memorável como outra coisa qualquer destes últimos 900 anos.

terça-feira, abril 24, 2007

25 de Abril sempre!





Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança
Todo o mundo é composto de mudança
Tomando sempre, tomando sempre novas qualidades
E se todo o mundo é composto de mudança
Troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança.

Do álbum de José Mário Branco, “Mudam-se os Tempos, mudam-se as vontades”
Letra adaptada por José Mário Branco a partir do poema de Luís Vaz de Camões “Mudam-se os Tempos, mudam-se as Vontades”

Boris Ieltsin




















(1931-2007)
Morte de Boris Ieltsin, mui mal-amado pelos nacionalistas, de direita e de esquerda, que hoje são o máximo denominador comum da vida política russa.
Para eles, Boris Ieltsin desmoronou a União Soviética, cujo desaparecimento foi, nas palavras de Vladimir Putin, “a maior catástrofe geopolítica do século XX”.
O tempo de Ieltsin foi o tempo da acumulação primitiva (e privada) de capital, em que nunca como então foi verdade Proudhon (“a propriedade é um roubo”). O tempo de Ieltsin foi o tempo da polarização social e da boçalidade dos novos ricos, em que a repressão do Estado foi substituída pela violência das máfias.
Em suma, foi tempo de regressão e, sem sombra de dúvida, um dos períodos mais desgraçados da história da Rússia.
O embrião da democracia nascido da Perestroika de Mikhail Gorbachev foi rapidamente consumido nessa voragem. Nessa voragem a que não foram alheios os evangelistas da nova ordem liberal que então eram presença hegemónica nos círculos do poder. Também eles fizeram da Rússia campo de engenharia social; também eles empreenderam uma política de terra queimada que só podia trazer sofrimento ao povo russo.
Muitos quererão preservar a imagem do Ieltsin que se opôs aos golpistas, mas estes apenas representavam, parafraseando Marx, a comédia da História, que não se repete senão desse modo.

segunda-feira, abril 23, 2007

O Candidato Trotskista

Olivier Besancenot, candidato da Ligue Communiste Révolutionnaire, foi quem nas esquerdas da esquerda melhor soube resistir ao efeito do voto útil.
O seu desempenho contrasta com o de Marie-George Buffet, a candidata do PCF, cujo resultado de ontem ficou aquém dos 2%. O PCF parece, lamentavelmente, ter entrado em estado comatoso.
Para as legislativas de Junho próximo, melhor faria pois o PSF em tomar a LCR como interlocutor. A LCR é um actor incontornável à esquerda. Estão cada vez mais caducos os termos do contrato da esquerda plural, assente apenas em socialistas, comunistas e ecologistas.

Primeira volta muito participada


Primeira volta das presidenciais francesas marcada por uma fortíssima participação dos eleitores, bem acima dos 80% e sem paralelo nas democracias vizinhas. Vive la France!
A França, e por via dela a própria Europa, está numa encruzilhada, isso mesmo foi entendido pelos eleitores, que também quiseram evitar a repetição do sismo político de há cinco anos.
Tão grande participação eleitoral fez recuar a extrema-direita para níveis mais modestos. Incapaz de atrair novos eleitores, Jean-Marie Le Pen viu também fugir uma parte do seu fiel eleitorado para a candidatura de Sarkozy; é um dos grandes derrotados da noite, recua quer em percentagem, quer em número de votos.
A estratégia de Sarkozy (poderíamos falar numa lepenização do discurso do candidato da UMP, ao longo da campanha) deu bons resultados, mas poderá também exacerbar uma parte não negligenciável da sociedade francesa. Por agora, a vantagem psicológica de ter sido o primeiro.
Ségolene Royal ficou cinco pontos abaixo de Sarkozy, conseguiu 25,84% dos sufrágios, um resultado muito idêntico ao obtido por Miterrand em 1981, o que desde já tem de se considerar positivo, até porque o estado do PSF não é famoso. O problema de Royal é que escasseiam os apoios à sua esquerda: somados os votos dos outros candidatos temos 10,28%. Muito pouco. Pela agregação dos sufrágios, a esquerda fica-se por uns modestos 36,12%! Não me lembro de uma esquerda tão mínima em França!
Resta assim a S. Royal virar-se para os eleitores que votaram em Bayrou, o candidato centrista da UDF. Embora do centro político, ele fez uma campanha de contornos populistas e vagamente anti-sistémica, conseguindo um resultado que vai muito para além do que eleitoralmente vale a UDF. É possível que na amálgama de votantes de Bayrou se encontrem socialistas e outros eleitores de esquerda, talvez seduzidos por sondagens que davam o centrista como o mais bem colocado para, numa segunda volta, bater Sarkozy.
A candidata socialista tem pois margem de manobra. Tem que saber federar os descontentamentos que Sarko provoca e ao mesmo tempo mostrar que está animada de um sopro renovador; que insuflará novas energias no pacto republicano. No discurso de ontem à noite após as projecções, Ségolène mostrou essa energia. E também firmeza. Parte em posição desfavorável para a segunda volta, mas a vitória não é de todo impossível.

sexta-feira, abril 20, 2007

Serão xenófobos?

