domingo, abril 30, 2006

Indie Party

O Convento das Mónicas é sem dúvida um belo espaço para festas.
Pena foi a não adequação das condições sonoras (talvez por falta de tempo) à acústica do lugar.
O som era mauzinho e a prestação dos djs ficou-se apenas pela mediania e previsibilidade (não sei para que são precisos tantos para fazer aquilo, bastava um; necessidade de empregar djs?). Ainda assim, foi um prazer ver alguns dos videoclips que o Nuno Galopim passou, como o Little Troube Girl dos Sonic Youth.
Ah!, não me podia esquecer dos imensos rebuçados espalhados pelos sofás dispostos ao longo das alas do convento. Deliciosa ideia.

sexta-feira, abril 28, 2006

Young Prayer

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Estranheza e nostalgia são as matérias de que é feito este disco de Panda Bear (Noah Lennox), um dos mentores dos Animal Collective.
As canções, de arranjos simples, são como que pequenos tesouros, parecem esconder segredos remotos, um mundo a ser descoberto se tivermos a necessária disponibilidade de alma; consistem essencialmente em melodias de guitarra acústica e num canto ardente que se rebela contra o tempo. Por vezes, é como se ouvíssemos a voz de Lennox lá ao longe, no fundo da noite.
A estrutura das composições afastam Young Prayer do universo folk, para um território talvez inclassificável (longe também da pop).
É acima de tudo um trabalho muito pessoal, de exposição profunda.
Dilacerante.

Já repararam que a temperatura subiu?


Adriana Lima, Izabel Goulart e Alessandra Ambrosio.

A REFORMA DAS REFORMAS

Depois de algum tempo de ausência por falta de tempo, vinha hoje de manhã a apensar que já era hora de voltar a escrever no office. E lembrei-me do debate na Assembleia da República, que ontem tive a oportunidade de ouvir na TSF enquanto conduzia.
Estava eu a ouvir o debate e a pensar no LA. Já o vejo a votar PS nas próximas eleições. As medidas do Governo para a Segurança Social mereceram o acordo na generalidade de todo o centro direita e o desacordo de toda a esquerda. E eu pensei, que me tinha enganado nas últimas eleições, que tinha visto mal os resultados. Não tinha ganho o PS?
Não me interpretem mal, eu até concordo com as medidas, não setava à espera é que fossem de iniciativa de um governo socialista.
Eu acho que não se perdia em dividir o mal pelas aldeias, e passar uma parte da factura para as empresas. Não como o Bloco ou o PC queriam, por eles as empresas pagariam tudo, o que levaria a perda de competitividade, a aumento do desemprego e diminuição dos salários. Mas penso que na Concertação Social se pode chegar a um entendimento e a uma fórmula para as empresas pagarem uma fatia.
E pronto, mais uma vez estupefacto lá estou à esquerda do Sócrates

quinta-feira, abril 27, 2006

Fay Wray

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Abelhando

Three Gossiping Women - Honoré-Victorien Daumier

Das conversas de mal-dizer

Certos como um dia atrás do outro; certos como as rotinas de qualquer "repartição" como esta.
Só não se consegue por eles acertar o relógio porque tais fenómenos dão-se de forma espontânea e irregular ao longo do dia. De tal forma as participantes se organizam sem serem guiadas, que quase sou tentado a dizer que são mais hayekianas que muitos austríacos que eu conheço.
Ao longo do dia, sem que nada no ar lhes antecipe o movimento, algumas colegas gravitam até junto de outras colegas e em segundos iniciam-se no ritual: desatam a abelhar. O termo é absolutamente exacto, pois o som que emitem lembra-me o feito pelas abelhas e, assim, melhor descrevo a forma como se expressam que recorrendo ao usual verbo bichanar - para mim, bem mais ruidoso que o abelhar.
Lá se quedam elas, mães de família nos seus cinquenta anos, tardios quarentas e trintas adiantados (presumo que desempenhem o papel de noviças). Senhoras distintas, mães dos seus filhos e dos seus maridos. Algumas, já mães dos seus netos.
O corpo encolhe-se numa espécie de concha; junta-se a outras conchas; a expressão do peso da maternidade de tantos fecha-lhes o rosto. O abelhar sobe de intensidade. Invariavelmente, uma delas, para marcar a veemência de um ponto, abandona o abelhanço e exprime-se numa toada idêntica à usada pela professora do Charlie Brown. Lembram-se?: "whoan ,whoanwhoan...whoanwhoan!". As outras concordam. Ouve-se-lhes um abelhamento mais sofrido.
Nunca lhes vi formarem um grupo compacto. A divisão em pequenas formações, não permeáveis a trocas e contactos, é clara. São proteccionistas (lá se vai a teoria hayekiana...).
Também nunca consegui perceber sobre o que abelham. Deve ser grave. E persegue-as dia após dia. Lamento-lhes o sofrimento que as transforma em conchas abelheiras. Será a escola dos maridos?; os empregos dos filhos? A falta de verduras na dieta dos netos? As férias das sobrinhas da vizinha? A mulher-a-horas que pintou os lençóis com a t-shirt encarnada? Não sei...
Sinceramente, até tenho medo do dia, em que, por mero acaso e melhoria da minha surdez, perceba uma frase, compreenda um "whoanwhoan".
Imagine-se que elas percebem que eu as percebo!?
Creepy...

