quarta-feira, dezembro 27, 2006

Será que a menina Ana Beatriz se portou bem no Natal...?


... ou será mais um segredo de Victoria?

terça-feira, dezembro 26, 2006

Traduções na era da Globalização

Aumenta todos os dias o meu apoio à liberalização do comércio internacional - se até o humor inter-civilizacional sai favorecido! Senão, veja-se: um familiar ofereceu-me um mui útil quebra-nozes (igual ao da imagem). Na embalagem do mesmo, importado da China, encontrava-se o seguinte texto que transcrevo na íntegra e de forma exacta, para "fazer benefício aos gloriosos leitores do Office Lounging":
Example

INSTUCTIONSF PARA USO

DESCOBRE O HANDIE, PIACE O GRANDE EM
NUT(CRAB PEQUENO) NO ARCO COM
CONCACE ESTRIA CONVEXA.
QUE PODE SER USADO PARA APERTAR OS AMBOS
LADOS DE HANDIE EM DRIECTIONS OPOSTO
ESMAGAR O NUT(CRAB) CONCHA

OUTRA CARACTERÍSTICA

HÁ GROOCES GRANDE E PEQUENO,
CONCEBIENR POR EXPULSAR O
TAMANHOS DIFERENTES DE DURO
FRUITS(CRABS),

OS PRODUTOS DE AÇO DE QUALIDADE BONS
É DURO E DURABIE

GARANTIA DE PRESTÍGIO

ESTE PRODUCTIS GUARATEED
CONTRA MATERIAIS DEFEITUOSOS
E ARTESANATO.

A COMPANHIA ASSEGUROU
CLIENTES QUE SEUS PRODUTOS
UTILIDADE É BOA

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Low/Christmas

Example
É um pouco assim que me sinto na quadra natalícia. Sucumbo à nostalgia, ao tempo em que o Natal em família era assim.
Desejo um Feliz Natal a todos os habitantes da blogosfera.

Feliz Natal para Todos

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Beirute, a indestrutível

A Beirute cosmopolita pela pena de Alexandra Lucas Coelho, jornalista do PÚBLICO:

Em Beirute, a indestruível, ela queria ser uma estrela, ele queria-a a ela. A história mais velha do mundo, actualizada na pop libanesa alternativa.

"O sabão mata. E morreu de amor. Esta é a história de como um rapaz criou a cena pop alternativa libanesa porque queria uma rapariga - aquela rapariga. O fim é funesto, mas a música continua. A música continua sempre, e a Beirute não pára de dançar nem à bomba, nunca parou.
Qual Beirute? Depende da guerra, do ano, da estação. Uma cidade em que o amigo de hoje é o inimigo de amanhã, está sempre a mudar. Hoje é neste bairro que chovem mísseis, amanhã é naquele. A baixa tinha trincheiras onde agora tem Valentino . Bares, restaurante, discoteca passam como estrelas cadentes. A cidade é desmontável, de plasticina, aparentemente indestrutível.
Zeid Hamdan, 30 anos, ainda nem teria barba quando a BO18 era "o" lugar. Uma boite-barracão num parque de estacionamento dos arredores, de que toda a gente guarda memórias fantásticas. Aquelas é que earm as festas.
Depois Bernard Khoury, "o" arquitecto transformou a BO18 num sofisticado abrigo subterrâneo em que o tecto se abria às estrelas no intervalo das bombas. A revista "Les Inrockuptibles" foi lá em 2003 e voltou num êxtase superlativo.


Alexandra Lucas Coelho In PÚBLICO, SUPLEMENTO Y,15/12/2006

"C" ou não "C", eis a questão

Em nota de comentário a uma carta publicada no Público de hoje, explica-se que o Prémio Nobel da Economia de 1974, tanto escrevia o seu nome com "c" (Hayeck) como sem "c" (Hayek).
E deixaram o homem morrer sem o avisar.

PS 1 - Já agora: Rodrigo, afinal tinhas razão!

PS 2 - E também se pode escrever "Çalma Hayeck"?

... sim...; e depois!?

Outros Senhores, Outras Teorias

Usando como base uma citação do post do Luís Marvão, sugeria aos nossos visitantes um pequeno passatempo. Tentem preencher o espaço em branco com o nome do(s) país(es) que mais se adequa(m):

É do domínio da evidência histórica que estes senhores fizeram do(a) ________ um campo privilegiado de experimentação das suas teorias económicas. Campo privilegiado, porque expurgado das impurezas que afectam imaculado reino do mercado ou da “ordem espontânea” em democracia.

Podem procurar pistas para a(s) vossa(s) resposta(s), aqui, aqui, ou aqui.

Espero que com esta entretenga, se tenha tornado mais fácil perceber que usar argumentos que demarcam o território entre os "nossos" ditadores e os "deles", é uma técnica tristemente perseguida pela memória da história. Se o objectivo marxista, assaz religioso, de estabelecer o paraíso proletário na terra, sempre ponderou os meios com os efeitos que se procuram (o verbo está no presente...), já não consigo entender que a liberalização económica possa ser feita atacando a liberalização política, ou não tendo esta como companheira de viagem. Se a livre iniciativa não fôr cerceada, se os direitos de propriedades forem respeitados, se a liberdade contratual sem coercção fôr garantida, não há como impedir as relações entre diferentes indivíduos ou comunidades, ajustando-se num mercado tendencialmente global e procurando aumentar a prosperidade de todos. Essa quebra de barreiras, essa ligação aos diferentes de nós, permite uma aprendizagem por comparação que terá inevitavelmente um inimigo no poder político que tenta restringir essa vontade de aumentar a prosperidade. A criação de limitações à liberdade económica é por isso uma política dos que pretendem limitar a liberdade política. A permissão e protecção da propriedade privada e da liberdade de troca leva à eventual derrocada de qualquer regime político que não respeite os seus cidadãos e os seus naturais direitos - o poder emana destes e deve ter a extensão que a transferância de direitos concedidos permite.
Não há ditadores "nossos"/"deles"; há ditadores que reconhecem a inexorável caminhada para a devolução da responsabilidade política para a livre escolha dos cidadãos (reconhecendo a necessária transitoriedade do seu regime) e outros que recorrem aos meios que o estado totalitário põe ao seu dispôr para se colocarem em "estado de guerra" com os seus concidadãos, tentando manter o absolutismo das suas teorias - as económicas incluídas.

Espelho

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Cumplicidades...