Quando se manifestam, o proletariado e os sectores intelectuais (é assim que se diz?) da esquerda anti-capitalista e anti-(preencher a gosto), costumam ficar roucos de tanto gritar contra a exploração das multinacionais e do patronato estrangeiro que rouba empregos aos nacionais quando decide deslocalizar as suas empresas.
Essas demonstrações públicas, no exercício legítimo da liberdade de expressão e de opinião, são demonstrações de xenofobia?

E os manifestantes alter-globalistas, que destroem propriedade privada e atacam os agentes estatais de segurança (vulgo, polícia) enquanto ameaçam de grandes sevícias os líderes das nações capitalistas, são xenófobos?

Quando os Grandes Papas da revolução Bolivariana atacam os investimentos estrangeiros ou apupam e insultam os, também democraticamente eleitos, chefes de estado de outras nações, são xenófobos?

PS - Xenofobia: do Gr. xénos, estrangeiro + phob, r. de phobein, ter aversão; s. f.,
aversão às pessoas ou coisas estrangeiras.


Já colocado no Insurgente.

Rhona


A série "Boston Legal", que estreou ontem, parece ter muitas potencialidades.

Ainda a extrema-direita

A propósito das organizações de extrema-direita e das alusões à nossa Constituição, que expressamente proíbe associações que perfilhem a ideologia fascista, deixo aqui o preceituado nos artigos 45.º e 46.ª Junto ainda o artigo 240.º do Código Penal, sobre a “discriminação racial ou religiosa”:

Artigo 45.º
(Direito de reunião e de manifestação)
1. Os cidadãos têm o direito de se reunir, pacificamente e sem armas, mesmo em lugares abertos ao público, sem necessidade de qualquer autorização.
2. A todos os cidadãos é reconhecido o direito de manifestação.
Artigo 46.º
(Liberdade de associação)
1. Os cidadãos têm o direito de, livremente e sem dependência de qualquer autorização, constituir associações, desde que estas não se destinem a promover a violência e os respectivos fins não sejam contrários à lei penal.
2. As associações prosseguem livremente os seus fins sem interferência das autoridades públicas e não podem ser dissolvidas pelo Estado ou suspensas as suas actividades senão nos casos previstos na lei e mediante decisão judicial.
3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem coagido por qualquer meio a permanecer nela.
4. Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.

Artigo 240º do Código Penal
Discriminação racial ou religiosa
1 - Quem:
a) Fundar ou constituir organização ou desenvolver actividades de propaganda organizada que
incitem à discriminação, ao ódio ou à violência raciais ou religiosas, ou que a encorajem; ou

b) Participar na organização ou nas actividades referidas na alínea anterior ou lhes prestar
assistência, incluindo o seu financiamento;
é punido com pena de prisão de 1 a 8 anos.

Nada a dizer sobre o artigo 45.º da CRP.
Se como tudo indica os elementos da extrema-direita estavam na posse ilegal de armas, o caso acaba aqui, não sendo chamada à colação a liberdade de expressão.
Para mim, a questão que se põe é a de saber se devemos ou não proibir a liberdade de expressão e de associação destes grupúsculos protofacistas ou de extrema-direita.
Evidentemente que, à luz da nossa legislação, a polícia tem legitimidade para apreender o material propagandístico destas organizações, tendo em conta o preceituado na CPR e no Código Penal.
Mas será a aceitável proibir associações só porque perfilham ideologia fascista, tal como é referido n.º 4 do Artigo 46? Não será exagerado punir quem é membro ou participa em organizações que têm um discurso apologético das formas de discriminação, como parece querer dizer o n.º 1 do Artigo 240.º do CP?
Sim, eu temo os efeitos perniciosos do discurso de incitamento ao ódio, só não sei se o caminho a trilhar deverá ser o da proibição. Tenho muitas dúvidas sobre a eficácia de tais disposições, até porque o discurso da extrema-direita organizada joga nas zonas cinzentas ou no limite dessa fronteira. E mesmo a nossa legislação assim blindada não impede a existência legal de um PNR. Como também em França, com uma legislação parecida à nossa, a FN parece estar para lavar e durar, com votações na casa dos dois dígitos.
Sinto que quando falamos em fascismo e liberdade expressão, logo surgem vozes que, não sem a sua dose de arrogância moral, nos dizem que estamos pactuar com os que perfilham o racismo e advogam a discriminação. Dizem-nos tais vozes que não somos suficientemente vigilantes, que somos imprevidentes face ao perigo, chegando mesmo a anatemizar a nossa tolerância para com tão perniciosa ideologia.
Para terminar, lembro que chomsky fez a defesa do historiador negacionista Robert .Faurisson; do direito à liberdade de expressão, entenda-se.