Wassup Rockers

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Não sou um entusiasta dos filmes de Larry Clark, mas este Wassup Rockers alegrou-me a noite de 24 de Abril.
É, ao contrário do que poderíamos supor, um olhar bem-humorado sobre um grupo de adolescentes hispânicos, de origem salvadorenha e guatemalteca, mas erradamente percebidos como mexicanos, que vivem em South Central, Los Angeles.
Vestem calças justas, de cor negra, e gostam de rock, de punk rock, e, à boa maneira americana, não dispensam o skate. Afirmam a sua diferença numa bairro maioritariamente negro e onde a cultura hip hop é hegemónica.
Vão embarcar numa perigosa e divertida aventura por Beverly Hills, que para alguns acabará por se revestir de contornos trágicos (porque na América há quem dispare primeiro e só depois pergunte…)
Miúdos latinos profundamente americanos, mas que não são vistos (ou percebidos) como tal. Vicissitudes do melting pot americano…

quarta-feira, abril 26, 2006

O Som no Office

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"Seventh Dream of Teenage Heaven" & "Seventh Dream of Teenage Heaven"
Love and Rockets

Debate global, estilo local

Tom Palmer, sobre o seu debate com Francisco Louçã (facilmente se reconhece, nas palavras de Palmer, o característico estilo demagógico e "espumante" de Louçã):

I think that I did rather well in my debate with Francisco Louçã (...), a leader of the Portuguese Left Bloc, member of parliament, and professor of “economics” (meaning, history of thought) in Lisbon. He had no evidence, no coherent arguments, but lots of invective (he referred to the “lies” I offered in my remarks and the “falsified statistics” on which the “lies” were allegedly based), lots of foaming at the mouth about unrelated topics (why the U.S. should not attack Iran, for example), and strange excursions into the history of economic thought, especially how Leontief had shown that additional investment in capital-rich economies represented a “paradox.” I don’t think he made many converts, or even any.

sexta-feira, abril 21, 2006

Onde vou estar no 25 de Abril

Indie Lisboa 2006

Aí está o Indie Lisboa 2006.
Numa primeira impressão, acho que me vou deixar seduzir pelos cineastas do sol nascente, que estão bem representados no cartaz.
Para mim, é acima de tudo uma oportunidade para dar largas à intuição (uma imagem, umas linhas de uma sinopse está feita a escolha do filme) em face do desconhecido. Nestas coisas eu até gosto de dar saltos no escuro.
Há a incursão de Herzog pela ficção científica (The Wild Blue Yonder) e uma secção de dedicada à música, de que destaco o I’m your man, em torno da figura de Leonard Cohen.
Resta saber se, este ano, marco encontro com a sorte e consigo obter os tão almejados bilhetes. O ano passado foi frustrante, fiquei por exmplo à porta do Big Red One, não vi a versão restaurada desta obra de S. Fuller.

quinta-feira, abril 20, 2006

Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor 2006

21 de Abril às 18h30 - Mesa Redonda: Weblogs: o autor/editor

Local: Biblioteca Municipal Central – Palácio Galveias - Entrada livre

Com a participação de:
- Francisco José Viegas, Origem das Espécies
- Catarina Campos do 100 nada , Devagares , do babyblog O meu filho e eu e da Sociedade Anónima.
- João Villalobos, autor do blog Prazeres Minúsculos
- Rui Branco, autor do blog Adufe
- Ana Cláudia Vicente, Quatro Caminhos e co-autora do Amigo do Povo

A moderação do debate vai ficar a cargo da Isabel "Miss Pearls" Goulão.

quarta-feira, abril 19, 2006

A nova agenda da esquerda

André Azevedo Alves disseca a metamorfose da “extrema-esquerda” no seu artigo da Atlântico, do discurso ancorado no marxismo (independentemente das sua matizes, estalinista, trotskista, maoista, etc.) para o do pós-modernismo, do multiculturalismo e das chamadas causas fracturantes.
Ora, em alguns pontos, sou obrigado a convergir com o André, nomeadamente quanto ao lamentável alinhamento da esquerda com a agenda islamista, como se viu no caso das caricaturas ou em estranhas elegias a regimes despóticos do Médio Oriente só porque estes ousaram desafiar o imperialismo americano. Também lhe dou razão no caso da religião, os direitos das mulheres parecem existir apenas em relação ao cristianismo (ou para sermos precisos em relação ao catolicismo) e rapidamente são dissolvidos na totalidade multiculturalista quando entramos, por exemplo, na esfera do Islão. A defesa de tais direitos parece ter aqui um valor instrumental.
No que discordo é na origem da metamorfose, que o articulista identifica com o colapso do chamado socialismo real, da URSS à Albânia.
A mudança é, pelo contrário, bem anterior, remonta às décadas de sessenta e setenta, com o emergir de novas causas, direitos das minorias, a afirmação das diferenças (sexuais, culturais) e as novas narrativas históricas (sujeitos/povos excluídos da História). Eu creio que a esquerda se deve orgulhar deste legado (eram na essência causas nobres), não obstante as perversões do presente, que eu identifico em grande parte com o a redução da esfera individual ou da cidadania, em nome de toda a sorte de comunitarismos (lembro que há até quem defenda como alternativa o modelo de coexistência das comunidades instituído no antigo Império Otomano).
Por fim, quem primeiro abraçou estas novas causas foram os movimentos e partidos políticos que se situavam à esquerda dos PCs europeus. Estes últimos só mais tarde integraram este leque de novas causas, sendo que no caso do partido comunista português muito timidamente.

Alexandra Kollontai

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Imagem de uma aristocrata bolchevique.