Agitam-se as águas nas hostes insurgentes por causa das cumplicidades de Hayek e Friedman com o regime de Pinochet.
Os artigos sucedem-se em catadupa, num esforço para resgatar a memória daquelas duas personalidades, que não hesitaram em dar a sua caução (intelectual) à ditadura militar chilena.
Entre os tais artigos, há um inenarrável, da autoria do prof. José Manuel Moreira, que enferma da mais pura desonestidade intelectual (fala o aludido professor catedrático em “liberdade absoluta” para absolver a Hayek. Mas este senhor quer remeter-nos para o romantismo ou para o idealismo alemão? Está a enganar quem?) e que além do mais constitui um ataque soez à jornalista do PÚBLICO São José de Almeida, que ousou quebrar o tabu (infeliz/ não está disponível o link para o artigo dela).
É do domínio da evidência histórica que estes senhores fizeram do Chile um campo privilegiado de experimentação das suas teorias económicas. Campo privilegiado, porque expurgado das impurezas que afectam o imaculado reino do mercado ou da “ordem espontânea” em democracia. Sem sindicatos e partidos políticos iliberais.
Sobre Friedman e o Chile deixo aqui estes excertos, bem elucidativos:

“Friedman defended his relationship with Pinochet by saying that if Allende had been allowed to remain in office Chileans would have suffered "the elimination of thousands and perhaps mass starvation . . . torture and unjust imprisonment." But the elimination of thousands, mass hunger, torture and unjust imprisonment were what was taking place in Chile exactly at the moment the Chicago economist was defending his protégé. Allende's downfall came because he refused to betray Chile's long democratic tradition and invoke martial law, yet Friedman nevertheless insisted that the military junta offered "more room for individual initiative and for a private sphere of life" and thus a greater "chance of a return to a democratic society." It was pure boilerplate, but it did give Friedman a chance to rehearse his understanding of the relationship between capitalism and freedom.”
“While he was in Chile Friedman gave a speech titled "The Fragility of Freedom" where he described the "role in the destruction of a free society that was played by the emergence of the welfare state." Chile's present difficulties, he argued, "were due almost entirely to the forty-year trend toward collectivism, socialism and the welfare state . . . a course that would lead to coercion rather than freedom." The Pinochet regime, he argued, represented a turning point in a protracted campaign, a tearing off of democracy's false husks to reach true freedom's inner core. "The problem is not of recent origin," Friedman wrote in a follow-up letter to Pinochet, but "arises from trends toward socialism that started forty years ago, and reached their logical and terrible climax in the Allende regime."

terça-feira, dezembro 19, 2006

Encorajamento

No À Vontade do Freguês:
É por causa de "verdades" como esta, que este conselho é muito importante.
Parabéns ao LA pelo excelente e útilissimo artigo, e ao AA pelo constante empenho na recomendação deste tipo de leituras.
Agradeço as suas palavras, Michael.

Um Irão diferente

Mais uma prova de que o Irão não é tão monolítico como alguns pretendem fazer crer.
Muitos ignoram que o Irão mantém mecanismos de selecção das elites políticas que provêm da democracia representativa.
Embora não se possa dizer, do sistema político iraniano, que na essência seja multipartidário e competitivo, a República Islâmica do Irão realiza periodicamente eleições para as várias instâncias de representação; dos conselhos locais à presidência da república. E são eleições por sufrágio directo e universal.
Em suma, dentro do espectro religioso, várias correntes se digladiam sob um pano de fundo democrático. Penso que isto é herança da revolução que derrubou a monarquia do Xá Reza Pahlevi, a aspiração democrática nela contida e que os mullahs não conseguiram embargar por completo.
O regime iraniano é um intrincado complexo de instituições, coexistindo diferentes fontes de legitimidade, das de índole democrática (como o parlamento e a assembleia de peritos) até às de fundo autoritário e religioso (o Conselho dos Guardiões da Constituição e o Conselho de Discernimento).
Nas eleições agora realizadas, os eleitores elegeram os conselhos locais e os membros da assembleia de peritos.
Os resultados indiciam um duro revés para o presidente Ahmadinejad, cujos candidatos aparecem bem atrás dos reformistas e dos que se agrupam em torno de Hashemi Rafsanjani.
As questões domésticas, da política económica à agenda populista e conservadora nas universidades, assumiram primazia sobre a política externa e a retórica do anti-semitismo.
Interessante também o facto de algumas mulheres muito jovens, em representação da plataforma reformista, encabeçarem a contagem nalguns conselhos locais da província.
Um Irão diferente daquele que nos é dado pela generalidade dos medias e pelos inventores do eixo do mal.

Joseph Barbera (1911 - 2006)


Muito e muito obrigado.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Certa Voz Na Noite



Esquivo sortilégio o dessa voz, opiada
Em sons de cor de amaranto, às noites de incerteza,
Que eu lembro não sei d'Onde - a voz de uma Princesa
Bailando meio nua entre clarões de Espada.


Versos de Mário de Sá-Carneiro (Certa Voz Na Noite Ruivamente...)
A foto é de Henri Cartier- Bresson.

As Raízes da Violência que Ameaça o Sonho Palestiniano

Temos assistido, nos últimos dias, a episódios de violência que fazem temer o pior nos territórios de Gaza e da Cisjordânia; o espectro da guerra civil.
A deterioração da situação política na Palestina tem muita causas, endógenas e exógenas. Mas não podemos esquecer a erosão deliberada das instituições palestinianas, o esforço de destruição desse embrião de Estado (a Autoridade Palestiniana) por parte do falcão Ariel Sharon . Porque o vazio de poder é o paraíso das facções armadas, do banditismo e do sectarismo. Receio bem que Israel venha a colher os ventos entretanto semeados.
No interessante filme Palestiniano O Paraíso, Agora!, de Hany Abu-Assad, há uma personagem que diz que preferir “ a mentira do paraíso” a viver no inferno. O inferno em que a vida dos palestinianos se transformou, nos territórios de Gaza e da Cisjordânia, e que é o terreno fértil onde nascem os mártires ou os suicidas que se fazem explodir em autocarros e artérias comerciais de Israel. O filme de Hany Abu-Assad questiona essa cultura da morte que de dia para dia cresce nos territórios palestinianos, mostra-nos as clivagens que atravessam essa mesma sociedade. Um olhar que não dispensa a ironia e o riso.
Com a vitória eleitoral (inesperada pelos seus números) do movimento islamista Hamas, a frágil situação económica deteriorou-se ainda mais por força das sanções impostas pela União Europeia, num gesto político precipitado. Precipitado porque, ao invés de enfraquecer os extremistas, reduziu a margem de manobra política dos “realistas” no seio do governo do Hamas. Sem dinheiro para pagar aos funcionários públicos e às forças de segurança, a violência e o caos aumentaram nas ruas, disso apenas retirando proveito os extremistas que recusam o compromisso com Israel. É bom lembrar que os palestinianos elegeram os políticos do Hamas mais para punir o mau governo da Fatah do que por se terem transformado de repente em irredutíveis fundamentalistas religiosos. A maioria dos eleitores aspira à paz e aceita a ideia de dois estados na palestina bíblica. Os políticos ocidentais podiam ter escolhido uma outra abordagem diplomática, procurado enredar os ministros do movimento islamista em compromissos e isolando-os dos sectores radicais. Mas ao agirem como agiram, contribuíram também para instabilidade social e política. E vêm agora, esses mesmos políticos, aplaudir o gesto do presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud Abbas de convocar eleições gerais e antecipadas, o que no actual contexto só pode significar mais uma acha para a fogueira. Para a fogueira que ameaça imolar o justo sonho da autodeterminação Palestiniana.