Os débeis mentais e outros esgrouviados da cabeça não deviam de ir ao cinema

Penso que esta seria uma nobre causa, todo um programa de proibicionismo a propôr, por aqueles que acham que a culpa de um maluco ter inveja da libertinagem dos colegas de universidade, é da Sociedade.

A culpada, também, de ele ter ido, um dia, ao cinema. O que só por si, dá mais umas pistas sobre algumas belíssimas cruzadas proibicionistas e censórias.

Muito pouco nacionalistas

Hoje de manhã, ao ver as notícias na TV, vi uma reportagem sobre a chegada ao tribunal dos membros de uma "organização nacionalista", aparentemente detidos por delito de opinião (é verdade: isso existe em Portugal) e por posse de armas.
À chegada das viaturas que os traziam, alguns amigos ou camaradas de ideais, gritaram o seu apoio. Entre as várias frases, ficou-me uma: "Viva o Hitler, seus filhos da puta!".

A mim fazem-me um pouco de espécie, estes nacionalistas.
Além de no plano político e filosófico estarem nos antípodas do liberalismo que defendo (tanto económico, como das ideias e dos direitos individuais), encontro-lhes uma contradição que me parece um pouco bizarra.
Porquê este culto a um austríaco (ok, também tenho particular interesse por alguns austríacos), que se tornou alemão, invadiu e subjugou o seu país natal, preconizava a supremacia dos arianos puros e a eliminação de outros seres humanos que não se encaixavam nesta pureza geradora de uma raça de super-homens?

Acaso estes nacionalistas se deram conta do seu caldeirão genético: fenícios, lusitanos, romanos, germanos, magrebinos, judeus, cristãos e muçulmanos - esqueci-me de alguém?
Terão eles ponderado que considerações teceria o guia nacional-socialista (às vezes esta última palavra é esquecida) sobre estes tugas, baixotes, morenos, de olhos e cabelos castanhos?

quinta-feira, abril 19, 2007

Notícias da extrema-direita. O que não fazer

Segundo o PÚBLICO, uma operação da Polícia Judiciária (PJ) desencadeada esta madrugada, a nível nacional, levou à detenção de 27 pessoas associadas a movimentos de extrema-direita. Os detidos, que só amanhã deverão ser presentes aos juízes de Instrução Criminal, são acusados de terem em sua posse armas, munições e material propagandístico susceptível de configurar os crimes de discriminação racial e religiosa.

Esta notícia vem provar que não têm razão as luminárias que procuram equiparar a extrema-esquerda (o epíteto destina-se evidentemente a (des)classificar o PC e o BE) aos grupúsculos de extrema-direita.
É que não raro aparecem notícias de membros de partidos de cariz protofascista associados à posse ilegal de armas ou até ao tráfico, para não falar na cultura de violência... Ora, o mesmo não podemos dizer dos militantes comunistas ou do bloco, que não consta que se entreguem a práticas de intimidação de pessoas, por causa da cor da pele ou da orientação sexual destas, ou que revelem particular apetência pelo admirável mundo das armas.
Apesar disso, há um lado da notícia que me suscita preocupação, e daí a razão da parte que sublinhei. É que creio ser exagerado que na tipificação do crime de discriminação racial e religiosa caiam coisas como o material propagandístico.
É um caminho errado policiar e criminalizar a opinião. Na direito à opinião cabe o erro e a persistência no erro, mesmo que este consista na manifestação de preconceitos (raciais, sexuais, etc.). Além disso, ao proibirmos a manifestação de determinadas ideias, só porque estas ofendem grupos da população ou tão-só a nossa consciência, estamos a fornecer um precioso capital político aos seus autores. Capital político que estes não enjeitarão.

quarta-feira, abril 18, 2007

Antes ser analfabeto



O governo deste país ameaça-nos com a possibilidade de, se os seus cidadãos não-Dr.'s/Eng.'s/Arq.'s estudarem afincadamente, poderem vir a ser como o Pedro Abrunhosa que estudou.
Queria, portanto, agradecer a todos os que insistem em resistir ao dirigismo estatal e se recusam a martirizar o resto do país.

(foto via Gonio)

Juliana

Juliana Silveira
No Brasil, a Floribella teve outro interesse.

Armados até às dentaduras

Os portugueses estão bem armados. Ou ninguém se lembra das sempre repetitivas reportagens na abertura das várias épocas de caça?
Segundo uma notícia do DN (do ano passado), haverão um milhão de armas legalizadas em Portugal (quinhentas mil serão de caça). Ou seja, 10% da população, ou seja, 10.000 em cada 100.000, ou seja, a vizinhança alargada de cada um de nós tem a potencialidade de se transformar numa pequena milícia.
A estes número tem de se juntar as não legalizadas, claro (em 2004 foram apreendidas 3.191 armas ilegais).