terça-feira, abril 18, 2006

Marx e a crítica do Estado

Compreende-se imediatamente que num país como a França, onde o poder executivo dispõe de um poder de um exército de funcionários de mais de meio milhão de indivíduos e tem portanto constantemente sob a sua dependência mais incondicional uma massa imensa de interesses e existências, onde o Estado manieta, controla e regulamenta, vigia e tutela a sociedade civil, desde as suas manifestações mais amplas de vida até às suas vibrações mais insignificantes, desde as suas modalidades mais gerais de existência até à existência privada dos indivíduos, onde este corpo parasitário adquire, pela mais extraordinária centralização, uma omnipresença, uma omnisciência, uma capacidade acelerada de movimento e uma elasticidade que só encontram correspondência desamparada, na disformidade incoerente do corpo social, compreende-se que em semelhante país, ao perder a possibilidade de dispor de postos ministeriais, a Assembleia nacional perdia toda a influência, se ao mesmo tempo não simplificasse a administração do Estado, não reduzisse o mais possível o exército de funcionários e finalmente não deixasse a sociedade civil [bürgerliche Gesellschaft] e a opinião pública criar os seus órgãos próprios, independentes do poder do governo. Mas, o interesse material da burguesia francesa está precisamente entretecido do modo mais íntimo com a conservação dessa extensa e ramificadíssima máquina do Estado. Coloca aqui a sua população excedente e completa sob a forma de vencimento do Estado o que não pode embolsar sob a forma de lucros, juros e rendas e honorários.
Karl Marx, in O 18 de Brumário de Louis Bonaparte
Nesta passagem do 18 de Brumário, encontramos um Marx ferozmente crítico da burocracia estatal e fazendo a defesa da sociedade civil.
É importante, à esquerda, um olhar despido de preconceitos sobre o Estado.
Toda a extensão do Estado não é necessariamente boa nem se traduz em benefícios sociais para as populações, acabando ao invés por cercear a sua energia criadora. Foi esse o logro das sociedades do leste do socialismo real, mas que ainda hoje assola muitas das correntes que, à esquerda, procuram resistir à hegemonia do pensamento liberal.
Urge pois colocar o indivíduo no centro do debate político, fazer com que este deixe de ser monopólio discursivo da direita liberal

Pequenas contrariedades

São aquelas que num dado momento, muitas vezes solitário, nos afectam e nos deixam com vontade de reagir de forma inversamente proporcional ao incómodo causado. Reagir de forma desproporcionada e causadora duma vingança terminal sobre quem ou o quê nos contrariou.
Há uma que me acontece de forma recorrente. Suponho mesmo que nunca a conseguirei evitar.
Hoje aconteceu de novo: fui buscar o carro ao estabelecimento que o lava e limpa (o que acontece só quando os demais passageiros me começam a questionar sobre os objectivos de tanta camuflagem exterior e interior na viatura) e lá estava. Ou melhor, não estava. O volante não estava na mesma posição, o banco não tinha a mesma inclinação nem estava à distância correcta do volante e pedais. Nem a altura era a mesma! O ângulo dos espelhos, claro estava todo alterado.
Mas quem são estes tipos que sentem necessidade de personalizar o interior do carro dos outros para a viagem que fazem desde a zona de lavagem até à da limpeza e até ao estacionamento (no caso de hoje, ainda eram uns valentes 10 a 15 metros ao todo)?
Agora expliquem-me lá como é que recupero do desgaste que sofri por tentar colocar tudo na posição exacta...? A coordenação das distâncias e posições de condução de cada um são um exercício que, após se atingir o ponto de equilíbrio, proporciona uma satisfação semelhante à sentida quando se encontra o ponto G da oposição. Quem perturba esse equilíbrio, intromete-se na relação íntima entre condutor e automóvel. Infelizmente não há maneira de, sem parecer lunático e picuinhas, conseguir explicar isto a quem acabou de restaurar o aspecto sexy da nossa viatura.
Era como se nos fossemos queixar à cabeleira da nossa mulher por ter exagerado na coloração ou extravagância do seu corte de cabelo. Também nessa situação, somos nós que temos de nos adaptar, fazendo, quando muito, algumas sugestões (muito subtis) sobre uma futura visita ao cabeleireiro. Mas apenas depois de reconhecer, com boa cara, que o resultado foi bastante positivo.
Calada cá dentro fica a vontade de reagir a estas pequenas contrariedades e a quem as provocou. Uma coisa bem pessoal. Algo nada compreensível para os outros. Por isso, nem se percebe como se deu ao trabalho de ler isto até ao fim...

O dever de obediência

A acusação colectiva levantada contra o Estado alemão na realidade o que visa é a obediência levada ao absurdo, a obediência mesmo nos casos em que a desobediência teria constituído a única atitude humanamente justificada. Porém, tudo bem pesado, não caracteriza esta obediência as relações do indivíduo com a autoridade de que depende, e isto em todos os Estados do mundo? Mesmo nos Estados em que a sujeição é muito moderada não é possível evitar que o dever de obediência do cidadão para com o Estado entre em choque com o seu dever de amor ou de respeito pelo próximo (é o caso do oficial de diligências que obriga a pôr na rua os móveis de uma família, ou o do militar que manda um subordinado para a morte num combate que não lhe diz respeito). No fim de contas, o essencial reside mesmo nisto: no facto de se estabelecer o princípio da obrigação de obediência. Uma vez admitido este princípio, rapidamente se torna visível que o Estado que exige obediência dispõe dos meios para se fazer obedecer, mesmo nos casos mais odiosos. A obediência para com o Estado não é divisível.
Stig Dagerman, in Outono Alemão

segunda-feira, abril 17, 2006

A blogosfera ressuscitada

O Paulo Pinto Mascarenhas concluiu pela morte da blogosfera.
Vai daí, fechou o Acidental.

Vai daí, abriu o ABC.

Marque na agenda

"As Edições Praedicare e o Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa convidam para a sessão de apresentação do livro de André Azevedo Alves

Ordem, Liberdade e Estado
Uma reflexão crítica sobre a filosofia política em Hayek e Buchanan


a ter lugar na Sala D. Henrique o Navegador, do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa (Palma de Cima), no próximo dia 18 de Abril de 2006, às 18.00 horas, com apresentação de Rui Ramos. A sessão será presidida por João Carlos Espada"

Memória do fim de semana

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O meu Alentejo não é plano nem é dourado.
Não este, não agora.