Preparar a época dos balanços - II

Estes são os links para os livros que sugeri no meu artigo da Dia D e que estão disponíveis para download na internet.
Na Foundation for Economic Education, podem encontrar o “Economics in One Lesson” de Henry Hazlitt em HTML ou em PDF.
No Ludwig von Mises Institute, podem encontrar o “Economics for Real People” de Gene Callahan em PDF.

Preparar a época dos balanços

Este é o meu texto publicado na revista Dia D, com o Público de sexta-feira passada, dia 15 de Dezembro.

É habitual, quando o ano se aproxima do seu final, que cada um faça um balanço do ano que passou, por exemplo a nível familiar ou profissional, ponderando o que fizemos e o que devíamos ter feito.
Como cidadãos, cabe a cada um de nós avaliar o ano que termina também do ponto de vista político. Num país em que a política ainda tanto pode para influenciar a economia, mais convirá fazê-lo associando as duas, procurando descortinar como se cruzaram e como isso nos afectou ou afectará mais adiante. Não o faremos de forma desinteressada ou descomprometida: somos participantes nos processos políticos que elegem os agentes que em nosso nome legislam e regulam a forma como nos relacionamos economicamente. Uma proposta de avaliação da sua actuação tem de partir do princípio que somos responsáveis pelas nossas escolhas e que as decisões tomadas têm consequências, muitas vezes não antecipadas. Basta lembrar que nem sempre os agentes políticos actuam com base nos conceitos ou propostas que os fizeram eleger. As consequências da sua acção legislativa (resultado de uma vontade eminentemente intervencionista) podem por vezes ser nefastas, criando ou aumentando barreiras ao aumento da prosperidade dos cidadãos que os elegeram. Basta pensar no poder que os agentes políticos eleitos e não eleitos têm para regular, controlar ou manipular mercados onde os indivíduos e as empresas deviam poder ser livres de exercer as suas escolhas e entre eles estabelecer acordos. O ano trouxe exemplos como o da lei das rendas. Também este ano, como nas últimas décadas, o rendimento de cada um de nós foi influenciado pela necessidade de financiar o paradigma do Estado e das suas instituições como o centro da vida do país, com impactos negativos que muitas vezes resultam da vontade de desafiar as leis da economia (atingir um qualquer objectivo de justiça social, é uma desculpa normalmente apresentada).
Se não nos devemos furtar a este exercício de avaliação, temos de estar no mínimo capacitados para compreender algumas regras básicas de como funciona uma pequena economia aberta à globalização, como é a portuguesa. Temos de tentar apetrechar-nos para descodificar no “politiquês” o que são afirmações ou promessas verdadeiras, falsas, sábias ou menos esclarecidas. É importante compreender como nos afectam as tarifas e quotas proteccionistas, a atribuição de inúmeros subsídios, a manutenção de barreiras administrativas ao livre estabelecimento, a continuação do planeamento central da educação, as implicações da fixação legal de um ordenado mínimo nacional, para nomear alguns exemplos.
Não lhe proponho que se inscreva num curso de economia ou num curso de avaliação de desempenho. Repare que muitos dos concidadãos que elegemos, criadores da tal legislação, gestores do dinheiro dos impostos que cada um de nós paga, assim como muitos dos demais agentes não eleitos do Estado, têm tantos ou menos conhecimentos formais de economia como o Estimado leitor.
Proponho apenas que se interesse em descobrir e perceber quais os resultados, na economia e na sua vida, que as diferentes propostas políticas podem ter. E discuta-as. Entre amigos, com os colegas ou com os seus familiares. Seja um pouco mais ambicioso: junte à sua lista de presentes de Natal alguma literatura que, a pouco e pouco, o ajudará a preparar avaliações futuras, tornando-as numa avaliação contínua. Muitos livros estão disponíveis gratuitamente na internet e não exigem grandes conhecimentos básicos para compreender as implicações do que se descreve e explica. Deixo-lhe duas sugestões para começar: “Economics in One Lesson” de Henry Hazlitt e “Economics for Real People” de Gene Callahan.
Não abdique da sua responsabilidade de avaliar os seus representantes e as políticas que propõem quando comparadas com outras possibilidades, de compreender o custo das escolhas de gasto dos impostos face às alternativas disponíveis e face ao que seriam as suas escolhas para a parte do rendimento que todos os anos entrega ao Estado. Quanto mais preparados estivermos para o fazer, mais exigentes seremos na altura de fazer o balanço do ano.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Solidariedade?

IHT:

EU Parliament endorses plans for €500 million fund for victims of globalization.(…)The so-called “globalization adjustment fund”, proposed earlier this year by the EU executive Commission, aims to offer new skills training to up to 50,000 workers per year eligible for aid if they are laid off or lose their jobs when a major company shifts operations to another region.

Deve ou não uma comunidade afectada por desemprego sectorial, causado pelo desenrolar normal do comércio internacional e pela realocação da produção, acomodar parte desse choque, subsidiando os trabalhadores que necessitam adaptar-se ao novo mercado de trabalho?
Devem ou não todos os trabalhadores europeus, beneficiados por produtos mais baratos e/ou trabalhando em indústrias e serviços agora adquiridos pelos países ou empresas que ganharam com a deslocalização, subsidiarem a re-adaptação das capacidades laborais de quem está no caso acima?
Que impacto têm as restrições legais ao livre estabelecimento de preços e contratação (no mercado de trabalho da UE) no universo dos desempregados cujos conhecimentos e capacidades dificilmente encontram, agora, procura?

