segunda-feira, outubro 31, 2005

Pouca vergonha

Via DN:
A Câmara Municipal de Setúbal aposentou compulsivamente, nos últimos meses, dezenas de funcionários com mais de 30 anos de serviço ou 65 anos de idade, na sequência de processos disciplinares, que, tudo indica, terão sido previamente combinados entre as estruturas dirigentes da autarquia e os trabalhadores visados.

Para quem costuma referir a probidade da actuação das autarquias comunistas, aqui fica esta notícia que relata o que se está a passar na câmara de Setúbal. Os funcionários estão a tentar ser despedidos para poderem beneficiar do actual sistema de reformas, antes da entrada em vigor, em 2006, do novo regime de aposentações.
Aparentemente, Carlos de Sousa não encontra nada de anormal no que se tem passado. Eu aposto que também nem o Ministério Público, nem a IGAP, nem a Caixa de Aposentações, nem os sindicatos, nem nenhum órgão municipal encontrará nada de mal. Afinal, trata-se apenas de ajudar a câmara a reduzir o quadro de pessoal, transferindo o custo de pessoal para a CGA. Os pagadores serão sempre os mesmos (e nem vale a pena voltarmos a discutir se, em termos líquidos, os funcionários públicos pagam impostos ou outras prestações ao estado - não o fazem).
Se estes processos disciplinares fossem honestos, significaria que reina na CMS a completa anarquia, com os funcionários a folgarem quando lhes apetece, sem respeito pela hierarquia e pela sua função de servidores públicos, com prejuízo evidente para os utentes dos serviços camarários. É à falta de respeito que se presta quem assim actua e quem a isto permite ou incentiva. Uma pouca vergonha.

Texto já colocado no Insurgente.

A luz em Lisboa

Há tempos, disse a uma amiga alfacinha que em Lisboa me desgostava o tom sombrio que encontro em muitas das suas ruas, em algumas das suas zonas históricas. Ela, emigrada na margem sul, rebateu a minha opinião. Nada disso; nada como ver Lisboa pelo sol que nasce para me arrepender do que dizia.
Hoje, ao atravessar a 25 de Abril, como em milhares de outros dias, algo de novo. Do lado poente, a negritude absoluta logo seguida de uma bátega de água imensa e continuada. Do lado nascente, a confirmação das suas palavras, com Lisboa a receber a luz do sol enquanto este amanhecia lá longe, por detrás do estuário e dos flamingos de Alcochete, vista por detrás da cortina de água em que a ponte se escondia. Aí sim, consegui aperceber-me que Lisboa não é sombria. Como prémio pela descoberta, dois arco-íris.

O Som no Office

Example

Live at Mother Blues: 1964 - Terry Callier

sexta-feira, outubro 28, 2005

Demonstrações pacíficas

Example
Iranians chanting "death to Israel" and "death to America", converged from nine points in the Iranian capital for a rally attended by most of Iran's top officials. Some protesters set fire to or trampled on Israeli and U.S. flags.

Ahmadinejad took a short walk in the crowd, rallying in support of his comments that the Islamic world could not tolerate the Jewish state in its heartland. He said Western criticism carried no weight.
(Via Reuters)

A Autoridade Palestiniana tem de dominar os movimentos radicais que a partir da Palestina continuam a atacar Israel. Sem o controlo desses grupos, a A.P. não poderá ser vista como o interlocutor válido nas negociações por não poder assegurar a implementação de qualquer compromisso negocial. Qual será o contributo das declarações do presidente iraniano para que os grupos extremistas abandonem os ataques terroristas e se empenhem na pacificação da Palestina ou que venham alguma vez a acatar a representação da A.P.? Terá a causa palestiniana beneficiado destas declarações ou será que elas surgem porque o Irão é prejudicado com a normalização das relações entre uma Autoridade eleita, que controle o território à sua responsabilidade, e Israel?

Texto já colocado no Insurgente.

A OTA

Tal como se previa, a OTA vai mesmo avançar. E uma vez mais, o Governo lança números pouco credíveis : perto de 90% do custo da obra suportada pelos privados (acredite quem quiser).
Ficámos também a saber que os estudos de viabilidade financeira do projecto, bem como do seu impacte na economia, só estarão concluídos mais tarde.
Interrogo-me por que razão, ao nível do governo central, a decisão de enveredar por determinados projectos, que implicam a afectação de recursos por natureza escassos, nunca é sustentada em estudos, que estes servem apenas para caucionar a obra quando esta já vai a meio e se tornou, por via disso, irreversível. Os estudos são assim encomendados pela piores razões : reforçar o poder simbólico das decisões, nem sempre claras, dos governos; são politicamente orientados, passando a componente técnica a não ser mais do que mera ornamentação.
Por fim, a decisão de usar a base aérea de Beja para as companhias de baixo custo só pode ser entendida como uma tentativa de anular essa vantagem comparativa, em face da distância entre Lisboa e a capital de distrito alentejana.
Julgará o ministro Mário Lino que os portugueses serão "otários"?

Terramoto

Ruínas da Sé de LisboaNo dia em que o DNA (DN) escreve sobre o terramoto de 1755, lembro a notícia da Reuters de alguns dias atrás:
"Exactly 250 years after one of the world's most devastating quakes transformed regal Lisbon into a ghost town, experts from around the world will gather to find a prologue for the future.

The earthquake that hit Lisbon on November 1, 1755, rang Paris' church bells and triggered a tsunami from Norway to North America. It sent shockwaves through Enlightenment Europe, changing forever the way earthquakes were perceived and handled.

"We have to call attention to the authorities and the population in general that this past event, this terrible event, may come again," said Carlos Sousa Oliveira, president of the Portuguese Society for Earthquake Engineering. "We don't know when. It might not be as strong. But we have to prepare to face it."
(...) "People living in Portugal have no idea of the risk. They are not aware of the risk because earthquakes have a long return period, meaning they can take hundreds of years to happen again," said Alfredo Campos Costa, an earthquake engineer working in seismic risk assessment research."

2º Aniversário

Parabéns ao Rua da Judiaria, que completa o seu segundo ano de escritas.

O Som no Office

Example

Baduizm - Erykah Badu

quinta-feira, outubro 27, 2005

Somaliland, a confirmação

Este texto confirma a minha hipótese. Temos, na realidade, um território homogéneo, etnicamente falando, e uma estrutura social baseada no clã; cada vez mais dominante por força da implosão das frágeis estruturas do Estado criadas com o processo de independência.

Nevertheless, Somaliland has one of the most homogenous populations in Africa, with virtually the entire population belonging to Hamitic (Cushitic) ethnic group and speaking Somali as their first language. Somalis of Somaliland are united by language, culture, Islamic religion (with an added dash of prehistoric superstitiousness), common descent and tradition primarily based on pastoral nomadism. They share ethnicity with their neighbors in the Horn of Africa: Oromos, Afar, and Rendille. Somaliland's population is variously estimated between two and three million, where half of them resided in the northwest region, and the spatial distributions of the population was shaped strongly by historical patterns.

