Antonio Negri
Na entrevista dada ao Actual (último Expresso), descreve com elegância as mutações urbanas do nosso tempo, uma civilização marcada pelo declínio do trabalho, a propósito dos acontecimentos de Paris :
Eu considero esses movimentos como uma expressão dos novos movimentos da multidão, da passagem da cidade do trabalho assalariado para os territórios urbanos marcados pela flexibilidade, pela mobilidade e mestiçagem das culturas. São movimentos que não têm relação com o partido nem com a ideologia. Se há algo que aí se está a reconstruir é o sentido do comum.
E o conceito de multidão é extremamente operativo, Negri abandona a noção de proletariado :
Não é multidão enquanto conjunto popular ou proletário, mas no sentido de uma rede cooperativa de singularidades. E também não é a massa, porque esta implica uma coesão que faz perder a singularidade. A multidão refere-se a todos aqueles que enriquecem a rede entre os homens, que constroem o comum. A produção, hoje, é isso, não é apenas aquilo que resulta de uma antiga noção de trabalho.
Na crítica ao trabalho, percebemos a filiação no Maio de 68, a mesma luta dos situacionistas :
Venho da tradição “operaista”, como se diz em italiano, uma tradição da recusa do trabalho. O que é que significa recusar o trabalho? Sabotagem, luta de massas contra o trabalho, contra o tempo do trabalho. Foi o que fizemos e fomos parar à prisão. Mas, ao contrário do que parece, isso estava cheio de um sentimento positivo. È que o trabalho estava ligado a essa forma de escravidão que era o fordismo. A par da recusa do trabalho havia a autovalorização das singularidades. E o capital compreendeu perfeitamente isso. Ele próprio destruiu as fábricas e abriu a produção da informática.
Passou-se à produção imaterial e deu-se uma reconstrução social do trabalho.
Antonio Negri, um libertário, um resistente voltado para o futuro.