Já colocado no Insurgente.

O debate continua: a Bélgica existe? Mesmo?

Depois da “suposta partida” que o canal público daquele país (?) pregou aos belgas (?), noticiando a secessão da Flandres, seguem-se as explicações do responsáveis da RTBF (quem são? donde vieram?). No La Libre Belgique (livre?):

“Nous avons voulu traiter la question du devenir de notre pays en nous posant la question des conséquences pour notre vie de citoyen. [Jean-Paul Philippot administrateur-général](…)Cela prouve que le sujet Belgique est complètement au coeur des préoccupations de nos citoyens et qu’il était de notre responsabilité de l’aborder.[Yves Thiran, directeur de l’Ethique et de l’information]

Mas não nos enganemos: esta encenação não deve passar de um desentendimento entre as forças que controlam o espaço que nos mapas se situa entre a França e a Holanda. As fontes mais credíveis dão mesmo conta que se trata de um maléfico plano dos neo-liberais (de quem mais…?), criando a ilusão de que a Bélgica existe mesmo para assim propagarem a sua ideologia do mal . E estes são, como se sabe, aliados dos Reptilianos que controlam os governos ocidentais.Apelo à vossa vigilância: se virem um tipo de chapéu, bengala e bigode encerado a comer batatas fritas, contactem a vossa sede local da LAREL - Liga Anti Repitiliana e Liberal. Sobretudo não lhe toquem nem lhe dêem comida.

Já colocado no Insurgente.

Little boxes

1. Little boxes on the hillside,
Little boxes made of ticky-tacky,
Little boxes, little boxes,
Little boxes, all the same.
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.

2. And the people in the houses
All go to the university,
And they all get put in boxes,
Little boxes, all the same.
And there's doctors and there's lawyers
And business executives,
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.

3. And they all play on the golf-course,
And drink their Martini dry,
And they all have pretty children,
And the children go to school.
And the children go to summer camp
And then to the university,
And they all get put in boxes
And they all come out the same.

4. And the boys go into business,
And marry, and raise a family,
And they all get put in boxes,
Little boxes, all the same.
There's a green one and a pink one
And a blue one and a yellow one
And they're all made out of ticky-tacky
And they all look just the same.


Malvina Reynolds

Opinião na Dia D



Na revista Dia D, com o Público de hoje, o meu texto: "Balanço e Avaliações".
Em breve, aqui no Office Lounging.

As Crianças





















Henri Cartier-Bresson

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Bala 10

Aprendendo com quem sabe


La voz del Presidente venezolano restalló con energía, cuando le dijo:
—¡Buenos días, Caballero de la resistencia heroica, Caballero de la libertad! ¡Caballero de la verdad!
E por aí adiante.
Belíssimo, o texto.

(link via Blasfémias)

O descontentamento de mais uma geração de pais

A Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola básica 2+3 Luísa Todi, de Setúbal, provisória há mais de 30 anos, fechou hoje os portões a cadeado a exigir a construção de uma nova escola.(...)

Segundo Ana Cristina Gomes, presidente da Associação, há mais de uma década que o Ministério da Educação vem prometendo e protelando "a construção da nova escola onde chove durante o Inverno e faz um calor insuportável durante o Verão".
"Os pavilhões da escola têm telhados de lusalite [fibrocimento] o que significa que as nossas crianças sofrem com o frio, com a humidade e com o calor dentro das salas de aula, além de outros problemas relacionados com a segurança uma vez que a escola está inserida numa zona problemática"

O que faz falta é reformar o sistema de educação estatal. Se ao menos encontrássemos o ministro certo ou os directores-gerais certos, eles iriam saber exactamente o que fazer. Temos de continuar a procurar. Senão que alternativas restam?

Para terminar

Com este post, dou por encerrada da minha parte, a interessante discussão iniciada pela morte de Augusto Pinochet, antigo ditador chileno. A apontar que ela surgiu provocada pelo seu desaparecimento, em circunstâncias que favorecem um "salpico emocional" (para usar um eufemismo) por parte de quem defende que ele salvou o país de se tornar mais um paraíso marxista ou por parte dos que consideram que Allende não caminhava para a construção de mais um estado comunista à semelhança do que se passava atrás da cortina de ferro.
Depois do que li, em textos que estão nos dois lados, reforcei a convicção que o programa de governo de Allende era altamente iliberal e que do ponto de vista marxista, quando muito, pecava por não ser mais drástico no aprofundar do caminho para a revolução proletária - como lhe lembrou Castro quando visitou o Chile.
Como não tenho uma visão consequencialista da política nem da economia (da sociedade), o caminho seguido pelos golpistas de 1973, na gestão do sistema político e das liberdades individuais, não pode ter a minha aprovação, ainda que as políticas económicas que seguiram tenham muito a ver com as minhas posições e tenham tornado o Chile na mais próspera economia sul-americana. Julgar os ditadores pelo saldo entre o número de mortos e os seus resultados atingidos, foi prática noutras utopias que durante o século XX muito sofrimento causaram e que ainda prevalecem em alguns pontos do planeta.
Os fins atingidos por Pinochet, não justificam os espezinhar de certos valores, mesmo quando os que sofreram esses atropelos graves não tenham eles próprios em grande conta esses valores. Se isso é uma posição angelical/ingénua e passível de ser derrubada à paulada por aqueles que se estão bem a borrifar para a defesa desses valores, paciência...

Noutro aspecto (e espero que num tom menos emocional...), gostaria de contrapôr alguns outros dados sobre os resultados económicos da políticas seguidas por Allende (que poderão ser contraditados por outros dados que sejam disponibilizados):

Except for inflation, the economic indices were good as Salvador Allende took power late in 1970. Copper prices were strong and unemployment was about 3 percent. Allende moved quickly to socialize the economy by seizing some foreign firms and taking over banks.(...)
Food output fell sharply. In December 1971, thousands of Chilean women marched in the streets of Santiago, banging on empty pots and pans to dramatize the growth of shortages and skyrocketing prices. (...)
He soon announced that the government would be in charge of all food distribution, and "neighborhood vigilance committees would watch for black-market or other non-approved activities." He seized control of the Kennecott and Anaconda copper mines and provided no compensation to their owners, with the obvious result that foreign investment in Chilean industries decreased sharply.
As the economy shrank while government spending increased, currency printing presses worked overtime and inflation leaped. The consumer price index, which stood at 100 in December 1970, was at 122 a year later and 322 in December 1972; in September 1973, it was at 942. Money in circulation soared from 3.7 billion pesos when Allende took office to 74 billion in September 1973. Runaway inflation received the most attention early in 1973, along with Education Minister Jorge Tapia's announcement that the government would establish a single nationwide curriculum, modeled on East Germany's, that would include compulsory courses on Marxism.