Ocasionalmente, lá surgem notícias de um cidadão português, até então pacato e bom pai/filho, se transformar num raivoso atirador, assaltante bancário ou praticante da cada vez mais notória modalidade do barricamento.
Por vezes há mortos a marcar famílias para sempre, por vezes apenas uma notícia, passageira na memória que deixa, sobre um momento de loucura.
Os testemunhos dos vizinhos e amigos são quase sempre os mesmos: era um louco, já se esperava; era tão calmo, ninguém estava à espera.
De quem é a culpa desse individuo ter perdido a razão ou o respeito pela vida e propriedade alheia? Da sociedade? Da falta de proibicionismo ou restrições suficientes?

Haverão sempre argumentos para justificar que o Estado intervenha e restrinja ainda mais. Será mesmo uma área em que muitos podem chamar à discussão "argumentos liberais" sobre o papel do Estado na manutenção da segurança dos indivíduos e dos seus bens.

Atente-se, por exemplo, mas medidas de segurança aplicadas nos aeroportos ou na legislação que alguns países desenvolveram para controlar a vida dos suspeitos de vir a usar armas para atentar contra os cidadãos.
Há um conflito entre o papel do Estado como garante da segurança, os meios usados para a aplicar e a liberdade de cada indivíduo de possuir os seus meios de defesa próprios ou apenas como instrumentos do seu lazer (se entendermos a caça como tal). Como atribuir ao Estado a capacidade de escrever o manual que tipifica quais os comportamentos, as personalidades, que merecem ser restringidas ou controladas para que num futuro, um dos possíveis futuros, algo que não aconteceu, possa não vir a acontecer?

A pretensão de que o aprofundamento de restrições à legalização e posse de armas pode erradicar actos de tresloucados ou impedir que aqueles que abraçaram entusiasticamente uma carreira de assaltante e desatam aos tiros a incautos cidadãos, usando armas ilegais, não me parece argumento para justificar e apontar a culpa à sociedade por mais não fazer para controlar os seus membros.

Nem consigo imaginar onde esse argumento a favor de maior controlo, do que alguém pode um dia vir a fazer, significaria de restrições a priori sobre a capacidade de cada um distinguir entre condutas, entre boas acções e más acções se assim quiserem.
A sociedade não é dotada de vontade própria, os individuos sim. A eles cabe a escolha do caminho que seguem e a responsabilidade pelos seus actos.

Já colocado no Insurgente.

terça-feira, abril 17, 2007

Depois de Columbine

Palavras sábias as deste editorial do New York Times, a propósito da tragédia que se abateu sobre a Universidade Virgínia Tech:

Yesterday’s mass shooting at Virginia Tech — the worst in American history — is another horrifying reminder that some of the gravest dangers Americans face come from killers at home armed with guns that are frighteningly easy to obtain.
Not much is known about the gunman, who killed himself, or about his motives or how he got his weapons, so it is premature to draw too many lessons from this tragedy. But it seems a safe bet that in one way or another, this will turn out to be another instance in which an unstable or criminally minded individual had no trouble arming himself and harming defenseless people.



Acresce ainda o facto de a Virgínia ser um dos estados mais permissivos em matéria de controle, uso e posse de armas.

Cinema e Situacionismo



















Sábado à tarde passado sob o signo da vanguarda, que outra coisa poderíamos dizer da integral dos filmes de Guy Debord, promovida pela Culturgest, com o sugestivo título de Com e Contra o Cinema.
Fui ver dois filmes, L’Anticoncept, de Gil J Wolman, e Hurlements en faveur de Sade, de Debord. Gil J Woolman foi figura do movimento letrista, com uma obra multiforme, da poesia ao trabalhos vídeos (calcula-se que à mistura com muita agit e prop); Debord tomou o L’ Anticoncept como modelo para o seu Hurlements...
Os dois filmes são manifestos anti-cinema, não há neles nem imagem nem movimento. Vê-se que foram feitos para desafiar as representações da arte e da política, constituindo-se em manifestos contra as imagens. Porque as imagens deixaram de ser revolucionárias, sendo agora o cerne da separação. O Cinema assim apresenta-se como um substituto passivo da actividade artística unitária..., escrevia-se no N.º1 da Internationale Situationiste (Junho de 1958).
Eu sabia mais ou menos ao que ia, mas mesmo assim confesso que L’anticoncept é uma experiência curiosa (não encontro outra palavra). No palco, é projectada uma luz branca em forma de globo (pelo link da wikipedia, descubro que o filme foi projectado sobre um balão-sonda) E depois há apenas a voz. A voz que assinala acontecimentos fundadores do cinema e que depois se entrega a formulações amorosas vagamente hegelianas: «Amo-te não te amo mais. Ela ama outra».
«Sob a máscara ela deve ser bonita ela deve ser feia».
TEOREMA
«Não existe negação que não se afirme noutro lugar». Uma voz que grita, uiva e geme. E que no fim se lança numa grande deriva onomatopaica.
O sonoro é aqui o elemento por excelência, o que em si é a própria negação do cinema.
Filme saído em 1952, L’Anticoncept causou escândalo e chegou mesmo a ser proibido pela censura. Sobre ele disse Debord que era mais ofensivo hoje que as imagens de Eisenstein que tanto tememos durante muito tempo na Europa.
Hurlements en faveur de Sade tem apenas dois tons, o branco para os diálogos e o negro para os silêncios . Os diálogos são feitos de frases de que Debord se apropriou. Frases descontextualizadas, que tanto podem provir da literatura como do cinema ou do código civil francês ; ou apenas ser o produto de improvisações. Sempre sob o fundo branco do ecrã. Há uma voz que exclama, «é cinema!», ao que se segue outra que nos diz que «a polícia parisiense está equipada com 30.000 matracas.» Depois, quatro minutos de silêncio com o ecrã a negro. Eu não cheguei ao fim, é como se tivesse visto "a versão interrompida" (este filme quando estreou, em 1952, foi interrompido por vários tumultos, chegando até a haver violência). Não fiquei por isso para os célebres vinte e quatro minutos em que ecrã permanece a negro. Em silêncio.
Mas lá mais para noite regressei ao “velho cinema”. Fui ver um belo filme de Mikio Naruse. UGIKIMO/Nuvens Flutuantes.