Obrigado à S. pelas fotos.

quinta-feira, abril 13, 2006

Ainda a França

Eu sei que é próprio do fervor ideológico o julgamento expedito, o reducionismo sobre as razões dos outros.
No cristalino mundo dos liberais nossos coevos, os jovens franceses agem contra o seu interesse próprio (ironia das ironias, aqui os liberais recorrem, certamente que de forma involuntária, ao conceito marxiano da falsa consciência), manipulados pelos actores do costume, os sindicatos e a extrema-esquerda. Estão pois excluídos do grupo dos agentes racionais, marionetas que são…
A mesma estreita lógica na abordagem do Estado e do mercado: se os jovens do hexágono preferem os empregos da República ao promissor universo das multinacionais é porque não amam o risco intrínseco à própria vida.
Nesta visão do mundo, quem protesta quer apenas recolher-se à sombra protectora do Estado, esfera destituída de qualquer valor. Já aceitação do CPE seria um gesto genuíno de amor à liberdade e ao mercado.
A amplitude dos protestos contra a institucionalização da precariedade esconde motivações diversas. É isso que explica a dificuldade dos actores políticos em enquadrar (eu nem gosto desta palavra) as manifestações, partidos de esquerda e sindicatos só mais tarde juntaram a sua voz à dos estudantes liceais e universitários.
Uma multidão de indivíduos escolheu a rua para dizer não a uma proposta política que lhes foi apresentada (quer dizer imposta) como o único caminho possível (esta fórmula em si mesma a rejeição da política, pois anula a escolha).
Há um grande potencial neste movimento que importa traduzir em termos políticos.
É esse o desafio que se coloca a todos os que nele participaram. E também a toda a esquerda.

L'individualisme positif, c'est l'idéal d'un monde où les engagements, les liens seraient choisis et non imposés. C'est la conception aussi bien de l'amour que de l'élection démocratique. Or qui pourrait affirmer que le CPE est un «lien choisi» par les jeunes ?

quarta-feira, abril 12, 2006

Pater Familias

Para o STJ, fechar crianças em quartos é um castigo normal de «um bom pai de família» e as estaladas e as palmadas, se não forem dadas, até podem configurar «negligência educacional»(...)
O caso começou quando um Tribunal de Setúbal deu como provado que a arguida foi responsável pelo lar residencial do Centro de Reabilitação Profissional entre 1990 e 2000 e que, pelo menos desde 1992, fechou frequentemente um menor de sete anos (que sofria de psicose infantil muito grave) na despensa, com a luz apagada, para que aquele ficasse menos activo.
Também foi dado como provado, e o Supremo também validou a acusação, que a educadora «amarrou os pés e as mãos de um menor à cama».

[RSO]
Parece-me que o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça recorda que um pai de família (ou quem age em seu nome) deve manter e exercer certos poderes, enquanto figura de autoridade e responsável pela educação dos filhos.

Quid Juris?
Ou simplesmente: que pensais, caros leitores?

Adenda: Via Blasfémias, eis o link para o acórdão.

Visto

Example
Romeu declama o seu amor a Julieta na peça "As Obras Completas de William Shakespeare em 97 minutos"

A Companhia Teatral do Chiado (reduzida $$$...) tem este espectáculo em cena há 10 anos. A casa continua cheia.
Absolutamente genial, deixou-me com dores nos músculos da cara, após duas horas a rir.

Regresso

O FCG, distinto Insurgente, reactivou o "The Guest of Time".
Volta a estar na coluna da direita e a fazer parte das visitas diárias.
Passem por lá. Podem dizer que vão daqui.

O caminho escolhido

Caro Marvão, como saberás tenho nada a opôr aos movimentos de cidadãos e à sua livre expressão pública.
Simplesmente, ao contrário do que indica a tua citação de Régio, os jovens, os sindicatos e demais organizações políticas que contestaram o CPE sabem perfeitamente por onde querem ir. Querem continuar na mesma estrada que os trouxe aonde estão. Mais: querem alargar e prolongar essa estrada e querem que ela continue uma espécie de "SCUT", onde todos beneficiam do que os outros pagam, onde tudo lhes é apresentado como uma gratuitidade servida pelo estado, onde a felicidade lhes é garantida por um contrato resultante e enquadrado pela tal justiça social. Basta atentar na percentagem de jovens que, segundo as sondagens, quer ser funcionário da República: 75 %!
Na minha modesta opinião, continuarão a agravar-se as diferenças económicas e sociais com o UK, para não falar dos USA ou mesmo com as nascentes economias de leste. Os que hoje aplaudem a resolução de abandonar o CPE continuarão a dizer que a realidade é um erro que pode ser corrigido por decreto. Os outros estarão sempre errados e não haverá evidências que os conveçam.
Os franceses vão para onde escolheram ir.
Texto já colocado no Insurgente.

terça-feira, abril 11, 2006

Vive La France!

Example
A importância da mobilização e da acção política de rua, o recuo por parte do governo de Dominique de Villepin é expressão do poder dos movimentos sociais.
Em França, uma extraordinária mobilização cívica pôs cobro à ignomínia representada pelo CPE (Contrato para o Primeiro Emprego).
Estou certo de que se Foucault fosse vivo teria orgulho nestes manifestantes, que recusaram a chantagem do emprego sem direitos ou em troca o fantasma do desemprego. A insubmissão face a um futuro feito de regressão social.
Na pátria tricolor permanece bem vivo o sentimento de cidadania. E a esperança.
O caminho é feito de incerteza, a França, como o resto da Europa, está numa encruzilhada, o desemprego assola com especial incidência os jovens, mas mesmo assim é preciso saber dizer não. Como José Régio : “não sei por onde vou, não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí”.

Visto

Example

Um grande filme e uma grande interpretação, magnífica mesmo, de Felicity Huffman.
Um "road movie" em que a viagem nos mostra mais uma vez que cada ser humano é diferente e pode aspirar a realizar-se de maneiras não conformes às regras impostas. Um pai com aspirações a ser mãe e um filho com aspirações a ser estrela porno-gay. Dois seres que se desconhecem mas que são atirados um ao outro e mostram que mesmo quem vive na margem da sociedade tem algumas dificuldades em aceitar quem se diferencia.
Pelo meio, momentos de comédia como só as pequenas tragédias da vida permitem.
O Óscar tinha-lhe sido muito bem entregue.