O Milagre Económico Chileno.

Vou mudar o enfoque da discussão, que até aqui tem estado centrada em Pinochet e em Salvador Allende (por causa do revisoniosmo histórico).
Apenas mais uma nota: se Allende não foi um democrata, então eu não sei o que é um democrata. Ou dito de outro modo, se ser democrata é seguir o exemplo desses senhores
do CATO Institute e de outros por aí pululam, então pobre democracia, de tão triste e cinzenta; e eu encontro-me certamente num qualquer outro lado da barricada, mesmo que de contornos indefinidos. Parafraseando régio, "Não sei para onde vou Sei que não vou por aí!"
Há o argumento do milagre económico chileno. Não sendo eu especialista em milgares, faço-me socorrer deste artigo. Para esboçar tão-só uma tentativa de compreensão do tal milagre, com que muitos dos tais demcratas tentam espantar as críticas ao regime de Pinochet.
Afinal, na governação do iliberal Allende, a economia até cresceu, não obstante todo caos que imputam a este. subiram os salários e foi reduzida a pobreza. A história é bem diferente depois de Pinochet ter usurpado o poder:

The Chilean Experiment

After his disciples were done with it, Chile was indeed radically transformed…for the worse.

Free market policies subjected the country to two major depressions twice in one decade, first in 1974-75, when GDP fell by 12 per cent, then again in 1982-83, when it dropped by 15 per cent.
Contrary to ideological expectations about free markets and robust growth, average GDP growth in the period 1974-89--the radical Jacobin phase of the Friedman-Pinochet revolution--was only 2.6 per cent, compared to over 4 per cent a year in the period 1951-71, when there was a much greater role of the state in the economy.

By the end of the radical free-market period, both poverty and inequality had increased significantly. The proportion of families living below the “line of destitution” had risen from 12 to 15 per cent between 1980 and 1990, and the percentage living below the poverty line, but above the line of destitution, had increased from 24 to 26 per cent. This meant that at the end of the Pinochet regime, some 40 per cent of Chile’s population, or 5.2 million of a population of 13 million, were poor.
In terms of income distribution, the share of the national income going to the poorest 50 per cent of the population declined from 20.4 per cent to 16.8 per cent, while the share going to the richest ten per cent rose dramatically from 36.5 per cent to 46.8 per cent.

Um outro olhar sobre o milagre aqui:
Tinker Bell, Pinochet and The Fairy Tale Miracle of Chile

In 1973, the year General Pinochet brutally seized the government, Chile’s unemployment rate was 4.3%. In 1983, after ten years of free-market modernization, unemployment reached 22%. Real wages declined by 40% under military rule.
In 1970, 20% of Chile’s population lived in poverty. By 1990, the year “President” Pinochet left office, the number of destitute had doubled to 40%. Quite a miracle.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Uma visão liberal sobre Pinochet

Como escrevi ontem, "nada altera o facto de Pinochet ter demorado 17 anos a repôr a democracia constitucional e o fim dos ataques aos direitos individuais dos seus concidadãos, independentemente de os que sofreram essas perseguições preconizarem ideias que se opunham à democracia tal como hoje existe no Chile."

Diz o Miguel (recomendo a leitura integral):

Sendo certo que o governo de Allende foi autor de graves atropelos às liberdade individuais, não me parece que Pinochet possa servir de modelo àqueles que se reclamam herdeiros da tradição liberal clássica. Segundo me parece, esta reclama existir um conjunto de liberdades individuais inalienáveis, não hierarquizáveis e inseparáveis.(...)

Embora tenha voluntariamente abandonado o poder (o que o coloca acima de muitos outros ditadores - alguns ainda no activo e frequentemente apontados como modelos), a ditadura chilena perseguiu, prendeu e matou violando liberdades e garantias. Se em seu favor se credita o derrube do governo anti-liberal de Allende, por outro lado temos 17 anos de restrição da liberdade. Poder-se-á argumentar que outras foram mais restritivas, duradouras ou mortíferas. Contudo, não me parece lícito que possamos relativizar os seus crimes dizendo que tudo foi feito em nome de um bem maior. Devemos regermos por princípios absolutos e não por critérios de escala ou de resultados.(...)

O liberalismo não se esgota nas liberdades económicas nem as coloca acima das de carácter político.

Os democratas do revisionismo histórico

Tens um título de Locke a encimar um post que pretende fazer luz sobre o período em que Salvador Allende governou o Chile, e fazes ainda alusão a um artigo do CATO, a todos os títulos vergonhoso.
Ora devo dizer-te que, involuntariamente, cais na legitimação do golpe, ao vires por interposto filósofo afirmar que “se os governantes se constituem em tirania para além da lei, o povo tem o direito de se revoltar.”
Resta saber quem representava o povo, nos trágicos acontecimentos de 11 de Setembro de 1973. Se os militares golpistas e a CIA (que, não sei se sabias, financiou greves e tinha entre os seus agentes aquele que viria a ser o chefe da secreta de Pinochet, Manuel Contreras); se os membros de um governo eleito e os seus apoiantes, muitos dos quais acabaram nos calabouços militares.
É de facto espantoso o exercício de revisionismo histórico a que se entrega esta direita, moderna e liberal. Ou talvez não. Se olharmos para esta citação, tudo se ilumina:

At times it is necessary for a country to have, for a time, some form or other of dictatorial power. As you will understand, it is possible for a dictator to govern in a liberal way. And it is also possible for a democracy to govern with a total lack of liberalism. Personally I prefer a liberal dictator to democratic government lacking liberalism. My personal impression — and this is valid for South America - is that in Chile, for example, we will witness a transition from a dictatorial government to a liberal government. And during this transition it may be necessary to maintain certain dictatorial powers, not as something permanent, but as a temporary arrangement.