Nation building

ExampleVia The Economist (link premium):
"The breakaway northern bit of Somalia, Somaliland, struck a blow for full independence last week by busting an al-Qaeda cell. Embracing perhaps 3.5m of Somalia's 11m or so people, the former British Somaliland has long been a lot more secure than the country's anarchic, formerly Italian, south. If multi-party elections due this week in Somaliland are reasonably fair and open, the outside world, including the African Union and the United Nations, may have to start seriously reconsidering its status, which has been fudged since the collapse of unitary Somalia in 1991. (...)

The efficiency of the locally organised swoop and the steady march of democracy in breakaway Somaliland have impressed the Americans, who have a regional military hub next door in less democratic Djibouti. Expect them to give a puff to Somaliland's chances of attaining statehood proper."

On being an Angel

Example
Francesca Woodman.

O Julgamento de Saddam

O Julgamento de Saddam não tem merecido a cobertura da nossa imprensa (a escrita e a televisiva). Mas vale-nos a internet, o acesso rápido à imprensa internacional e ao admirável mundo novo dos blogs.
Ficamos então a conhecer os contornos da acusação: Saddam Hussein é acusado, não dos massacres dos curdos em Hallaja, onde como é sabido recorreu a armas químicas, ou da brutal repressão do levantamento xiita no sul do país, a seguir à guerra do Golfo, mas sim de ter orquestrado a morte de mais de meia centena xiitas em Dujail, depois de ter sido alvo de uma tentativa de assassinato. Trata-se de um crime menor, no extenso currículo do antigo senhor de Bagdad, e além disso perdido no tempo : remonta ao ano de 1982, em plena guerra Irão/Iraque.
Numa analogia um tanto ou quanto grosseira, seria o mesmo que julgar e executar os nazis pelos crimes da célebre “noite das facas longas”, em que Hitler, na sua ascensão ao poder absoluto, se desembaraçou das SA.
É muito pouco para justificar tão desastrosa intervenção militar (caído o argumento das armas de destruição maciça, restava o “dever moral” das nações democráticas, corporizadas pelos EUA e Reino Unido, porem cobro ao despotismo sanguinário de Saddam). E é seguramente um julgamento deficitário, destituído de legitimidade aos olhos dos sunitas, cada vez mais alienados do processo de construção do “novo Iraque” (resta saber se o federalismo agora instituído não será o primeiro passo para a desagregação nacional, submergida por configurações territoriais etnicamente distintas).
O julgamento de Saddam Hussein muito provavelmente culminará na pena de morte, acabando por lançar mais achas para a fogueira da guerra civil em que cada vez mais o território da antiga Mesoptâmia se vê mergulhado.

Presidenciais

Vamos ter hoje a oportunidade de conhecer o manifesto eleitoral do Prof. Cavaco Silva, e, finalmente, poder comentar com legitimidade se a sua candidatura é, ou não, vazia de ideias. Sim, porque como já tive oportunidade de escrever, o que até agora Cavaco fez, foi umanuncio de candidatura, e só.

Ainda a propósito das presidenciais, chamo a atenção para um sondagem do Diário de Noticias. Eu sei que as sondagens valem o que valem, mas por muito que custe admitir são sempre um indicador. Nesta sondagem, Cavaco está no limiar da vitória na primeira volta e, Manuel Alegre 4 pontos acima de Mário Soares. A verificar-se, isto representa uma derrota retumbante do PS, e pessoal de Sócrates. De Sócrates, não é só uma derrota pessoal, mas também da sua forma prepotente e snobe de se impor nas soluções do partido, infelizmente para os socialistas, e de governar, infelizmente para todos nós.

Inundações

Bastou um dia de chuva mais intensa, conjugada com a maré alta, para que a baixa setubalense inundasse.
Os setubalenses habituaram-se a esta situação, que decorre, não só do entupimento do sistema de águas pluviais, mas também do facto de a baixa da cidade ser atravessada por ribeiras encanadas(tal como Lisboa) e de o terreno estar abaixo do nível do rio/mar. Aliás, uma experiência interessante é ir ao estádio do Bonfim (o que já por si vale a pena) e subir ao topo da bancada superior sul. Irão reparar que o jardim e a Av. 22 de Dezembro parecem inclinadas, sendo o ponto mais baixo a zona do Bonfim.

O Som no Office

Example
Forbidden Fruit - Nina Simone

A edição de 2005 tem mais 11 "bonus tracks". Para quem conhece só o "My Baby Just Cares for Me", está em boa altura de se redimir e começar a ouvir uma das melhores intérpretes de sempre.

Consequências

Das confusões cometidas por Mário Soares e ontem descritas pelo Público (transcrição no Blasfémias) e do que aí vier, o PS irá sofrer as consequências. O partido mais que o candidato.
Muito mais relevante que apontar a idade do candidato como origem dos lapsos ou assegurar que a sua condição física lhe permitirá uma campanha que se adivinha renhida (mais até entre a esquerda), será assumir que os actos e ideias do candidato escolhido pelo PS são também as suas e por isso deverá manter a constância e a força do apoio do seu aparelho e dos seus dirigentes.
Se nos próximos dois meses e meio se começar a instalar algum incómodo pelo modo como a campanha correr, pela maneira como o seu programa político é exposto ou se o seu conteúdo afrontar o socialismo de aparentes vias alternativas de Sócrates (não esquecer que Soares há muito reabriu a gaveta onde tinha guardado o socialismo dos '70), como reagirão os que tão prontamente apoiaram o pai fundador?
Surge hoje uma sondagem no DN que mostra a subida de Manuel Alegre e a queda de Mário Soares. Até quando se manterá o empenho do Largo do Rato na candidatura soarista e quando começarão as sugestões de abandono do candidato (como sugere a sondagem no Insurgente)? É estar atento às participações em actos de campanha: nesta campanha as espingardas vão-se contar de forma regressiva com o passar dos dias e das sondagens.

Texto já publicado no Insurgente.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Fail better

Ever tried. Ever failed. No matter. Try Again. Fail again. Fail better.

Samuel Beckett

Corpo de Mulher

Example
Francesca Woodman (1958-81).
A força da intimidade inscrita nesta foto exclui logo à partida qualquer propósito voyeurista.
Foi há alguns anos, no Centro Cultural de Belém, que pela primeira vez tomei contacto com o trabalho de Francesca Woodman.
E foi talvez a exposição de fotografia que até hoje mais me marcou (perturbou).

Taça de Portugal

O Vitória joga esta tarde, às 15 horas, em Fafe. Podem ir dando uma vista de olhos ao jogo através do Mais Futebol.