Os fundamentalismos tocam-se

Houve, no Prós e Contras de ontem, uma interessante troca de argumentos entre o prof. João César da Neves e a historiadora Fátima Bonifácio.
Veio à luz o abismo que separa a doutrina católica do liberalismo (que aliás a História prova à exaustão). Basta tão-só uma contenda argumentativa para fazer ruir o árduo trabalho ideológico de conciliação do catolicismo com a filosofia liberal. Só não percebe quem julga que a filosofia liberal é apenas mercado e abstracção económica.
Vimos também o prof. João César das Neves demonstrar compreensão pelas motivações dos fiéis islamistas, talvez por com estes partilhar o ódio aos dissolutos modos de vida europeus.
Tal como para os pregadores do Islão militante, também para João César das Neves Europa rima com corrupção dos costumes e da vida familiar.
Os fundamentalismos tocam-se…

segunda-feira, abril 10, 2006

Gouveia Art Rock

Em Gouveia, o universo do progressivo, uma faixa etária mais velha, com filhos, mas cujas marcas de pertença a uma tribo musical permanecem bem vivas.
O Peter Hammill, esse, deu o concerto que se esperava, intenso e arrebatador...
É um privilégio ouvir in loco o antigo músico dos Van Der Graft Generator, mas também pode ser muito perigoso...É grande o risco de comoção, não é música para fraca gente.
Respira-se uma atmosfera de liberdade no Gouveia Art Rock, ambiente descontraído e uma relação sadia com o tempo (que aqui é muito elástico).
O festival não esqueceu o crítico de música Fernando Magalhães, através de uma recolha e exposição de artigos (não podia, claro, faltar um sobre o Robert Wyatt) onde pudemos recordar a escrita, elegante e ágil, que não dispensava o humor. Foi bonita a homenagem.

Carlitos

Example

Ele marca. Ele voa.
E não pensem que me apanham muitas mais vezes a aplaudir um benfiquista, embora agradeça o seu empréstimo. Aparentemente, o talento e empenho dele não fazem falta na Luz.

The Ringleader

Digam lá o que disserem os críticos musicais em relação ao seu último disco, os fãs parecem pensar que "he still has it":

Singer Morrissey has topped the first official UK album chart to include downloads.
Ringleader of the Tormentors secured the number one spot, ahead of Massive Attack's Best Of, at number two.(...)
This weekend sees full album downloads become part of the main rundown, a year after digital single sales were merged into the singles top 40.

(BBC; agradeço a dica de um fã)

sexta-feira, abril 07, 2006

Peter Hammill

Álcool, tabaco e onanismo

O Governo prepara-se para legislar nas frentes do álcool e do tabaco.
Muitos encaram com apreensão o advento de tais medidas; eu limito-me a olhar estas coisas com o pessimismo da praxe.
Sobre a redução da taxa de alcoolemia, não creio que provoque a almejada mudança de comportamento dos condutores. Quem conduz sob o profundo efeito do álcool, não vai de repente deixar de fazê-lo só porque a taxa mínima baixou de 0,49 para 0,2 gramas por litro...
O afã de a tudo responder sempre com mais e mais legislação restritiva acaba por ter resultados pífios. É uma espécie de onanismo governamental, a satisfação que ministros e secretários de estado retiram de tais práticas não resolve problema nenhum. Assim será enquanto não se perceber que o problema não reside na capacidade de produzir melhores leis, mas sim na insuficiência dos meios de fiscalização.
O fumo provoca em mim sentimentos contraditórios. Eu não sou fumador, mas a minha inclinação noctívaga não raro me arrasta para ambientes impregnados pelo fumo. O arrependimento chega no dia seguinte quando vejo o cheiro do tabaco entranhado na roupa; uma sensação de desperdício invade-me nessa altura. Desejo a proibição.
Depois, lembro-me dos clubes de Jazz, normalmente em caves em que não vemos um palmo à frente do nariz por causa do fumo (eu sei que estou a exagerar, é por causa do cinema...).
Há todo um imaginário que me faz recusar a proibição de fumar em tais lugares; uma sedução no fumo do tabaco.
Se a lei for promulgada nada mudará no entanto, visto que somos um país que é pródigo em não aplicar as leis que produz. É um traço histórico que só os nossos governantes (à semelhança aliás do seus antecessores) ainda não perceberam. E assim será, enquanto a fiscalização for a excepção que confirma a regra.
Vamos continuar a poder sentir o doce fumo do tabaco no bar de Jazz da próxima esquina.

I'll have a pint!

Example

Cheers, mate!

"What'll you have, will you have a pint
Yes, I'll have a pint with you, sir
And if one of us doesn't order soon
We'll be thrown out of the boozer"
[Waxie's Dargle]

Allez Nombreux!

"As Edições Praedicare convidam para a sessão de lançamento do livro de André Azevedo Alves

Ordem, Liberdade e Estado
Uma reflexão crítica sobre a filosofia política em Hayek e Buchanan


a ter lugar no Rivoli (Cafetaria-Bar, 3º piso) no Porto, no próximo dia 12 de Abril de 2006, às 21.30, com apresentação de Paulo Castro Rangel e Rui de Albuquerque. A sessão será presidida por José Manuel Moreira. "

Dia 18 de Abril, também em Lisboa.

O Som no Office

Example
Sonho Azul - Né Ladeiras
Ouçam só: Pedro Ayres de Magalhães, Rcardo Camacho, Tomás Pimentel, Edgar Caramelo e Mário Laginha, só para nomear os mais conhecidos. E a voz da Né Ladeiras, claro.
Uma excelente recordação, já com quase 24 anos. Ah pois é...

Pergunta pertinente


Quo Vadis, Acidental?

Fumadores ou não fumadores?

