quinta-feira, março 29, 2007

O Florir

O Florir

O florir do encontro casual
Dos que hão sempre de ficar estranhos...

O único olhar sem interesse recebido no acaso
Da estrangeira rápida ...

O olhar de interesse da criança trazida pela mão
Da mãe distraída...

As palavras de episódio trocadas
Com o viajante episódico
Na episódica viagem ...

Grandes mágoas de todas as coisas serem bocados...
Caminho sem fim...

(Álvaro de Campos)

Duas ou três coisas sobre a Odete

Ainda vou a tempo de dizer duas ou três coisas sobre a Odete.
Eu (correndo o risco de surpreender) lembro-me de boas prestações da Odete Santos, em programas televisivos e no parlamento.
Sim, ela é uma pessoa emotiva, mas isso não nos deve tolher acerca da suas capacidades, pois não raro revelava ser dona de uma eficaz argumentação. Lembro-me de alguns debates, sobre a questão do aborto ao tempo do Guterres, em que os adversários políticos não saíram lá muito bem tratados.
Mas, ultimamente (refiro-me sobretudo aos debates que tenho visto na Sic notícias), acho que tem vindo a perder algumas das suas qualidades, o que é pena. O discurso está cada vez menos inteligível e aos nossos olhos sobressai apenas a velha intolerância (sim, porque politicamente falando ela sempre foi intolerante). Agora, apareceu a brandir que "a constituição proíbe a apologia do fascismo”, num gesto risível, ela, uma deputada com um longo currículo e que em muito prestigiou o hemiciclo.
Não sei se ela perdeu as estribeiras (não acompanhei os programas, vi apenas o que está no You Tube) por ter de suportar, noite dentro, a presença desse fascista impenitente que é o Jaime Nogueira Pinto. É que não nos podemos esquecer de que, na nossa história, os comunistas foram vítimas e os fascistas (mesmo que hoje tenham legado uma legião de democratas bem parecidos; é ver este post do 31 da Armada) carrascos. Aqui não há relativismos.

quarta-feira, março 28, 2007

Grandes Portugueses e o espectro do fascismo

Eu confesso não ter acompanhado o concurso dos Grandes Portugueses e a “eleição” do defunto Oliveira Salazar, embora não tenha dispensado um olhar, via You Tube, pelas invectivas da comunista Odete Santos, de quem se pode dizer que com inimigos destes o fascismo doméstico nem precisa de amigos.
Não sou dos que não retiram significado daquela votação, que mesmo afastado o espectro da ressurreição do ditador não nos deve alhear de alguns males que afectam a democracia; entre estes, eu elegeria a corrupção, que tem sido a gangrena do regime, e as sombras que se projectam sobre a nossa economia, ameaçada de estagnação.
Contudo, é possível que o fascismo (se considerado à maneira de um “tipo ideal” weberiano, pode perfeitamente incluir o caso português, que como os outros teve as sua especificidades, integrando na sua síntese ideológica elementos da realidade local, da tradição e da história) volte a ter expressão entre nós, constituindo-se como ameaça ao regime democrático; e o mesmo pode suceder noutras geografias europeias. Esta ideologia nascida nos alvores do século XX está muito longe de ter sido despejada para o caixote de lixo da História, pode ressurgir sob novas formas.
O historiador das ideias Zeev Sternhell, uma das maiores autoridades no estudo do fascismo, lembra-nos que:

“A happy society does not just hatch fascism, which builds its ascension on simple solutions for complex problems. A rising unemployment rate certainly favours fascism more that democracy. Democracy is the luxury of happy societies. A society that considers itself a victim of economic disaster tends more to accept simple solutions, accusing democracy of all evils and calling in a strong-man to fix things. ... In Eastern countries, authoritarian regimes can develop easily. It is more difficult in the West, but never impossible. I believe that the fascist disaster in Europe was not a problem that arose solely from historical contingency, but rather something emanating from a fundamental problem of culture and identity. And these problems have not gone away."

Nesta mesma entrevista (Anticapitaliste et Liberal), ele também nos diz outras coisas interessantes:

Pour éradiquer le fascisme définitivement, ne faudrait-il pas s'attaquer au concept de l'identité nationale?

N'oublions pas que le fascisme a une vision organique de la nation tout en acceptant les préceptes de l'économie libérale. Vouloir préserver une identité nationale n'est pas du fascisme en soi, aussi longtemps que le système politique dans lequel on opère est un système de démocratie libérale. A condition que les règles du jeu démocratiques soient préservées, le basculement est évité. Par règles du jeu démocratiques je n'entends pas seulement le droit de mettre un bulletin dans une urne tous les cinq ans, mais le respect absolu des droits de l'homme. De là vient la situation ambigue que l'on retrouve un peu partout en Europe occidentale: on est conscient que la démocratie libérale c'est les droits de l'homme, mais d'autre part on se pose des questions sur le statut de l'homme. Est-ce un individu ou le membre d'une communauté nationale et culturelle? Et c'est dans ce décalage que vont naître, à mon avis, dans les dizaines d'années à venir des terribles basculements. Il faudra faire des choix qui ne seront jamais totalement compatibles entre eux.


P.S. A entrevista pode ser lida aqui.

Visto(s)

aaa

Dois filmes a não perder.
No primeiro, a reafirmação do talento de DiCaprio que há pouco tempo também tinha tido uma excelente performance no filme de Scorcese, The Departed. Sem querer contar nada do filme a que ainda não o viu, fiquei apenas um pouco desapontado com a escolha de argumento para o final (a "salvação" do guerreiro de DiCaprio). Apenas mais um destaque para Hounsou.
Do segundo filme, outras confirmações: a da mestria de Clint Eastwood (atenção especial para a cor, para a luz) e o desempenho Ken Watanabe como General Kuribayashi (que há pouco tempo vi em Memórias de uma Gueixa ).