Update 1: 13' GOLO DO V. SETÚBAL: (0-1, por Fonseca). Pontapé de canto cobrado por Tchomogo, a bola vai para Fonseca que, no coração da área, remata de primeira com o pé esquerdo.

Update 2: Vitóóórrriiiaaa!!!

O Som no Office

Example

By Arrangement - Jim Hall

Entre os convidados estão Joe Lovano, Pat Metheny e Greg Osby. Grande disco.

Órgãos de Soberania

Só para recordar, aqui fica o respectivo artigo da CRP:
Artigo 110.º
(Órgãos de soberania)
1. São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais.
2. A formação, a composição, a competência e o funcionamento dos órgãos de soberania são os definidos na Constituição.
Um órgão de soberania, qualquer um, pode entrar em greve?

terça-feira, outubro 25, 2005

Multiculturalismo

Este texto do jornal Guardian, sobre os motins raciais que assolaram Birmingham, ilustra bem uma das consequências funestas do multicultutralismo (entendido na sua dimensão institucional, com responsabilidade para os organismos do Estado, para as associações do género da SOS Racismo e para as mais diversas personalidades erigidas à condição de líderes das comunidades) de que já aqui dei conta, quando me iniciei nestas coisas da blogosfera. A saber : a ênfase nas diferenças entre as comunidades e não naquilo que as une; ou dito de outro modo, aquilo que os indivíduos têm em comum, independentemente das pertenças raciais, étnicas ou religiosas.

Multiculturalism has moved on. Where 30 years ago "black" often sufficed to cover both black and Asian communities - each seeking to resist white racism - now multiple identities and communities have emerged: Africans have separated from Afro-Caribbeans; Somalis from Yemenis; Yemenis themselves into three groups; Asians into even more - Muslim, Hindu, Sikh, with a succession of subgroups. Intergenerational attitudes make the scene even more complex. As the CRE's Trevor Phillips noted last month, one shortcoming of multiculturalism was that it concentrated too much on emphasising the differences between groups and too little on the values they shared.

Vereadores sem pasta

Seguindo uma lógica semelhante à do seu congénere palmelense, o presidente da concelhia de Setúbal do PSD, recusa a aceitação de pelouros pelos três vereadores eleitos (via RSO):
«Quem ganha as eleições governa e deve exercer o seu mandato. O PSD não se identifica com o projecto comunista para a cidade, por isso não tomará quaisquer responsabilidades nele»
Vão por isso ser vereadores sem pasta.
Falta saber qual a posição do PS. Será que Catarino Costa volta a ser o vereador dos cemitérios?

O Som no Office

Example

Willow Weep for Me - Wes Montgomery

Uma Mistificação

Este texto do Canhoto desmonta a muito mal contada história do ranking das escolas, que parece ter como único propósito exaltar a escola privada. É claro, para mim, que esse é o propósito do Público, do putativo José Manuel Fernandes.
Veja-se então esta passagem :

Cuidados que são ainda menores no caso da classificação elaborada pelo Público. Nesta, o primeiro lugar é ocupado por uma escola que, este ano, levou a exame 20 meninas (e cinco o ano passado). Em reportagem, o Público tenta identificar as razões do sucesso do pequeno colégio feminino do Restelo apoiado pela Opus Dei. Eu faço uma sugestão alternativa. Comparem-se as notas dos 20 melhores alunos de cada escola e faça-se uma nova classificação. Talvez assim se entenda como pode ser fácil ter uma boa classificação nestas listas da imprensa: basta seleccionar um número reduzido de alunos e bater com a porta na cara dos restantes.
Última questão: porquê tanto alarido em torno de trabalho tão elementar?

Vocês sabem do que eu estou a falar...

Era inevitável, basta ver o historial das relações que teve com os seus dirigentes.
Octávio Machado desentendeu-se com o líder da concelhia do PSD, Bracinha Vieira . Este entende que o ex-treinador do FCPorto e do Sporting só deve aceitar o lugar de vereador para que foi eleito se este "fôr de qualidade".
Claro que não ficou sem resposta (via ROS):
"[esse] assunto só me diz respeito a mim e à presidente da Câmara, o Dr. Bracinha não tem nada com isso e até acho estranho que fale sobre esse assunto (...) se quiser ser sério que diga se as suas propostas vão de encontro às propostas da distrital ou dos autarcas eleitos. Ele que diga se existe consenso entre a distrital e a concelhia sobre o que quer impor em Palmela".

Octávio está em forma e certamente prepara-se para dar "trabalho, muito trabalho" quer à CDU quer ao próprio PSD.

Coisas Insuportáveis

O “Prós e Contras” moderado por Fátima Campos Ferreira.
O comentário de António Vitorino na RTP1.
Pode parecer gratuito mas é assim mesmo.

Uma Foto Cinematográfica

Example
Cindy Sherman.
Há muito de Hitchcock nesta foto.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Uma Bela Desolação

Example
Frank Gohlke. Aerial View, Downed Forest Near Elk Rock, Approximately Ten Miles Northwest of Mount St. Helens, Washington. 1981.

Visita recomendada

Example

Os que me conhecem, sabem o apreço que tenho por uma boa refeição.
Aprecio não só o sabor, cheiro e aspecto do que me é apresentado, bem como de todos os pratos que não poderei degustar por falta de capacidade estomacal (embora seja já bastante elevada). Ir ao festival coloca, então, a questão de escolher a zona do país, o restaurante e o repasto.
O Marão foi a zona escolhida pelo grupo excursionista (que integrou também o JCCA): alheira grelhadas para começar, seguidas de grelhadas mistas, da raça maronesa, acompanhadas de arroz de forno, batatas assadas com pele, couve e do indispensável tinto. Na mesa ao lado, a boa disposição de um outro grupo excursionista indicava que já vários jarros de tinto tinham sido vazados ao mesmo tempo que a dimensão estomacal dos seus membros indicava um exaustivo percurso por várias regiões gastronómicas.
Para sobremesa, uma visita à zona da doçaria. Uma dose de pão de ló de Ovar fez-me o favor de acamar o café, embora houvesse quem preferisse uma excelente sericaia devidamente ameixada. O tiro para o ínicio da digestão foi dado por uma bem preparada poncha madeirense.
Imagino o que seria a minha vida se eu vivesse ali por perto de Santarém...