Esta devia ser a pergunta a que os proprietários de bares e restaurantes deviam ser livres de responder.
Alguém que tem um negócio deve ser livre de poder definir o mercado para os seus serviços e produtos. Da mesma maneira, os eventuais interessados na sua aquisição são livres de escolher quem será o seu fornecedor. Desde que seja conhecido do cliente que determinado estabelecimento decidiu não proibir o fumo nas suas instalações, a opção de entrar, tomar uma refeição, beber um copo enquanto ouve música e dança (ou não...) no mesmo espaço em que outros fumam, só pode ser considerada da inteira responsabilidade de quem fez a escolha: o cliente.
O mercado deverá ditar se os empresários optarão por ter um estabelecimento sem restrições ou condicionando o acender de cigarros. Se o mercado para espaços deste tipo, livres de fumo, se revelar vantajoso, porque os consumidores querem evitar o fumo alheio, não haja dúvidas que estabelecimentos dessa natureza aparecerão e tornarão os seus proprietários em empresários bem sucedidos.
Um argumento usado para suportar a intervenção do estado para legislar nesta matéria, será certamente o efeito perturbador do fumo nos não fumadores. Pode-se dizer que se apela ao tradicional reconhecimento de uma externalidade negativa derivada do prazer que alguns cidadãos têm em fumar. Mais uma vez o estado assume o seu papel de corrector, juntando-lhe outro argumento, uma consequência do anterior: o do elevado custo de tratar doenças em fumadores passivos. Cabe aqui lembrar, agora, o papel "social" do estado como provedor de serviços médicos e os custos que tal acarreta, dando-lhe razões para controlar os hábitos e comportamentos dos cidadãos. Isso é aceitar um paradigma que deve ser questionado: que o estado deve velar pelos cidadãos como um pai de família a quem não deve ser questionada nem a autoridade legal nem moral.
Respeitem-se os direitos de propriedade e a liberdade contratual (de livre estabelecimento e de liberdade de escolha do consumidor) e devolva-se aos cidadãos a responsabilidade pela consequências das suas decisões. Quando sair para me divertir, não quero saber que os vigilantes e preocupados servidores do bem comum, prepararam tudo para que nada de mal me possa acontecer, apesar de eu poder errar nas minhas escolhas. Deixem-me escolher: fumadores ou não fumadores?

Texto já colocado no Insurgente.

quinta-feira, abril 06, 2006

O novo deputado do BE

(via Blasfémias)

O BE mudou um dos seus deputados por Setúbal.
O Prof. Rosas retira-se e para o seu lugar entrou, desde 1 de Abril, António Chora que até agora era o coordenador da CT da Autoeuropa (DD):

«Quero usar o lugar de deputado para fazer valer as minhas ideias, nomeadamente, no que diz respeito às doenças profissionais que afectam milhares de trabalhadores da indústria automóvel»(...)
Militante do Bloco desde 2001, Chora foi operário toda a vida profissional, tendo transitado da Siderurgia Nacional para a Auto Europa em 1992. Até 1999 pertenceu ao PCP, partido que o decepcionou após a queda do muro de Berlim.

«Havia pessoas que eram boas, só que discordavam ou iam embora e deixavam de o ser», afirma, sem uma ponta de nostalgia, recordando que «a ortodoxia marxista-leninista desapontou-me e não gostava dos controles das células dentro das empresas».

Já sobre a responsabilidade de substituir Rosas, Chora reconhece que «é grande, ele é uma pessoa com uma licenciatura, eu só tenho a licenciatura da vida». Uma situação que o novo deputado já expôs ao líder parlamentar bloquista, Luís Fazenda, o qual ter-lhe-á dito que «era útil e que funcionamos em equipa».

Desejo a este sindicalista empenhado, com convicções anti-globalistas, uma profícua participação nos debates e demais trabalhos parlamentares.
Temo que a saída do Prof. Rosas signifique o abandono das causas nas quais se empenhou enquanto representante de Setúbal.

Um bom individualista

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Corto era um bom individualista... Acho que era de esquerda, à sua maneira lá se ia comprometendo...
Era um libertário e nunca deixava cair um amigo.

Retirei deste sítio esta curta biografia :
Corto Maltese est le fils de la tres belle et célèbre Niña de Gibraltar dont Ingres a peint le portrait; et d'un marin des Cornouailles. Sa mère lui transmit son côté gitan, il grandit dans un mileu baigné de magie, de l'art de lire le passé et l'avenir dans les cartes ou les lignes de la main, et d'habitudes étranges héritées du tepls où les Maures habitaient l'Espagne. dans les cartes ou les lignes de la main, et d'habitudes étranges héritées du tepls où les Maures habitaient l'Espagne. Son père, originaire d'une terre de pirates, de sorciers, de fées, de fantômes canaille, lui communiqua involontairement des bribes du monde celtique à travers un mot, une gifle ou une caresse.
Il passa une grande partie de son enfance et de son adolescence à dévorer des romans d'aventure comme ceux de Stevenson ou de Melvile.
Un detail cependant préoccupait sa mère: Corto n'avais pas de ligne de chance."No te preocupes, Niña" lui répondit il un jour où elle le mettait en garde;" la chance, c'est moi qui la fais". Il alla chercher le rasoir de son père et traca un profond sillon sanglant à l'endroit même de la fameuse ligne.
Puis, vers vingt ans, il partit vivre lui même les aventures qu'il n'avait fait que lire jusqu'à present; il fit la connaissance de Jack London à Port Arthur (aujourd'hui Lüshun, au Japon), pendant la guerre russo-japonaise (1904-1905); et aussi celle de Raspoutine , alors déserteur de l'armée russe, et qui allait par la suite devenir un personnage central des aventures contées par Hugo Pratt.(cf "Corto Maltese: La jeunesse", Casterman 1985)
Et c'est dix ans plus tard; par un beau jour de 1914, il est secouru par un catamaran naviguant aux large des îles Jidji alors qu'il se trouvait à la dérive, ligoté sur un radeau; et c'est le début de "La Ballade De La Mer Salée" (Casterman 1975), la première des aventures de Corto Maltese, par Hugo Pratt .
La mort de Corto a été située par l'auteur dans le cadre de la guerre d'Espagne, ce qui est symbolique en fait de l'effondrement d'une certaine perception du monde : c'est le signal de l'avènement d'un fascisme européen de droite, et d'une dictature soviétique en URSS. On peut dire qu'en Espagne, les idéalistes ont perdu, pris entre deux dictatures ( le POUM, qui représentait la branche la plus romantique, à mon avis, a été "mise au pas" par les soviétiques ).
D'autre part, Cush, le beni amer des "Ethiopiques ", apparaît de nouveau dans le premier album des Scorpions du Désert, pour dire au lieutenant Stella (fasciste italien plutôt dilettante) et à Koïnsky ( un polonais qui pourrait être le fils spirituel de Corto ) que Corto a disparu (et non a été tué) durant la guerre d'Espagne.