P.S. As frase em itálico foram retiradas dos folhetos da cultugest.

segunda-feira, abril 16, 2007

Videoclip Lounging

O "tempo livre" tal como previsto pelo Estado

Ontem, domingo, estava em Setúbal uma magnífica manhã de Primavera.
Depois do pequeno almoço, sem mais nada para fazer que aproveitar o tempo livre que o fim de semana providencia, lembrei-me de agarrar num livro e ir até ao jardim da beira-mar, sentar-me na esplanada, beber uma café, fumar um cigarro e ler um bocado, enquanto apreciava a paisagem do Sado ali à beira.
Não contava era que o Estado português tivesse feito planos para usar o tempo livre dos trabalhadores. De outros e o meu.
A Av. 22 de Dezembro, no sentido Bonfim-Luísa Todi, atafulhada de trânsito. Semáforos intermitentes.
Bom, viro para a 5 de Outubro, e dou a volta pelo Quebedo, saindo ao pé do Quartel do 11.
Não podia ser! A Luísa Todi, também aí estava bloqueada de trânsito. Não seria o Sol, o culpado da saída em massa de tantos automobilistas, que lotaram a avenida!
PSP a dirigir o trânsito. O Sr. Agente lá explica que está a decorrer uma prova de atletismo e que enquanto não terminar, a Luísa Todi estará fechada em toda a extensão e também a rua que faz a marginal (desde os ferries até ao Naval).

Presumo que devo agradecer ao INATEL (Instituto Nacional de Aproveitamento dos Tempos Livres), patrocinador do insuflável da chegada, feita em frente à sua sede, o ter levado centenas/milhares de maduros corredores, não sei quantos autocarros para perto do jardim e uma magnifica instalação sonora acompanhada de locutor. Queria também lembrar a tão estatal instituição de gestão do tempo do proletariadao (que fariam dele, sem este dirigismo estatal?), que foi construída há uns tempos, uma magnífica pista de atletismo, em Setúbal.
Mesmo muito jeitosa para pôr o pessoal a correr numa solarenga manhã de domingo e sem importunar os que pretendem LIVREMENTE usufruir do seu tempo e das vias de circulação públicas (!!!).

sexta-feira, abril 13, 2007

Videoclip Lounging

Person Pitch


Person Pitch é talvez o oposto do primeiro trabalho de Panda Bear, Young Prayer, que era essencialmente acústico, de uma beleza austera e crepuscular.
Este disco é expansivo e luminoso, com uma rica parafernália de sons e ritmos e alguma saudável deriva. Tem caos e vitalidade.
Noah Lennox, aka Panda Bear, e membro proeminente dos seminais Animal Collective, parece ter dado livre curso à felicidade caseira, ao aconchego do lar onde Person Pitch foi concebido. Porque se pressente isso a cada tema deste viciante álbum; nas irradiações vocais de Lennox.
Person Pitch Alia a elegância pop à aventura da experimentação.
Bros e good Girl são até agora os meus temas de eleição, que tenho ouvido uma e outra vez. Mas tem mais para descobrir, porque a música de Noah lennox não dispensa a estranheza.
Ainda nem sequer vamos a meio do ano, mas arrisco desde já que este vai ser um dos álbuns de 2007.

quinta-feira, abril 12, 2007

Um gajo que não quer morrer

O Luiz é que não está nada afanado...

Tenho muitas doenças, talvez umas vinte e três. Agora tenho uma merda chamada incontinência. Para um gajo é muito mau andar de fraldas.(...)

Gosta do José Sócrates?

Quem é? Não o conheço.

Mas gosta de Pedro Santana Lopes?

É um ‘bom vivan’. Não deixou obra nenhuma, mas sabe viver. Andava nas discotecas e estes gajos – o pequeno, o gajo que é quase anão – fez-lhe a folha. O Santana é um senhor. Gosta das noites. E bebe o seu copinho.(...)
O tipo sabe o que é bom. O que é bom para mim são umas garotas, que vêm cá de manhã para me fazerem a higiene. Não é mau.
Luiz Pacheco.
A ler, a entrevista no Correio da Manhã (via A Causa das Coisas).