Dúvida existencial

Tanto quanto o possível, tento evitar o inesperado. Tanto quanto possível, tento antecipar o que aí me vem. Usando de um conhecido aforismo, diria que tento preparar-me para o pior enquanto espero pelo melhor.
Confesso não ser grande apreciador de surpresas.
Muitas vezes, quando aprecio o comportamento e a atitude dos meus companheiros de condição humana, fico surpreendido (o que só por si me desagrada) com o desprendimento com que encaram o futuro. Se ainda não aconteceu, para quê pensar nisso? Concluio, aceito que de forma ríspida, pela irresponsabilidade geral do logo-se-vê, que muitas vezes acompanha um encolher de ombros.
Dizem-me que, com isso, rejeito o desconhecido; os prazeres que o inesperado carrega, as descobertas que são fruto do não esperado e planeado. Pode ser. É.
Mas é mais confortável o pessimismo de saber que algo poderá correr mal e estar preparado para acomodar tal contrariedade. É mais confortável o optimismo de que por estarmos preparados tudo irá correr sem perturbações.
Fica-me a dúvida: sou um pessimista ou um optimista?

sexta-feira, outubro 21, 2005

A Candidatura de Cavaco e Silva

Ontem escutei o lançamento da candidatura do prof. Cavaco e Silva pela rádio TSF, quando ia a caminho de Lisboa para ver o concerto dos Animal Collective.
Não assisti por isso à encenação para as televisões, mas sei que havia dez bandeiras de Portugal no simbólico CCB, uma por cada ano de ausência do professor da vida política nacional, talvez para assim melhor realçar o carácter providencial deste candidato há muito anunciado.
Parece que tivemos um Cavaco de rosto aberto, como que a deixar a crispação encerrada no passado de primeiro-ministro. Mas já quanto ao discurso, as semelhanças com esse passado foram por demais evidentes : O político hábil em veicular a mensagem de que não é da política ou a arte de transmudá-la em competência técnica (a economia, sempre a economia, matéria que o professor domina como poucos); o sacrifício do regresso à vida pública(perpassou o trabalho, o “deixem-me trabalhar"); a estabilidade erigida em valor supremo da política.
Sobre o que pensa da função presidencial, nada disse, que não as habituais promessa de exercer o mandato no respeito das regras da Constituição e de garantir a autonomia do Governo (talvez a querer dissipar os fantasmas do presidencialismo).Ficámos sem saber do projecto presidencial. Mas que importa isso se uma gestão política feita de silêncios, entrecortados por conferências ou curtas declarações, tem servido às mil maravilhas para colocar o professor à beira de uma vitória logo à primeira volta?

Presidencialismo

Mais uma voz pela presidencialização do regime, desta vez saída do espectro da esquerda.
O sociólogo Villaverde Cabral, citado pelo Público de ontem, veio a terreiro defender o reforço dos poderes do Presidente, face ao esgotamento da “capacidade de regeneração do sistema partidário”.
Gaullização é palavra que aquele reputado especialista não enjeita, para quem o Presidente deve intervir de forma mais “directa e activa” nos problemas da governação (participando por exemplo no Conselho de Ministros), para assim justificar a sua eleição por sufrágio directo e universal.
Poder-se-ia pensar que Cabral defende uma revisão constitucional que consagre o reforço dos poderes presidenciais. Mas não: basta tão-só uma interpretação mais vigorosa dos poderes que lhe são consagrados pela Constituição da República. E ninguém melhor do que Cavaco para encarnar essa mutação : “Se alguém tem neste momento em Portugal um capital que possa investir numa orientação deste tipo esse alguém é Cavaco”. Se a reforma do exercício dos poderes presidenciais é, para Villaverde, essencial “à refundação da democracia”, então o prof. Cavaco Silva é o homem providencial neste tempo de crise. E procura espantar os medos que à esquerda existem a respeito de “tão autoritária figura” : “A esquerda tem medo de Cavaco. Mas tem medo de quê? As políticas do eng. Sócrates são muito mais à direita do que jamais o prof. Cavaco e Silva protagonizou. A esquerda tem medo de quê? Da ditadura? O prof. Cavaco e Silva não tem estatuto para se armar em ditador!”.
Depois disto, só não se percebe por que razão Villaverde Cabral não apoia Cavaco (disse não apoiar nenhum dos candidatos).


quarta-feira, outubro 19, 2005

Separados à nascença

Example
Via CNN:
Chavez accused what he called "the North American empire" of threatening "all life on the planet," while Mugabe compared Bush and Blair, for their alliance in the war in Iraq, to Germany's Adolf Hitler and Italy's Benito Mussolini, who were World War II allies.(...)
Mugabe defended the land reforms as "redressing the past gross imbalances in land ownership which were institutionalized by British colonialism."(...)
Chavez praised Mugabe's land reform, saying the African leader had been "demonized" and that similar reforms were being enacted in his own country.

Vêm aí tempos de instabilidade

"Na situação em que o país se encontra, o Presidente da República é talvez o mais forte ponto de arranque de um processo de reformas. Aquilo que eu acho que o prof. Cavaco Silva é capaz de concretizar é o projecto e a tarefa mais difíceis desde 1976. Mas isto apenas se ele aparecer já dizendo ao país quais são os pontos de bloqueio, sem receio de afirmar objectivamente quais são os receios e os tabus que o país conhece. E estou a falar, por exemplo, da dimensão do sector público, da dimensão do Estado, do número de funcionários públicos; estou a falar da gratuitidade das prestações sociais, da inflexibilidade da prestação social em matéria de despedimento, etc.. Estas reformas não são uma questão de esquerda ou direita, de partidos ou de governo. São balizas para a actuação de um governo e ele deve dizer já o que pensa destas matérias. "

"Apresentando-se desta forma ao país, o Presidente deixa de estar às quintas-feiras a receber o primeiro-ministro para comentar a situação do país e passa a estar às quintas-feiras a receber o PM para julgar em que medida o Governo está ou não a cumprir as directrizes. Enquanto estes pontos forem respeitados na livre decisão do Governo, tudo bem. Quando qualquer destes pontos for tocado, o Governo terminou nesse dia. Com ou sem maioria. "


Morais Sarmento ao Diário Económico, 19 de Outubro de 2005.

Aqueles que ontem criticavam o Presidente da República por ter posto fim a um ciclo de estabilidade ancorado numa sólida maioria parlamentar, vêm hoje defender a sujeição dos governos a uma agenda presidencial, sob pena de estes verem cessar os seus mandatos.
Eis o presidencialismo em todo o seu vigor e, pelos vistos, nem é preciso rever a constituição.

SCUT's

Vinha hoje de manhã a caminho de mais um dia de trabalho, e por acaso vinha a ouvir a TSF no carro. Qual não é o meu espanto quando ouço o nosso ministro das finanças afirmar que no próximo ano algumas SCUT´s passariam a ter portagem. Bom devo confessar que sempre fui defensor da teoria do utilizador pagador e portanto acho que devem ter. Mas não é isso que está em causa. Quer se seja defensor das portagens nas SCUT's, quer não, todos nos lembramos de à cerca de meio ano, ou talvez menos, o primeiro ministro jurar que nunca existiriam e que não iria aumentar as assimetrias regionais, promovendo o desenvolvimento do interior. Assim sendo, cerio que o meu espanto é comum aos defensores e antagonistas das portagens. E tb me vieram à memória algumas palavras que uma certa pessoa também disse na altura. A pessoa é Manuela Ferreira Leite, as palavras lembram-se? Foi a previsão do que está a acontecer....