O Som no Office - versão "partam esta merda toda já!"

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Tenho sérias dúvidas que os coleguinhas da repartição o apreciem...

quarta-feira, abril 05, 2006

Uma constituição muralhada

O artigo 288º da CRP - Limites materiais da revisão - contempla, entre outras alíneas:

As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
(...)
e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e das associações sindicais;
f) A coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção;
g) A existência de planos económicos no âmbito de uma economia mista;

Antes que me chamem "fássssista", esclareço que nada me move a favor da exploração do proletariado, do qual sou parte. Não entendo é que a relação contratual entre duas entidades livres na sua actuação (empregado e empregador) deva estar prevista na constituição e se assinale em especial os sindicatos e as comissões de trabalhadores.
Já agora, trinta anos depois, alguém ainda sabe (ou alguma vez soube) o que é o sector social de propriedade dos meios de produção?

Quanto tempo podemos esperar?

"Contra aquele texto, votava de certeza, porque era um texto completamente desadequado da realidade portuguesa e europeia e porque era um texto que, além de uma linguagem puramente marxista, que não deve existir nas Constituições, impunha o socialismo ao povo português"(...) Quanto à revisão extraordinária pedida pela direita, Freitas do Amaral é cauteloso e considera que "devemos dar tempo ao tempo, respirar, meditar, reflectir, estudar".

[RR]
Ainda bem que há pelo menos um ministro do governo socialista que rejeita o socialismo.

Quanto mais anos (lustros?, décadas?) terá o país de esperar para que todas as preocupações, que tornam Freitas do Amaral tão cauteloso, se dissipem e possamos ter uma constituição que devolva aos portugueses mais liberdade e mais direitos?

É preciso ter noção que a revisão constitucional depende dos deputados e estes dos partidos que representam. Dada a prevalência socialista (mesmo na sua vertente social-democrata) na política portuguesa, temo que a lentidão de processos preconizada pelo ex-presidente do CDS está assegurada e contribuirá para a longevidade da actual CRP ou para uma sua versão, cautelosamente retocada. Na defesa desta continuidade temos de contar com os partidos de extrema-esquerda que querem manter um texto que assegure a "justiça social", mantendo o papel do estado (e a sua dimensão) como responsável pela sua aplicação.

Se a CRP serve de entrave às mudanças profundas que o país tanto necessita, não é menos verdade que ela ainda reflete a vontade política expressa nas urnas. Será então necessário que, em primeiro lugar, se ganhe a guerra das ideias, levando a que os cidadãos mostrem aos seus representantes que não há mais tempo para cautelas.

Texto já colocado no Insurgente.

O Som no Office - versão "partam esta merda toda já!"

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Continua a ser um grande, grande disco.
Perigoso ouvi-lo enquanto se conduz.
Perigoso ouvi-lo na repartição.
Aconselha-se a audição com o volume em nível elevado.

Vertigo

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Esta irresistível atracção pelos abismos...

terça-feira, abril 04, 2006

Angola, o novo eldorado

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O primeiro-ministro José Sócrates visita Angola com uma comitiva que reúne a nata do empresariado português, quer dizer grosso modo, banqueiros e construtores civis.
A antiga colónia portuguesa cresce hoje a uma taxa superior a 20% ao ano e é aos olhos de muitos portugueses outra vez terra de sonho; promessa de um novo eldorado.
Ao longo da nossa história, sempre vivemos de costas voltadas para a Europa, as oportunidades de mudança sentíamos que estavam além-mar. Primeiro, a descoberta do caminho marítimo para a Índia e a rota especiarias ao nosso alcance, depois o ouro do Brasil. No século XX, eram as colónias africanas e Angola “a jóia da coroa”.
É um sentimento enraizado em muitos portugueses, que nem mesmo a euforia da entrada na União Europeia conseguiu dissipar. Por mais fundo estrutural que viesse de Bruxelas, os empresários não entreviam oportunidades de expansão e internacionalização. Limitaram-se tão-só a gerir o estado de coisas e a aguardar a vinda do futuro.
Perante Angola, a atitude da classe empresarial é em tudo distinta: o optimismo desenfreado, sentimento aliás comum à entourage do primeiro-ministro, a crença feita num futuro de expansão e internacionalização. Enfim, oportunidade é palavra que anda na boca do mundo.
A euforia é no entanto má conselheira e poderemos, no fim, não obter os ganhos que esperamos. Se a perspectiva é ir para Angola “rapidamente e em força” em busca de dinheiro fácil, creio que o saldo será negativo; nem portugueses nem angolanos beneficiarão com a prevalência de tal atitude.
Entre os angolanos há mesmo alguma desconfiança em relação ao empresário português, representação certamente assente em estereótipos mas também fundada na realidade presente. Atente-se neste exemplo que nos dá o escritor José Agualusa na sua crónica, de 26 de Março, na Pública :
Nas conversas, ao domingo, nos bares da ilha, os angolanos comparam preços. Alguém lembra que o Estádio dos Coqueiros foi reconstruído por uma empresa portuguesa por vinte milhões de dólares. Já o estádio do Interclube de Luanda, levantado de raiz por uma empresa chinesa, terá ficado em dois milhões e meio de dólares. O regime angolano confia na capacidade de trabalho dos chineses. A execução destas obras nos prazos previstos –apenas vinte meses, por exemplo, no caso do Caminho de Ferro de Benguela – talvez possa melhorar a imagem, muito degradada, do Presidente, José Eduardo dos Santos, e do seu partido, ainda a tempo das próximas eleições.
Lembra ainda a importância da cultura e da educação nas relações entre os dois países, vertentes esquecidas nesta visita de Sócrates.
Onde Portugal se pode distinguir da China, de Israel ou até mesmo da África do Sul, potência regional, é no campo da educação e da cultura.