Elas lá saberão

Scarlett Johansson
As leitoras da revista "Glamour", escolheram esta menina como a mais sexy do planeta.
As leitoras. Elas.

Visto


Excelente.
Ainda não foram ver?
Eu sei que sou parcial quanto à adaptação de BD's para filmes (mais! quero mais!), mas este é muito bom mesmo.
E tem sido interessante ler as análises políticas ao filme. É que a base histórica que o sustenta, pode repetir-se num futuro mais próximo que o que eu desejo. Mas como a história não se repete, não se sabe se os defensores dos Homens livres, dos estados livres e do pensamento livre, voltariam a sair vencedores.

Já agora, dêem uma vista de olhos ao elenco do próximo Sin City II.

A Entrevista

Sobre a entrevista, destaco, a título de mera curiosidade, o anglicismo de que José Sócrates pelos vistos faz uso nas suas cartas; assim foi explicada a expressão “Do Seu Sócrates”, na carta dirigida ao Reitor.
Sócrates lá foi dizendo que cumpriu o que lhe foi pedido pela Universidade Independente, dessa forma procurando dissipar dúvidas sobre um hipotético favorecimento. Fica a ideia de que não buscou qualquer tratamento de favor, o que não significa que não tenha havido; compete aos responsáveis da universidade também esclarecer.
Foi patético, quando se entregou à exaltação da sua trajectória escolar, “os sete anos de ensino superior” que deveriam ser vistos, pela comunicação social, como um exemplo para os portugueses.
Eu continuo a achar que nem tudo isto é normal, como escrevi no post anterior, e corroboro por inteiro o António Barreto, no PÚBLICO de Hoje:

Um primeiro-ministro que acha que é normal que um deputado, ministro depois, se matricule em curso superior e obtenha diploma académico de recurso (feito em três universidades diferentes), ainda por cima em estabelecimento não reconhecido pela respectiva Ordem profissional.
Um primeiro-ministro que não percebe que um deputado e um membro de um governo não têm os mesmos direitos, ou antes, as mesmas faculdades que os outros cidadãos e não podem nem devem apresentar-se como candidatos a cursos pós-laborais que lhe confiram o estatuto académico a que aspiram!
Um primeiro-ministro que considera normal e desculpável que os seus documentos oficiais curriculares sejam corrigidos e alterados ao gosto das revelações públicas!


À margem da polémica, na segunda parte da entrevista, constatei que para Sócrates a esquerda está confinada às questões civilizacionais (fracturantes, diria o Bloco); ou seja, à reprodução medicamente assistida, à despenalização da interrupção voluntária da gravidez e à paridade, diplomas que o seu governo fez aprovar. Tudo o resto (o trabalho, a economia, para dar dois exemplos) está para além da esquerda, certamente inscrito numa qualquer dimensão tecnocrática.

quarta-feira, abril 11, 2007

Se eu fosse gaja... (*)


... e ainda assim gostasse de bola, tinha um poster deste gajo escarrapachado na parede do quarto.
Os italianos nem viram bem o que lhes aconteceu.

(*) - Antes que comecem com piadolas parvas, informo que não sou, mas gosto muito. Delas.

Poderiam ter sido Estados dos trabalhadores















Mas sobre elas abateu-se a fúria burguesa. Sobre elas, a força do aparelho repressivo do velho Estado.
Lembrar as repúblicas dos trabalhadores. Por exemplo, a Comuna de Paris (1871) ou a República Soviética da Baviera (1918-19)

Uma licenciatura que virou bola de neve

Passou quase despercebida a promulgação do diploma da interrupção voluntária da gravidez, no turbilhão das notícias sobre os contornos da licenciatura de José Sócrates na Universidade Independente. E é pena. Porque ontem foi um dia importante para todos os que se bateram por esta nobre causa, entre os quais nunca é demais destacar o contributo do primeiro-ministro.
Mas o dia continuou a ser pautado por um caso que nunca imaginei que entre nós viesse a assumir tal repercussão. Acabou mesmo por se transformar numa bola de neve, depois de relatos de pressões protagonizadas por assessores do governo sobre os poucos, muito poucos, que na comunicação social tinham ousado fazer disto notícia. Ora, as pressões acabaram por ter o feito contrário, enchendo de brio os jornalistas. E de então para cá, todos competem para ver quem dá mais eco às incongruências e omissões que rodeiam o processo da licenciatura de José Sócrates na Independente, que para mim se resume à questão de saber se houve tratamento de favor no processo das equivalências. É claro que também não é muito normal que Sócrates tenha tido o mesmo docente a quatro das cinco cadeiras; e que esse mesmo docente tenha desempenhado cargos em governos PS, primeiro com Armando Vara, no tempo em que Sócrates era secretário de Estado, depois já com este na condição de primeiro-ministro, enquanto presidente do Instituto da Gestão Financeira e Patrimonial da Justiça. Parece ter havido uma estranha imbricação de interesses políticos e académicos, dito de outro modo, uma relação muito pouco recomendável.
Mesmo não dissipando todas as dúvidas (há aspectos que só os responsáveis da Independente poderão esclarecer cabalmente), poderia José Sócrates ter minimizado os danos se mais cedo tivesse prestado esclarecimentos. Mas só hoje à noite quebrará o silêncio.
Arrisca-se a ver maculada a imagem de rigor e exigência que tanto cultivou, ainda para mais se nos lembrarmos que para impor medidas impopulares não hesitou muitas vezes em lançar o anátema sobre determinadas classes profissionais (basta ver os casos do alegado absentismo dos professores ou as férias dos juízes). É que, para muitos dos seus adversários, o significado político deste episódio pode não ser despiciendo.