Mark Eitzel

Example
O Mark é um tipo desconcertante. Parece estranhamente recolhido. Entra em palco meio a cambalear, meio desajeitado, e depois há toda aquela intensidade, a vulnerabilidade da condição humana exposta naquelas belas canções.
Ontem, no Santiago Alquimista, éramos poucos, quase todos sentados às mesas num ambiente intimista, unidos pela música de Mark Eitzel.

Jenny
Here you are again
Another stupid party again
A celebration for nothing

Your eyes are following
The kings and the queens of the zoo
Immune in their black clothing
They let the world down

And they let you go
Please don't go home now
Home is a place to rob
Home is alone in the mob
Home is an unheard sob
Jenny don't go home now
Please don't you go home now

Here you are again
Another stupid party again
Everyone here thinks that when they die
You will be there to let them in
Jenny don't go
Please don't go home now

terça-feira, outubro 18, 2005

Alice

Example
Enfim fui ver Alice.
Um belo filme. Parte de uma ideia simples, o desaparecimento de uma filha, em suma, a perda.
Mário, o protagonista, tem a sua vida presa a esse acontecimento. Todos os dias repete, numa espécie de ritual religioso, o percurso que fez naquele fatídico dia em que a filha desapareceu, num esforço desesperado para resgatar a normalidade quotidiana, que fora brutalmente interrompida pelo acontecimento. È a recusa da realidade ou a insubmissão a esta.
Depois, coloca câmaras de filmar em vários pontos da cidade, fazendo uso de uma rede de solidariedade e de conhecimentos tecida no anonimato da metrópole. Através destas imagens, confrontamo-nos com uma Lisboa fria e baça, habitada por gente distante e anónima. Mesmo assim, é difícil não sermos seduzidos por essas imagens em tons de azul esverdeado, ou pelos sons agrestes do metro e dos comboios suburbanos. A forma como é filmada a urbe fez-me lembrar algum cinema oriental (lembro-me de “O Rio”, deTsai Ming-liang, cineasta de Taiwan ).
Mário vive da dissecação deste mundo de imagens, mas é como se não existisse fora delas. São elas que dão sentido à sua existência e que melhor exprimem a desesperada procura de um sinal da filha desaparecida. Sim, porque aqui trata-se acima de tudo de filmar a busca obsessiva que molda uma existência marcada pela dor. Foi o que tão bem soube fazer o realizador Marco Martins.
Também muito bela a música de Bernardo Sassetti.
Recomendo este filme à corte neoliberal da blogosfera.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Os proletários também descansam

Esta semana, este escriba vai dar descanso ao teclado e tentar aproveitar os raios de sol que de vez em quando espreitam por entre as nuvens.

Até já.

Referendo Abortado

O tribunal Constitucional prepara-se para chumbar a proposta de realização do referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, pondo cobro a essa questão digna do sexo dos anjos, que era a de saber se em Setembro último tínhamos, ou não, iniciado uma nova sessão legislativa. Presidente e governo preferiram enredar-se em artifícios jurídicos, num jogo nada edificante, e o resultado foi este imbróglio que perpetua uma lei iníqua.
Já é tempo da Assembleia da República assumir as suas responsabilidades, aprovando nova legislação sobre a matéria em causa. Tem toda a legitimidade para o fazer e não ficar refém de um referendo pouco participado e não vinculativo : lembro que, em junho de 1998, a taxa de participação foi inferior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento).
Penso aliás que questões do foro íntimo/privado, como são o caso do aborto ou por exemplo do direito ao divórcio, não deveriam ser referendadas. Em tais circunstâncias, o referendo mais não é do que um instrumento para impor a vontade da maioria à minoria. Aqui socorro-me de John Stuart Mill : “If all mankind minus one, were of one opinion, and only one person were of the contrary opinion, mankind would be no more justified in silencing that one person, than he, if he had the power, would be justified in silencing mankind.”
Regulação sim, mas em sede do órgão legislativo por excelência, que é a Assembleia da república.

sexta-feira, outubro 14, 2005

É como se já lá estivesse

Example

Transgénicos em Odemira

Depois de a C.M.Odemira ter declarado o concelho como Território Livre de Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e do presidente (reeleito) se ter queixado de não poder impôr essa decisão em propriedades privadas, eis que a Cooperativa Agrícola de Monte Alto decide semear milho geneticamente modificado, produzido pela Monsanto.
Diz o seu presidente (via AMR):
É nesta zona junto ao litoral que a praga de insectos danifica a cultura do milho, por isso a razão de, em todo o mundo, se estar a utilizar este sistema para controlar estas pragas e só em Portugal fomos os últimos a aderir a esta método.
O milho é mais resistente e a plantação é mais sã, porque não é atacada pelas pragas(...) não podemos conferir os resultados finais, agora em resultados visuais está com um estado de sanidade muito melhor.(...)
Penso que a tendência desta cooperativa, como a de muitos agricultores, é a de aderir a este sistema, porque estamos cada vez mais a ser controlados pela qualidade do que produzimos e não por sistemas tradicionais em que nos começam a fazer exigências que temos de acompanhar.(...)
Contactei com vários clientes e nenhum deles levantou qualquer tipo de problema porque todo o milho que é importado vem rotulado como transgénico, excepto casos pontuais que a pessoa poderá exigir ou não, mas para consumo animal de a alguns anos para cá que quer o milho, a soja ou outros cereais são transgénicos.
Que poderá a CMO fazer perante tal vontade de ""lucro desenfreado e imediato"? Como poderá proibir os proprietários dos terrenos de fazer tais plantações?
Só coisas para apoquentar os planeadores socialistas...

O PC

Example
Sim, o PC foi um dos vencedores da noite autárquica de que pouco se tem falado.
Do bom resultado em Lisboa, a fazer lembrar aos socialistas que a arrogância paga-se caro (ao coordenador autárquico Jorge Coelho que há mundo para além da absoluta maioria das legislativas), às vitórias no Distrito de Setúbal e ao regresso ao Distrito de Leiria, com a reconquista da simbólica Marinha Grande e a surpresa que constituiu a vitória em Peniche, Câmara onde nunca havia sido a primeira força. E ninguém imaginaria que em 2005 a CDU conquistasse a maioria das Câmaras da Área Metropolitana de Lisboa, e, a manter-se a tradição, terá muito provavelmente a presidência da junta.
Não, não vou dissertar sobre “o modelo autárquico” dos comunistas, mas creio que cada vez mais eleitores valorizam a seriedade e dedicação destes autarcas, uma certa cultura de trabalho e disciplina, espécie de idiossincrasia deste partido. Pode por vezes faltar a visão estratégica, mas há muita energia posta ao serviço das populações. Por isso eles são credíveis.
Para a nova dinâmica adquirida pelo partido nunca é demais realçar Jerónimo de Sousa, cuja liderança, fresca e enérgica, contrasta fortemente com o cinzentismo da era Carvalhas (só o tempo do PCP explica a duração da liderança de Carlos Carvalhas). Conotado com a ala mais conservadora, Jerónimo, porém, rompeu com os estereótipos; sedutor e sempre bem-humorado, mediatizou o PC (o bloco que se cuide!). Sou da opinião que em muito contribuiu para o bom resultado, pelo menos em Lisboa.
Deixámos, pois, de ter um partido emparedado entre a hegemonia do PS no espaço da esquerda e a dinâmica fracturante do BE. Voltou a respirar e a sentir que há, nos tempos que aí vêm, espaço para crescer.
Veremos o que nos trazem as presidenciais, o campo da esquerda vai ser palco de duras batalhas. Disso falarei noutra ocasião, porque o post já vai longo e o fim-de-semana está à porta.