F. Hayek

Aderiram os liberais às teorias da conspiração. Falam de uma orquestração de Allende, para mudar a constituição, e da rebelião cívica que travou tais intentos. Reparem bem: já não se fala de golpe militar, mas sim de “rebelião cívica”. Assim vai o revisionismo liberal de Pinera, o autor do artigo do CATO aludido atrás.
Mas o que fez assim de tão grave Salvador Allende, para ser visto como um tirano? Nacionalizou indústrias, prática política assaz corrente na época (até na Europa Ocidental isso sucedia), ferindo é certo interesses americanos, e procurava lançar uma reforma agrária com o objectivo de distribuir terras pelos mais pobres. Tal bastou para ser visto como um perigoso comunista a soldo de Havana e Moscovo, tese que ainda hoje reúne fiéis, como se comprova pelas reacções destes grandes democratas.
O que os move é a vontade de branquear Pinochet, pelo aviltamento da memória desse grande democrata e humanista que foi Salvador Allende. É a tentativa da equivalência moral que procuram estabelecer entre o assassino e corrupto ditador e o político que acreditava nas virtudes da democracia representativa que era Salvador Allende, com muitos anos da sua vida dedicada à causa pública; como membro de longa data do partido socialista; como senador; como ministro e, mais tarde, presidente da república, depois de eleito pela coligação Unidade Popular, que reunia socialistas e comunistas numa frente comum (1970).
Mas quem são estes que vêm hoje acusar Allende?
São os que falam de democracia com arrogância moral de sempre, eles, os grandes democratas da democracia naturalizada, mas que, nos momentos conturbados da História, não hesitam em massacrar communards, aprovar, enquanto deputados da assembleia nacional, plenos poderes para Pétain e pôr os comunistas (falando à maneira de Brecht) em estádios de futebol.
Porque a História repete-se, e esta gente não tem estatura moral para ombrear com um homem como Allende.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Há publicidades muito eficazes

"Tyranny is the exercise of power beyond right"

As palavras do título são de John Locke, no seu "The Second Treatise of Civil Government", leitura obrigatória para quem queira compreender a evolução do sistema político que levou às modernas democracias liberais, reconhecedoras das liberdades e direitos do cidadão e dos poderes exercidos em seu nome. Como descreveu Locke, se os governantes se constituem numa tirania para além da lei, o povo tem o direito de se revoltar.
Vem isto a propósito do texto "Cómo Allende destruyó la democracia en Chile", publicado no El Cato Institute (via Insurgente) sobre o período que antecedeu o golpe militar que colocou o general Pinochet no poder e que deve ser lido na sua totalidade, principalmente por quem desconhece o contexto em que se deu o golpe. E é só disso que se trata; em nada altera o facto de Pinochet ter demorado 17 anos a repôr a democracia constitucional e o fim dos ataques aos direitos individuais dos seus concidadãos, independentemente de os que sofreram essas perseguições preconizarem ideias que se opunham à democracia tal como hoje existe no Chile.
Ficam as questões: como lidar com aqueles que usam os mecanismos democráticos para destruir a democracia (e a história tem vários exemplos...)? Quais os limites para considerar razoável este direito de revolta? Que período transitório se justifica para repôr os direitos individuais, as liberdades políticas e o respeito pela lei e constituição que as assegurem?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Estranhos critérios/Adenda

Estranhos critérios os da TV pública paga por todos nós...
O Prós e Contras, "moderado" pela inefável Fátima Campos Ferreira, é já em si mesmo a degradação de qualquer ideia de serviço público. Agora, passa também a ser o lugar do aviltamento do debate democrático.
Seria de facto humilhante que Sá Fernandes, cuja lista que encabeçou à Câmara de Lisboa foi a quarta mais votada, à frente da de Maria José Nogueira Pinto, convidada a estar presente no debate de logo à noite, aceitasse o que lhe foi proposto pela produção do programa: figurar na assistência com direito a um punhado de intervenções.

P.S. Afinal a RTP recuou, e Ricardo Sá Fernandes acabou mesmo por ir ao Prós e Contras debater com os restantes convidados. E a dr.ª Fátima Campos Ferreira aproveitou ilustre presença, dizendo que se tratava de uma vitória da democracia: o Prós e Contras tinha conseguido, não obstante dificuldades julgadas insuperáveis, reunir todos os vereadores da Câmara de Lisboa num debate; sem dúvida um feito épico. E sem paralelo no espectro televisivo.

Bonfim

Lá pelo Bonfim, além dos resultados desportivos que se conhecem, há também "ideias peregrinas e gestão avançada".

A morte de Augusto Pinochet


Augusto Pinochet, o general que ficou tristemente célebre naquele onze de Setembro de 1973, ao derrubar o governo democraticamente eleito do socialista Salvador Allende, faleceu ontem.
Pena que não tenha sido julgado pelos crimes de que foi responsável, ele que impôs, no Chile, um regime que tinha na tortura a sua prática e na arbitrariedade a sua lei.
Os familiares dos mortos e desaparecidos, obra deste regime de torcionários, não viram a justiça ser feita, e ainda tiveram de suportar o indecoroso espectáculo de ver o antigo ditador usar de todos expedientes para se furtar cobardemente a qualquer julgamento. Mesmo que fosse um julgamento justo. Numa sala de tribunal e não num daqueles calabouços militares que ele tão bem sabia destinar às sua vítimas.
Mas talvez o maior castigo em vida, para o General Augusto Pinochet, tenha sido o de ter assistido à chegada da socialista Michelle Bachelet à presidência do Chile , cujo pai, Alberto Arturo Bachelet, não resistiu às torturas a que foi submetido pelos militares golpistas.

Visto


Miss Coppola sabe realizar.
Eu já sabia que ela sabia, mas quando entrei na sala ía com receio de sofrer um desapontamento, daqueles que se tem quando se regressa a um lugar que nos traz boas memórias. É que Virgens Suícidas e Lost in Translation (alguém, alguma vez, se vai lembrar do nome traduzido...?) estão na minha lista de filmes favoritos (admissivelmente longa).
Uma teenager inconsciente do mundo político que a cerca, de repente lembrada do papel a que o seu Sangue a obriga. Uma Kirsten Dunst a desempenhar na perfeição a tranquilidade e as súbitas angústias de quem apenas quer ser feliz e não compreende as barreiras a essa busca mas que tenta não desapontar quem dela espera que se comporte como uma rainha.
E as cores - da paisagem, dos fatos e sapatos, da luz. As cores de uma vida dentro de um conto de fadas.
E a música, claro.
Compreendo que deve ter sido díficil para os franceses a visão da guilhotina sobre aquela família que despede de Versailles ao nascer do sol.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Feriado de Westerns


Johnny Guitar











The Searchers

Charlize

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Alcântara

A propósito da entrevista de Rui Ramos a Jorge Silva Melo, Pacheco Pereira escreveu, no PÚBLICO de Quinta-feira passada, um artigo de que não resisti a reproduzir aqui este excerto, por me parecer carregado de sentido:

Eu vejo-a vir ao longe perseguida
como de um vento lívido varrida
cheia de febre, rota, muito além…
- pelos caminhos ásperos da História –
enquanto os reis e os deuses entre a glória
não ouvem a ninguém.