Obras públicas

A propósito do previsto anúncio de construção da terceira travessia do Tejo em Lisboa, e da notícia que dá conta de que a Quercus se opõe a que inclua o transporte rodoviário (preferindo a restrição à ferrovia), lembrei-me do que escreveu Henry Hazzlit, no seu "Economics in One Lesson" (disponivel online gratuitamente), no capítulo "Public Works Mean Taxes":
A certain amount of public spending is necessary to perform essential government functions. A certain amount of public works — of streets and roads and bridges and tunnels, of armories and navy yards, of buildings to house legislatures, police and fire departments—is necessary to supply essential public services.(...)

A bridge is built. If it is built to meet an insistent public demand, if it solves a traffic problem or a transportation problem otherwise insoluble, if, in short, it is even more necessary to the taxpayers collectively than the things for which they would have individually spent their money had it had not been taxed away from them, there can be no objection. But a bridge built primarily “to provide employment” is a different kind of bridge. When providing employment becomes the end, need becomes a subordinate consideration. “Projects” have to be invented. Instead of thinking only of where bridges must be built the government spenders begin to ask themselves where bridges can be built.
Aconselho a leitura completa do capítulo e, claro, do livro.

O comunismo não é composto de mudança

Ontem, escrevi o post abaixo.
Ontem, vi Bernardino Soares na televisão.
E lembrei-me do "Gattopardo".
"Se queremos que as coisas fiquem como estão, as coisas terão de mudar", dizia-se.

terça-feira, abril 10, 2007

O fim de uma época?

RR:
[Odete Santos] Sai no fim desta semana do Parlamento depois de mais de 26 anos como deputada, a bem da renovação da bancada comunista.
Espero que a bem dessa mesma renovação, o PCP comece a fazer avançar, para debates e outras exposições mediáticas e públicas, novos nomes.
Quanto às ideias, infelizmente, penso que continuarão as mesmas que Odete Santos sempre defendeu; o mesmo olhar sobre o mundo do século XXI como se o comunismo não tivesse um passado, uma história conhecida, no século XX.

Cate

Cate Blanchett
Uma boa australiana.

Visto


Depois de, no dia anterior, ter sofrido durante 3 horas com o "onanismo cinematográfico" de David Lynch (a sério: não vão ver), foi bom ter visto este filme.
Filmado a preto e branco, com uma excelente utilização da luz e da sua ausência. Com maus com cara de maus e bons com cara de quem nunca será anjo. Com uma "femme fatale" à moda antiga. Com seres humanos à procura da redenção.
Já tinha saudades de que me contassem uma história destas.
Muito aconselhável.

segunda-feira, abril 09, 2007

Visto


David Lynch lidera, destacado, a lista de realizadores dos meus filmes favoritos. De facto, tenho uma espécie de categoria à parte a ele dedicada.
Dune, Blue Velvet, The Elephant Man, Eraserhead, Wild at Heart, toda a saga Twin Peaks e a série On the Air, Lost Highway, The Straight Story e Mulholland Drive.
Não é pouco. O Dune é mesmo uma preferência muito preferida.

Mas eis uma nova obra de Lynch, filmada em video, ao que parece.
Fiquei sem palavras.
Não surpreendido, que a coisa andava a adivinhar-se.
Lynch entregou-se ao onanismo cinematográfico e filmou para mostrar a si mesmo a inexistência de barreiras à sua arte.
Onde é que isso nos deixa?
Perdidos. Mais perdidos que numa autoestrada perdida.
E no meu caso, procurando pela saída mais próxima, a da sala de cinema. Tive de aguentar as 3 horas de Lynch em delírio, embora o senhor que ao meu lado dormiu durante 2 horas e um grupo de jovens que na fila de trás sussuravam o descontentamento de ali estarem enfiados, me dessem a noção que só por falta de entendimento metade da sala não se dirigiu, às apalpadelas, dali para fora.
Desaconselho todos os que têm amor ao dinheiro do bilhete a escolherem outra coisa qualquer em cartaz. Ou aluguem um DVD de uma ou de várias das obras-primas listadas acima. Mas, sobretudo, não vão ver esta coisa.
E fico à espera da próxima obra de Lynch. Ou pensam que não irei tentar vê-la o mais rápido possível?

quinta-feira, abril 05, 2007

Eva


Eva marvels.