Fuga Para a Vitória

À esquerda, nasceu um novo blog, o Fuga para a vitória do meu amigo, e antigo colega de faculdade, Renato Carmo; conta também com outros colaboradores.
Luís, acho que devia figurar na nossa coluna de links das esquerdas, ainda tão minoritária no office (mas tu é que és o administrador).

O Som no Office - Jazz suíço (II)

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Estes dois grupos de músicos conseguem dois CD's bastante audíveis. Os Urban Spaces Quartet levam-nos por uma música simples, por vezes um pouco nocturna. O Fabulous Fable Trio apresenta-se sem pretensiosismo, numa formação clássica de piano, baixo e bateria.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Ou então, não...

Fazendo o rescaldo das eleições, o candidato do BE a Setúbal, o Dr. João Bárbara, assinala a subida de votos do Bloco e aponta o seguinte:
Tivemos uma maior percentagem na votação à assembleia do que à câmara, ao contrário da CDU, o que nos faz crer que houve um voto útil da esquerda na CDU com receio de que a direita pudesse vencer.
Caro Dr., já pensou que pode ter sido uma escolha consciente, baseada na razão, baseada na avaliação das opções a voto? É que depois da campanha que conduziu, das intervenções que fez e das propostas que apresentou (e da preocupação que revelou com os problemas do munícipio de Grândola), os nossos con-munícipes potenciais votantes do BE, podem ter decidido que talvez fosse boa ideia não votar em si para presidente (ou vereador).

Nem com antidepressivos

Sobre a derrota do Partido socialista nas últimas eleições autárquicas, pesaram mais os factores locais ou as medidas do governo que pretendem afectar interesses e privilégios “corporativos”? Não podemos fugir a uma leitura local dos resultados, porque era a governação das autarquias que estava em causa nestas eleições, e o PS andava pelas ruas da amargura em muitas terras deste nosso país, consequência de anos de mera propagação do caos urbanístico, casos de Cascais, Sintra ou Setúbal, para citar apenas alguns exemplos. Não acredito que tão cedo voltem a governar estes municípios.
Mas há uma leitura nacional que se pode e deve fazer. E ela não se prende com o ataque aos aludidos interesses corporativos (de juizes, professores e funcionalismo público em geral), onde campeou algum populismo, que este não é só atributo do poder local ou regional.
Eu não iria por aí. Ao contrário, acho que pesou e muito a demissão do ministro das finanças, indissociável da OTA e do TGV, investimentos faraónicos (para contento de clientelas) em tempo de sacrifícios, a nomeação de aparatchiks para empresas do Estado ou onde este tem participação e, por fim, a quebra da promessa eleitoral de que não iria aumentar os impostos, porque a memória dos eleitores não é assim tão curta.
Foi assim dissipada toda a réstia de optimismo e já nem com antidepressivos vamos lá.

quarta-feira, outubro 12, 2005

Aniversário

Hoje o meu post, é apenas uma desculpa para dar os parabéns ao LA, a quem devemos a nossa presença quase diária aqui no Office.
Que contes muitos anos, e sim com o avanço da idade, que venha a sensatez, lembra-te já não são 30

terça-feira, outubro 11, 2005

Futuro pouco verde

As coisas estão díficeis, lá para os lados do Bonfim.

O regresso do liberal, sulista e sportinguista

Pois é.
O João Caetano Dias está de volta, só que desta vez alinha na equipa do Blasfémias.
Um regresso há muito esperado pelos leitores do Jaquinzinhos.

Contágio?

Em Setúbal, o céu cinzento como que aprisiona a água da chuva, que tarda em chegar à terra. Não sei se vamos ter chuva. Talvez, com uma pequena ajuda da tempestade tropical; o ar está pesado.
Mas oiço, na TSF, que o Vince deixou de ser tempestade e passou a depressão. Nem o Vince escapou ao estado geral do país.

O Som no Office - Jazz suíço (I)

Em apreciação estão três CD's, uma oferta vinda da Suiça. Este é o primeiro:

Example

Jakob Hug (Tenor/Alto Saxophone), Ademir Candido (Guitar/Cavaquinho), Herbie Kopf (Bass), Tonico da Silva (Pandeiro/Percussion).
Este quarteto fez um CD de "chorinhos". Entre as músicas tocadas, estão quatro de Pixinguinha, mestre inicial da música brasileira, o que mostra que pelo menos têm boas intenções e bom gosto, embora por vezes falte um pouco de alma e emoção.
Não creio que os colegas de "repartição" se queixem, desta vez...

segunda-feira, outubro 10, 2005

Estágios

Ali, nas margens da direita, sugerem estágios junto de Jerónimo.
Pois é...Eu até acho que os populares seriam bem recebidos na Soeiro Pereira Gomes. Não poderei dizer o mesmo dos candidatos do bloco, a quem uns estágios também não fariam mal nenhum.
Do que nós precisamos é de mandar às urtigas a bipolarização.

Sondagem

Obrigado a quem participou na (altamente científica) sondagem sobre as autárquicas, com resultados bastante reveladores do que se passou na realidade. Aqui ficam para vossa apreciação.