Ela vem triste, só, silenciosa,
Tinta de sangue, pálida, orgulhosa,
Em farrapos na fria escuridão…
Buscando o grande dia da batalha.
É ela! É ela! A lívida Canalha!
Caim é vosso irmão.

Eles lá vêm famintos e sombrios,
Rotos, selvagens, abanando aos frios,
Sem leite e pão, descalços, semi-nus…
(…)
São os tristes, os vis, os oprimidos
(…)
São os párias, os servos, os ilotas
Vivem nas covas húmidas, ignotas
(…)
Eles vêm de muito longe, vêm da História.
Frios, sinistros, maus como a memória
Dos pesadelos trágicos e maus.

(Gomes Leal, A Canalha)


Claro que ninguém vai ao teatro, claro que acabaram os cafés (pelo menos em Lisboa), claro que se desertificaram os bairros, claro que acabou a Lisboa dos anos 60, tão íntima como provinciana, onde éramos os absolutos cosmopolitas, exactamente porque os filhos dos deserdados das cheias, os filhos dos operários do Barreiro, os filhos das criadas de servir, os filhos dos emigrantes de Champigny, os filhos da "canalha" anarco-sindicalista e faquista de Alcântara mandam no consumo e o mundo que eles querem é muito diferente. Eles entraram pelos cafés dentro e transformaram-nos em snackbars e em lanchonetes, entraram pelas televisões e querem os reality shows, entraram pela "cultura" e pela política e não querem o que nós queremos, ou melhor, o que nós queríamos por eles. O acesso das "massas" ao consumo material e "espiritual" faz o mundo de hoje, aquele que é dominado pela publicidade, pelo marketing, pelas audiências, pelas sondagens. É um mundo infinitamente mais democrático, mas menos "cultural" no sentido antigo, quando a elite, que éramos nós, decidia em questões de bom senso e bom gosto.E agora? Queríamos que "eles" tivessem voz e agora que a têm não gostamos de os ouvir quando o enriquecimento revelado por todos os indicadores económicos e sociais dos últimos 30 anos transformou muitos pobres na actual classe média, "baixa" como se diz na publicidade, nos grupos B e C das audiências. Nós queríamos que eles desejassem Shakespeare e eles querem a Floribella, os Morangos e o Paulo Coelho. E depois? Ou ficamos revoltados ou pedagogos tristes e ineficazes, ou uma mistura das duas coisas. Nós ajudámos a fazer este mundo de mais liberdade e mais democracia, que o é de facto. O 25 de Abril foi o que foi porque a geração de 60 o fez assim. Se os militares tivessem derrubado Salazar nos anos 40 ou Delgado o tivesse feito em 1958, o país seria certamente muito diferente.

Pacheco Pereira, in Publico (texto também disponível no Abrupto).

Isto mereceria um comentário mais aprofundado, mas o tempo é um bem escasso, como sabemos ou às vezes tão-só intuímos.
Creio que há um determinismo exagerado nesta formulação de Pacheco Pereira, à parte a descrição exacta da realidade social de nosso país.
Os netos e os filhos da “canalha anarco-sindicalista...” não são só Reality Shows, Morangos e Floribelas. Com o 25 de Abril e a democracia, alguns dos filhos “das criadas de servir” chegaram à universidade e até estudaram, entre outras coisas, filosofia. Muitos alargaram os seus horizontes culturais. O 25 de Abril foi também isso.
Talvez nunca consigamos resolver o dilema, mas alargar o leque de escolhas já poderia ser um começo. Aí, ao contrário de Pacheco Pereira, eu creio na importância das políticas culturais desenvolvidas pelo Estado (mesmo que isso signifique invocar o fantasma de Malraux) em estreita articulação com as do domínio da educação. É que o mercado nem sempre é tradução dos desejos dos indivíduos. E isto é particularmente verdade para o mercado televisivo, cada vez mais estreito e dominado por produtoras às quais as televisões compram os tais reality shows e outros enlatados. O poder do espectador consumidor é quase nulo neste universo sem escolha.

Votação - Blogs 2006

À última hora, é certo, cá vão os votos (enviados ao Geração Rasca):

Melhor Blog Individual Feminino
Miss Pearls
Blogotinha
Pode ser fácil
Blogzira
Bomba Inteligente
Diário de Lisboa

Melhor Blog Individual Masculino
Blue Lounge
Desesperada Esperança
The Sock Gap
The Guest of Time
A Origem das Espécies
Tomar Partido

Melhor Blog Colectivo
A Arte da Fuga
A Causa das Coisas
Blasfémias
Tugir
Blogue da Revista Atlântico
Small Brother

Melhor Blog Temático
Blogzira
Foram-se os anéis
Jazz no País do Improviso
Tócolante
Dias com Árvores
Rua da Judiaria

Melhor Blog
Blasfémias
Blogue da Revista Atlântico
A Arte da Fuga
Miss Pearls
A Origem das Espécies
Tugir

Melhor Blogger
António Costa Amaral (A Arte da Fuga)
João Miranda (Blasfémias)
João Caetano Dias (Blasfémias)
Bruno Alves (Desesperada Esperança)
Carlos Manuel Castro (Tugir)
Rui de Albuquerque (Blasfémias)

terça-feira, dezembro 05, 2006

With a little help from nuestros amigos in Venezuela

Pergunto-me o que pensarão (será que sabem?) os menos favorecidos, os mais pobres dos venezuelanos, se lhes explicassem que, através de uma empresa pública, estão a financiar o consumo energético de americanos de baixo rendimento? E como se sentiriam se soubessem que também os anúncios televisivos da organização americana que distribui o petróleo subsidiado (liderada por Joseph Patrick Kennedy II) são pagos pela dita empresa pública (ou seja, pelos venezuelanos)?
Como se compararão os rendimentos e qualidade de vida dos mais pobres e desfavorecidos venezuelanos com os dos americanos que recebem este subsídio?
Terá este programa de subsídios aos americanos alguma semelhança com o programa que levou o Mayor de Londres, “Red” Ken Livingstone, a dar um passeio vergonhoso pelas Caraíbas e que previa o fornecimento de petróleo ao sistema de autocarros da capital britânica em troca de conselhos sobre gestão de serviços públicos?