Be afraid; be very afraid...

Sobre o raid que a Federação Internacional da Indústria Fonográfica anunciou (RR):

Quem for apanhado a gravar canções de forma ilegal arrisca-se a uma multa que pode chegar a cinco mil euros.(...)
Denunciar situações ilegais é fácil, por vezes basta um telefonema anónimo, mas, investigar exige trabalho e um mandado judicial, porque que a lei portuguesa protege os dados pessoais informatizados, salvo ordem em contrário por parte de um juiz, como explica Clara Guerra, da Comissão Nacional de Protecção de Dados Informáticos.
Contudo, existem alterações à vista. No final do mês de Fevereiro foi aprovada uma nova directiva comunitária que irá permitir o livre acesso das autoridades policiais a dados protegidos.
A directiva terá agora que ser transposta para a lei portuguesa, o que obrigará os operadores nacionais a criarem condições de armazenamento para uma larga quantidade de registos.

O que deve acontecer lá para o dia de São-Nunca-À-Tarde...

segunda-feira, abril 03, 2006

Mas está a falar do quê...!?

O médico esclarece que "o grande negócio está nos hospitais, mas que para estes renderem também os centros de saúde têm de ser envolvidos". Joaquim Judas refere uma política orientada para a "mercantilização da saúde e privatização dos serviços, assente na desresponsabilização do Estado e na violação do texto da Constituição da República", uma vez que "se fala que os utentes poderão ter de pagar 70 por cento dos custos de internamento", situações motivadas pela "crise do neo-liberalismo".

Joaquim Judas, médico e membro da Direcção da Organização Regional de Setúbal (DORS) do PCP, no "Setúbal na Rede".

Como é que pode, a tal "crise do neo-liberalismo", ser responsável pela urgência de tratamento do estado em que se encontra o SNS, um dos maiores orgulhos dos planeadores socialistas?

Já colocado no Insurgente.

Os portugueses na mira da Indústria Musical

Ontem, na Pública, John Kennedy, presidente e administrador executivo da IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica), revelou que os portugueses vão receber uma carta a intimá-los ao pagamento de uma indemnização ou em contrário enfrentarão um processo judicial. Tudo por causa da pirataria de músicas que grassa na net.
Não sei aonde tudo isto vai dar, se com a intimidação e a devassa da privacidade a indústria colherá frutos junto dos tribunais portugueses. Mas registei com ironia o facto de a indústria se vangloriar por hoje disponibilizar downloads legais à módica quantia de 99 cêntimos a música. Graças à internet, ficámos a saber como é generosa a indústria...
É certo que não podemos ignorar a questão dos direitos de autor, mas este processo não se esgota somente aí.
Recordo por exemplo a passagem do vinil para o CD, em que os preços quase duplicaram e os lucros das editoras à época dispararam. É deste quinhão que estas não querem abrir mão, utilizando como armas de arremesso os direitos de autor e a sobrevivência dos criadores e da própria música.
A internet veio permitir mais divulgação e informação sobre músicas, num tempo em que os medias tradicionais se uniformizam (a televisão, as radios e os jornais; em Portugal já conhecemos melhores dias no que toca à diversidade informativa). Aí, as comunidades de partilha de ficheiros musicais desempenham um papel importante, disponibilizando álbuns que não estão disponíveis nos canais de vendas, propagando novas sobre músicos ignorados pelas grandes editoras ou que em editoras marginais se debatem com dificuldade em alargar o seu público. Esquecemo-nos de que as comunidade formam gostos, estruturam o consumo e reforçam segmentos do mercados. É contra este mundo plural que se move a indústria.

Vashti II

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Vashti antes da partida. E no esplendor dos anos sessenta.

4.ª Festa do Jazz

Terminou ontem a 4.ª Festa do Jazz, realizada no teatro São Luiz.
No último dia, estiveram na sala principal, Paula Oliveira, Laurent Filipe e a Estardalhaço Brass Band.
Paula Oliveira esteve bem, demonstrando que o cancioneiro português merece ser revisitado pelos músicos (e cantores) de jazz. João Moreira conseguiu que o seu trompete fosse muitas vezes a segunda voz da vocalista.
Muito bem esteve o quinteto de Laurent Filpe, conseguindo por vezes uma avalanche de som que transformou a prestação numa festa. Um destaque especial para Mário Delgado e para Rodrigo Gonçalves - muito bem ambos.
Para terminar em festa, o estardalhaço dixie e blues dos metais.

Vejam as fotografias do que se passou no São Luiz nestes três dias e os comentários do João Moreira dos Santos, no "Jazz no País do Improviso! ".

Visto

Já se sabe que os escribas do Office têm algumas (bastantes...) discordâncias na maneira como vêem o mundo que os rodeia. Apesar de tudo, há várias coisas que lhes são comuns. Uma delas será o prazer de ir ao cinema, de ver um filme.
Isto a propósito do "Syriana" que o Marvão foi ver. Também eu fui ver a obra que rendeu um Óscar a Clooney.
Não percebi.
O que poderá ter levado os membros da academia a entregar-lhe a estatueta, suposto símbolo de performance acima da média e perfeitamente destacável de outras, ultrapassa-me. A não ser que a actividade de Clooney neste ano que passou, vista como uma mensagem política, fosse a razão de tal demonstração de apreço. Ainda não vi "Good Night and Good Luck", mas espero fazê-lo em breve. Será que a soma das partes são a base de um óscar secundário para um desempenho muito mais que secundário?

Syriana

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Um bom retrato da realpolitik (american). Sem ser um grande filme, é no entanto eficaz.
Interessante a analogia do Príncipe Nasir com Mossadegh, político iraniano eleito democraticamente e derrubado por um golpe de estado…com a mão invisível da CIA.