BE - 10% - 2
CDS - 5% - 1
CDU - 10% - 2
PS - 10% - 2
PSD - 62% - 13
Outro - 0% - 0
Não voto - 5% - 1

As Autárquicas em Setúbal

Numa primeira análise aos resultados de Setúbal, há a registar a quebra eleitoral da CDU, que, embora mantendo a presidência da Câmara, perde a maioria absoluta de mandatos; teve menos 7966 votos do que em 2001.
Era de prever alguma erosão eleitoral, muito por força de constrangimentos de ordem financeira (pesada herança socialista) que impediram o cumprimento de pelo menos uma parte do programa eleitoral sufragado há quatro anos, quando a coligação recebeu um expressivo mandato dos setubalenses. Mesmo assim, quedou-se a apenas 184 votos do quinto vereador (eleito pelo PSD), que lhe permitiria ter a maioria absoluta.
Creio ter sido na freguesia de São Julião que a descida da CDU foi mais acentuada, acabando por ditar a perda da maioria absoluta. Com efeito, caiu mais de 1500 votos, registando aqui o PSD o seu melhor resultado (vence as eleições para Câmara e para a Assembleia de Freguesia).
Há quatro anos houve um voto de rejeição da vereação socialista de Mata Cáceres, que então detinha a Câmara , que se traduziu numa convergência de votos na figura de Carlos de Sousa, à época o rosto da alternativa. Parte desse eleitorado votou agora em Fernando Negrão, que obtém para o PSD o melhor resultado de sempre, ou então engrossou as fileira da abstenção; sobe no concelho de Setúbal.
O PS passa a ser a terceira força política, sinal da depreciação deste partido, em especial das suas estruturas locais, aos olhos dos munícipes.
Relativamente modestos foram os ganhos do BE, somente dois mandatos na Assembleia Municipal, ficando muito longe de eleger um vereador, ao contrário do que faziam prenunciar os bons resultado das últimas legislativas; mas sabemos que nem sempre há tradução entre legislativas e autárquicas, e a implantação local do “bloco” é ainda fraca.
Um último apontamento para o CDS, cada vez mais residual no concelho, desta vez até abaixo do PCTP/MRPP.

Odemira - II

Via PD:
"Numa mesa de voto (Campo Redondo) as eleições foram anuladas devido a um problema com os boletins, que foram trocados", explicou à Agência Lusa Nuno Godinho de Matos, acrescentando que "nas outras mesas de voto esse problema não se colocou". (...)

No domingo, a mesa de voto de Campo Redondo fechou pouco tempo depois da abertura das urnas, ficando os 403 eleitores inscritos impedidos de votar.

Na base do encerramento esteve um engano por parte da gráfica responsável pela impressão dos boletins, que enviou para o local boletins correspondentes à eleição da Câmara de Beja em vez da de Odemira, segundo Nuno Godinho de Matos.
No próximo domingo, as urnas voltam a estar abertas em Colos.

Setúbal

Carlos de Sousa segura a presidência da Câmara de Setúbal, mas desta vez sem a maioria para a coligação comunistas / verdes. O PSD consegue eleger mais dois deputados que em 2001 em contraposição com a CDU que os perde. O PS continua com dois vereadores.

Será que o eleitores que há 4 anos quiseram penalizar a gestão de Mata Cáceres e do PS, transferindo o seu voto para o ex-autarca de Palmela, já mais calmos e com mais vontade de demonstrar uma escolha que um desagrado, decidiram votar em Fernando Negrão do PSD?
O PS obteve menos 2% de votos que em 2001, uma penalização merecida para a lamentável escolha do seu candidato (e constituição de algumas listas de freguesia). Não devemos esquecer que o candidato à assembleia municipal era António Vitorino, que ontem à noite comentava as eleições na RTP. Talvez não se tenha empenhado o suficiente. Talvez não fizesse muita questão, como é seu costume, em ser eleito.

Odemira

Tudo como dantes: António Camilo, do PS, continua como presidente do munícipio. Na Zambujeira, António Manuel Rita, também do PS, volta a ser presidente da junta de freguesia.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Setúbal, o debate

Também ontem à noite estive a ouvir o debate sobre Setúbal na TSF.
Foi o esperado, demasiado normal, a ecoar os outdoors espalhados pela cidade. E depois há o turismo, qual panaceia para os males afligem esta maltratada terra.
Tive dois momentos de sobressalto. Primeiro, Catarino Costa a acusar o actual edil de não ter esgotado a capacidade de endividamento da Câmara, “a sexta mais elevada do país.” Enfim, o que interessa é “fazer obra”, mesmo que hipotecando o futuro; endividamento e mais endividamento poderia ser o lema do candidato socialista, que não verte lágrima de arrependimento pelo estado em que seu partido deixou a Câmara, depois de mais de quinze anos à frente dos destinos da autarquia. Depois, Fernando Negrão e o célebre cartão do idoso, espécie de versão Big brother para a terceira idade, já que o propósito é recensear, identificar e numerar. Em face de tão aterrador futuro, ao menos que tenhamos, quando formos velhos, a hipótese de recorrer ao suicídio assistido.

Debate autárquicas - II

Declarações finais no debate da TSF:

CDS: mar, turismo, recuperar centro histórico, idosos.

BE: desenvolvimento sustentado, conta a coinceneração, contra a Nova Setúbal, contra o continuismo

PS: novo rumo e futuro, aposta nos jovens, idosos e nas praias (na Comenda em especial)

CDU: participação dos cidadãos, descentralização de competências, políticas sociais, colaboração com empresários para atrair grandes investimentos

PSD: pôr a experiência do candidato ao serviço do concelho, para desenvolver a cidade

O leitor setubalino já escolheu?

Debate autárquicas

Na TSF, João Bárbara, candidato do BE, lembra que Carlos Sousa da CDU e actual presidente da câmara, há 4 anos era contra o projecto Nova Setúbal, mas deu uma volta de 360º e era agora a favor.

Os media do nosso descontentamento

A cobertura das autárquicas abeira-se do fim.
Foi polarizada em torno das grandes urbes, Lisboa e Porto, e dos concelhos em que recalcitrantes a braços com problemas com a justiça decidiram afrontar as respectivas direcções partidárias, travestindo-se de candidatos independentes. Como a sociedade civil é fraca, o estatuto de independente acaba por servir quase só para isso, é albergue da dissidência partidária.
De Portugal fica a imagem de um país ainda mais pequeno : quase nada de Braga, Évora ou Setúbal, do norte ao sul pouco se viu, que os nossos media (da televisão à imprensa escrita) andavam na senda dos tais independentes.
Questões de fundo, como o desregramento urbanístico, triste herança do poder local, o custo da habitação, os centros históricos cada vez mais desertos de habitantes ou os obstáculos à mobilidade pedonal (sim, o primado do carro particular nas cidades), quase não viram a luz do dia. Havia que não perturbar o espectáculo, este nosso circo mediático.

Digam-me lá...

Já colocou a sua cruzinha na sondagem ali na coluna do lado direito?

quinta-feira, outubro 06, 2005

Monty Python's Fliyng Circus


O Bruno avisa e com razão: a não perder.
Para os que se lembram e para os que podem ter a felicidade de o fazer pela primeira vez, não percam na RTP-Memória, sábados às 15.30 a série que mudou o humor.
Claro que há os mais afortunados que tendo os DVD's da série inteira a vão visitando amíude...