Colocado ontem no Insurgente.

Chávez e o Populismo

Chávez obteve novo voto de confiança dos seus concidadãos, numas eleições presidenciais marcadas por uma elevada taxa de participação.
Sempre que se fala de Chávez, fala-se inevitavelmente de populismo.
Quando lhe apontam esse pecado, os críticos, em particular os do espectro da direita, enveredam por um registo a-histórico, como se o líder bolivariano tivesse sido o inventor do populismo.
Sabemos bem que o populismo tem raízes profundas na região, na prática política dos actores, independentemente de estes se situarem à esquerda ou à direita. Mas, em Chávez, o populismo funciona como o elemento atípico, sem genealogia. O que importa é impedir qualquer análise da sua governação, e aqui a função do populismo é muito semelhante à de uma cortina de fumo.
Assim, se os venezuelanos votam em massa em Chávez, é por causa do populismo. Se o caudilho implementou um vasto leque de programas sociais de apoio aos mais pobres, com os lucros do petróleo e a prestimosa colaboração de Cuba e dos seus médicos em particular, só pode ser mais uma demonstração do velho pecado do populismo (quando as elites políticas que precederam Chávez se limitavam quase só a dividir, entre si e a oligarquia, os dividendos do petróleo, isso sim, era certamente um exercício de responsável governação).
Alguns vêm mesmo um temível ditador, e num exercício em que a provocação roça a ignorância comparam Chávez a Hitler e ao nazismo. Aqui, mais uma vez de pouco importam os factos: Chávez está no poder desde 98, e não consta que tenha silenciado as oposições, a imprensa escrita ou as televisões privadas que o têm como ódio de estimação. Foi aliás a mui democrática oposição que há uns anos fomentou um golpe de estado, é bom lembrar.
Com isto, não estou a dizer que não tem fundamento a acusação de populista (sem dúvida que o é), questiono é uso que dela se faz para obscurecer o fenómeno Chávez e assim o relegar para a categoria não inteligível dos sinistros ditadores.
Sem querer portanto ilibar Chávez, eu diria que, quando muito, podemos detectar na sua prática política os indícios de uma democracia iliberal, na feliz expressão de Fareed Zakaria.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Videoclip Lounging

Seguindo uma sugestão do autor do The Sock Gap, eis uma actualização em modo "Retro Lounging".

Resposta em "e-mail aberto" (*)

Uma amiga, cuja estima tanto prezo, enviou-me um e-mail avisando-me da existência de uma petição online onde se manifesta o desagrado pelo anunciado cancelamento da Festa da Música no CCB, solicitando-me que também assinasse.

Deixo-vos cópia da minha resposta:

Eu, obviamente, não assinarei.

Da mesma maneira que não "assinei" a favor do Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea que vai ocupar todo o Centro de Exposições do CCB levando à saída do Museu do Design, cuja gestão será feita por uma fundação (Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo). Também não assinei que metade da dotação [anual] da fundação (cerca de 500.000 euros, total 1.000.000 euros) fosse da responsabilidade do mesmo orçamento que agora não pode pagar a festa da música. E tudo devidamente planeado pelas mesmas omniscientes cabecinhas.
É que ao contrário do que os mais distraídos podem pensar, não se consegue comer o bolo e ter o bolo. Em alternativa, pode-se sempre diminuir o orçamento noutro lado: fecha-se um hospital ou umas escolas. Ou melhor: pode-se aumentar mais uma vez os impostos.
Mas se a preocupação dos subscriptores é a oferta musical, o CCB vai apresentar um novo festival (a 1ª edição é dedicada ao piano), com 51 concertos e com 400.000 euros de custo, em Abril de 2007. O anterior festival custava 1.200.000 de euros, ou seja, dois terços (66.66%) do total do orçamento do CCB para programação (metade do orçamento é dos nossos impostos).
Para terminar, mais um informação avulsa para quem se preocupa com a maneira como o estado distribui o dinheiro dos nossos impostos pelas diversas formas de arte: até 2016 a Fundação Berardo (com o alto patrocínio do Eng. José Sousa, nosso PM) vai receber 5.000.000 euros (cinco milhões) de subsídios (mais cinco do próprio bolso do Sr. Berardo).

Links a consultar aqui e aqui.

(*) - Versão modernaça da "carta aberta".

Vim de Tomar. Umas excelentes refeições.

"A Festa de Babette" de Karen Blixen pela companhia Fatias de Cá. Mais uma desculpa para ir jantar ao Convento de Cristo.
E antes n'A Lúria e depois no Chico Elias.

Lisa Germano. O Concerto



Lisa Germano, de uma simplicidade desarmante em palco, brindou-nos com um grande concerto.
Nós, todos sentados no chão do Santiago Alquimista, fomos arrastados para o estranho mundo lisa. Em que a melancolia é sinónimo de obscura beleza; em que a tocante fragilidade cruza inesperados territórios.
À guitarra ou ao piano, começaram a desfilar as pérolas de Germano, canções de embalar capazes de estilhaçar corações.
Eu fiquei logo “agarrado” com a primeira, Bad Atitude, do Happiness, álbum que, para mim, estará sempre ligado a uma apaixonada crítica de Fernando Magalhães, no Pop/Rock de boa memória. Foi aí que senti um impulso irresistível, a necessidade possuir de Happiness. Foi a minha porta para o mundo de Lisa Germano.

You wish it was sunny, but it's not...hahaha
The sun will come out the day after tomorrow..haha
And you can move on to another bad day
You wish you were pretty, but you're not...hahaha
But your baby loves you, he tells you so all the time
Oh that must be why you're so happy together
You're having another bad day and that's all you could change
But you don't, but your attitude baby doesn't have to be so sad
You wish you were happy but you're not..hahahaha



P.S. A foto deste post é da autoria de Rui Ribeiro, do Blog Som Activo. É do concerto da lisa Germano em Braga, dia 29 de Novembro, no Pequeno Auditório do Theatro Circo. O meu obrigado ao seu autor.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Lisa Germano