Visto


Um filme sobre um personagem Marvel é melhor que não haver um filme sobre um personagem Marvel.
Mas este personagem Marvel vivia melhor sem este filme.
Não é que seja mau. Mas podia ser melhor.
Com os personagens Marvel, os filmes podem sempre ser melhores.

quarta-feira, abril 04, 2007

Cabalas. Ou a vontade de domesticar

Estados deste nosso país que já leva mais de trinta anos de regime democrático. Sempre o medo do debate franco, depressa envenenado ou castrado nas margens do consenso, e a tentação das derivas autoritárias.
Vejamos o caso das tímidas notícias sobre as habilitações do primeiro-ministro, que muitos tudo resumem a uma cabala urdida pelo eng. Belmiro de Azevedo, despeitado com o naufrágio da OPA que lançou sobre a PT. Basta ver os comentários que por esta nossa blogosfera pululam, e que não creio que possamos atribuir apenas à legião de assessores e de indefectíveis de Sócrates. Sempre a cabala que tudo obscurece. A busca da verdade (saber se José Sócrates obteve, da Universidade Independente, um tratamento de favor ) é aqui questão de somenos.
Da história das habilitações para os telefonemas de assessores e do próprio primeiro-ministro para as redacções de órgãos da imprensa, rádio e televisão. Bastaram um artigo no último Expresso, narrando alguns desses episódios, e um editorial de José Manuel Fernandes sobre o mesmo assunto, para que a zelosa Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) viesse a terreiro convocar os jornalistas autores de tais notícias e artigos. Em vez de fazer de forma isenta e independente a regulação de que tanto carecemos, a ERC parece querer comportar-se como a voz do dono.

Vão mas é trabalhar!

Mas esta gente não tem vergonha dos disparates que diz?
No PD:
A Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens da CTGP-IN criticou hoje o Casino de Lisboa, considerando «eticamente reprovável» a promoção do espectáculo «Crazy Horse» que estreia hoje no Auditório dos Oceanos do Casino.

Num comunicado divulgado hoje, a CGTP critica o Casino de Lisboa por ser parceiro num projecto destinado a fomentar a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens enquanto promove «uma imagem publicitária onde, sugestivamente, se apela à utilização do corpo feminino como mero objecto de prazer mercantil».(...)

A Comissão considera que a imagem publicitada é «atentatória da dignidade das mulheres» e «viola o princípio da igualdade de tratamento, da imagem e do bom-nome das mulheres», refere.
E agora, só porque sim, eis uma amostra da desigualdade reinante no mundo, uma demonstração que o estado deveria intervir na redistribuição da riqueza e regular as externalidades resultantes das falhas de mercado, dando as mesmas oportunidades aos proletários de todo o mundo...

terça-feira, abril 03, 2007

As Vidas dos Outros

Filme sóbrio, inteligente a evitar as armadilhas do maniqueísmo, porque há vida para além do “preto e branco”; ou a complexidade das zonas cinzentas do comportamento humano.
Optimista, sim, porque os homens mudam, como o zeloso profissional da Stasi, numa excelente interpretação de Ulrich Muhe, que guarda dentro de si um profundo humanismo e que bem mereceu a “Sonata para um Homem Bom”.
Ducodrama histórico que tem como pano de fundo os últimos anos da existência da República Democrática Alemã (RDA). No ar aquele cinismo que prenuncia o fim de uma época, o fim da república que alguém já classificou de “muito pouco democrática, muito pouco socialista, mas profundamente alemã”.
Vidas dos Outros gira em torno do universo da cultura. Temos um escritor que goza da protecção (ou pelo menos da benevolência) do regime, por ser “o único escritor não subversivo que é lido no Ocidente”. Vive com uma actriz de teatro, a bela e popular Christa-Maria (que nome!), que é cobiçada pelo ministro da cultura. E sabemos bem como o apelo da carne é irresistível, levando ao abuso do poder, sobretudo quando se é detentor de um poder quase absoluto. Assim, o ministro da cultura, que com ironia se referia aos “engenheiros das almas”, manda pôr sob escuta a casa do escritor, a fim de que este caia em desgraça. Cabe ao agente Hauptmann/ Ulrich Muhe, a tarefa de tudo escutar para assim descobrir o menor indício de dissidência. Mas as vidas desses outros, do escritor e da actriz, acabam por dar um novo sentido à própria vida de Hauptamann, por um processo imperceptível transformada em dissidência. Diga-se que a mudança é filmada de forma muita plausível, essa autenticidade é aliás um dos trunfos deste filme. Muitos realizadores soçobram ao pôr em cena processos semelhantes.
Acima de tudo, fica a ideia, como dizia o poeta, de que também os homens são compostos de mudança.

segunda-feira, abril 02, 2007

Wishful thinking - II

"e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida"

Wishful thinking