Pobres mas honrados

O Sr. Presidente, ontem (via RR):
Quem enriquece sem se ver donde lhe vem tanta riqueza terá de passar ao menos a explicar à República como e quando, isto é, a ter de fazer prova da proveniência lícita dos seus bens. (...) os cidadãos inexplicavelmente enriquecidos terão de explicar, para que a justiça e a moralidade sejam repostas
É a promoção do pobrezinhos mas honrados, que ricos, num país tão desgraçado como o nosso, só se participarem em negócios indignos e ilegais. Os ricos, obviamente são todos culpados de um crime qualquer. O estado de "rico" é algo a que as pessoas de bem e com nada a esconder não devem almejar.

Sejamos desconfiados. Por detrás de cada porta da vizinhança, em todas as vizinhanças, há um velhaco capaz de não declarar todos os rendimentos que lhes permitem as vidas faustosas, indignas de cidadãos honrados.
Eu bem desconfio dos milhares que todos os dias entopem os acessos a Lisboa nos seus carros particulares. E as listas de admissão para os colégios particulares? Todos os anos desconfio dos milhares que vão passar férias aos trópicos.
Nós sabemo-lo. Com aquele dedo que adivinha. E dizemo-lo aos amigos, aos colegas, aos companheiros de honradez. Os outros andam metidos em algo ilícito.
Contra isto, pede-se a declaração pública de honra, a prova de inocência.

Será que as propostas do Sr. Presidente não espelham apenas a desconfiança mesquinha entre os cidadãos e a confiança absoluta nos poderes benignos do Estado omnipotente e dos seus impolutos e insuspeitos agentes?

Texto já colocado no Insurgente.

Os que parecem e os que são

Dizia o senhor de meia idade, bem composto no seu fato-gravata, para os demais comensais:
Eu voto nele. Parece ter boa formação.
A mesa assentiu. De facto o candidato parece ter boa formação. Moral e ética, entenda-se. Personalidade e conduta impoluta.
Das ideias do(s) candidato(s) nada constou. Ao(s) projecto(s) ninguém coloca questões nem demonstra apoios.
No domingo à noite, iremos ouvir falar das vitórias e derrotas das que parecem boas pessoas e das vitórias e derrotas das que sabemos serem más pessoas. Só que não estaremos todos a falar da mesma coisa.

terça-feira, outubro 04, 2005

Um voto por uma consulta?

Hoje no Público, leio que o candidato da CDU à Câmara de Beja, Francisco Santos, é conhecido “pela facilidade com que consegue desbloquear em Lisboa consultas e cirurgias para os seus conterrâneos.” Gesto nobre, sem dúvida. Menos nobre porém é jogar com isso na campanha eleitoral : “ Sabem que nunca me neguei a ajudá-los, sobretudo quando me confiaram o bem mais precioso : a própria vida.”, lembrou aos munícipes no comício da coligação.
É caso para dizer, um voto em troca de uma consulta médica. E assim vai a campanha autárquica.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Isto das ditaduras tem pouco que se lhe diga...

Raramente ou durante muito tempo, os seres humanos aceitam restrições à liberdade de viver e de exprimir as suas convicções. E por estranho que pareça a muitos, parecem dispostos a fazer algo para a manter ou mesmo conquistá-la.

Via Reuters:
"China links attacks on police to new-found rights.A statement by the Public Security Ministry, quoted by the Beijing Youth Daily, pinned the blame on a growing awareness of people's rights and a resistance to heavy-handed authority.(...)"The rapid growth of people's awareness of their own rights has caused them to resist management and led them to threaten and mob police," he added.

Via Guardian:
"The state bans the spreading of any news with content that is against national security and public interest," said a statement from Xinhua, the official news agency. The announcement called for blogs and personal web pages to "be directed towards serving the people and socialism and insist on correct guidance of public opinion for maintaining national and public interests"(...)Banned phrases from news sites, blogs and instant messaging services include independence, democracy, Taiwan, Tiananmen Square, freedom and the Dalai Lama."

O Sol da Terra

Caros Investidores,

A China é o sol da terra.
Na outrora pátria de Mao, podemos hoje desfrutar da liberdade plena, ao contrário deste nosso Ocidente, estrangulado por cada vez mais burocracia, mais socialismo e mais fascismo.
Não, não é fábula. Imaginem que lá somos donos dos nossos investimentos, a riqueza por nós gerada não é arrestada pelo Estado ávido da cobrança de impostos. E que não existe essa coisa nefasta, invenção de socialistas e conservadores, das prestações coercivas para a Segurança Social, porque os chineses cultivam a responsabilidade individual e para prevenir o futuro nada melhor do que o velho pé-de-meia. E como são zelosos na aplicação dos preceitos liberais! Sabiam que na saúde eles já instituíram o princípio do “utilizador-pagador” ? E de que na educação as propinas fazem lei?
Tão-pouco há regulamentações ambientais a castrar o crescimento económico, mal de que padece o nosso Ocidente, muito por culpa dessa praga pós-moderna feita de associações e partidos ecologistas. Felizmente que, na China, estão proibidas tais formações políticas.
Invistam pois, caros entrepreneurs, não se deixem enredar pelas cantilenas da falta de liberdade política, invocada acima de tudo pelos que odeiam o capitalismo e a livre-iniciativa :
The truth is, in China there is virtually no welfarism - something most Westerners are now addicted to. So, yes, there is the hardship that comes with self-responsibilityThis got me thinking about the nature of practical freedom - of what is really important in leading life according to one's own wishes.Is it more important to be able to write a letter criticizing the government and have it published? Or is it more important tobe able to live your life with the minimum of intrusion? Is it more important to live in a country with effectively just two political parties, and a system called democracy - or a country with just one party, and a system called communism? (...)
A liberdade política, que é isso em face das oportunidade de investimento e de criação de riqueza ? Podemos prosperar hoje na China, como ontem no Chile.

Eclipse

Example

A Lua tapou o Sol e escureceu este cantinho da Terra.

Elas na blogosfera

Recomendado para quem queira perceber se a blogosfera tem uma linguagem feminina própria. Para mais, conta com a participação da mui cá de casa Miss Pearls.

Almedina Atrium Saldanha - 13 de Outubro
Ciclo FALAR DE BLOGUES - «Falar de blogues no feminino»

13 de Outubro, 19:00 horas
Com:
Carla Quevedo, autora do blogue Bomba Inteligente. Jornalista.
Isabel Matos Ferreira, autora do blogue Miss Pearls.
Isabel Ventura, mestranda em Estudos sobre as Mulheres.
Patrícia Antoniete, co-autora do blogue brasileiro Megeras Magérrimas.

Sobre que assuntos falam as mulheres na blogosfera? Que motiva as autoras dos blogues? Que dados têm sobre quem as lê? Haverá especificidades da intervenção das mulheres na blogosfera?

Organização: José Carlos Abrantes e Almedina
Almedina Atrium Saldanha
Atrium Saldanha, Loja 71, 2.º Piso
Lisboa