Uma curiosidade: o realizador do primeiro dos dois , Ed Zwick, realizou também O Último Samurai, onde Ken Watanabe também brilhou.

terça-feira, março 27, 2007

A modos que para tirar outras imagens da memória


Ainda se lembram qual a deputada que... do que é que eu estava a falar...?

Confrangedor

No domingo passado, terminou um concurso televisivo que decorreu na RTP.
A ideia era pagar para votar no que cada um dos pagantes do voto considerava o maior português.
Confesso que me ri e bem.
Não só pela votação, devidamente auditada (só gostava de saber quanto é que isto tudo custou à RTP), que António Salazar obteve, mas também por ser seguido a alguma distância por outro ilustre amigo da liberdade, Álvaro Cunhal.
Mas deixei de rir quando comecei a aperceber-me que havia, naquele estúdio, um ser humano que começava a dar mostras de alguma perturbação emocional.

Estou a falar de Odete Santos.

Nas últimas aparições na TV, esta setubalense e deputada do PCP, tem mostrado alguns problemas de comunicação e de perturbação quando tenta contra-argumentar, quando tenta participar numa discussão.
Desta vez a coisa foi um pouco mais longe e a senhora esteve à beira de uma ataque de histerismo. O ponto mínimo foi atingido, quando, já quase deitada na cadeira, começou a mexer na camisa que trazia, a puxar o cabo do microfone (que saltou), quando exibiu perante o país a sua escolha de lingerie, vísivel desde o pescoço à cintura.
Aí está uma imagem a que eu gostaria de ter sido poupado.

Sinceramente, não compreendo porque insitem os produtores televisivos a convidá-la. O discurso é bastante incoerente, bastas vezes ironizado pelos outros convidados. Não haverá no PCP quem saiba melhor comunicar, explicar as posições do partido (é disso também que se trata - Odete Santos nunca apresentou um ideia individual, como ela fez questão de recordar, ela representa a unicidade de pensamento do PCP)?
Não interessa aos produtores televisivos que essa mensagem seja perceptível? Interessa-lhes mais o, por vezes triste, desempenho que Odete Santos proporciona, a exibição da emoção que sempre coloca no que diz, mesmo quando diz as maiores barbaridades (por exemplo, quando fala de economia)?

Talvez pudesse haver mais respeito, afinal trata-se de uma senhora e já com uma idade que merece mais reverência. Se ela não tem consciência dos seus desempenhos, alguém que seja honesto e lho diga.
Nada me divertirá, assistir a mais momentos destes.

Dois livrinhos muito jeitosos

Já no passado os referi, mas pareceu-me boa ideia voltar a referi-los.
O "Liberalism" de Mises (disponível para download aqui), poderá ajudar a esclarecer algumas dúvidas sobre a defesa da liberdade, da propriedade privada e do capitalismo.

Já o livro de Revel, "A Grande Parada: Porque sobrevive a utopia socialista" (disponível em português, em várias livrarias) funciona como um excelente refrescar de memória face à erosão que a História do comunismo parece sofrer.

Da inevitabilidade da OTA

Ontem, tivemos a nata da engenharia portuguesa a esgrimir argumentos sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, essa obra de regime inadiável.
O debate serviu pelo menos para desmistificar uma coisa: afinal, as soluções técnicas não são assim tão imaculadas.
Se os engenheiros estão de acordo quanto à necessidade da construção de um novo aeroporto, por força do esgotamento há muito anunciado da Portela (ouvi alguém apontar a data de 2005, certamente fundamentado num desses estudos técnicos, mas para meu espanto estamos hoje em 2007 e a Portela lá vai chegando para as encomendas), já a localização deste grande empreendimento os divide profundamente. E não se coibiram de apontar lacunas e insuficiências aos estudos existentes.
Do pouco percebi, não foi feita uma análise integrada das variáveis em jogo, estudadas apenas em separado; assim, um estudo de impacte ambiental bastou para vetar a localização Rio Frio, sem que antes tenham sido ponderados outros factores, tais como a importância das infraestruturas de transportes ou as questões da economia e do emprego. Parece que também não foi considerada “a opção zero”, ou seja, uma terceira hipótese que nos poderia levar a concluir não serem a Ota nem Rio frio as soluções indicadas.
Em tudo isto, a evidência de que há muitas omissões, mas ainda assim disseram-nos que não há tempo a perder, que temos de lançar já a obra, e a todo vapor, senão caem o Carmo e a Trindade; 2017 é o ano de todos os perigos, se a Ota não estiver construída.
Como era de esperar, pouco se falou dos custos, ninguém sabe ao certo, mas isso não parece tirar o sono ao presidente da CCDR, eng. Fonseca Ferreira, que o importante é fazer a obra!
No fundo, tudo como dantes. O Estado clientelar promove, os bancos financiam o empreendimento, os consultores e projectistas fazem os lucrativos estudos de legitimação simbólica e os engenheiros e as construtoras têm a obra com que sonharam toda uma vida! Depois, inaugura-se com pompa e circunstância o grande aeroporto. E, esquecidas as inevitáveis derrapagens, vamos todos em romaria ver a prodigiosa obra da nossa engenharia.

segunda-feira, março 26, 2007

Extrema-direita estudantil

Não deixa de me causar perplexidade, ver uma lista estudantil afecta ao Partido Nacional Renovador (PNR) a disputar as eleições para a Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Logo a faculdade de letras, que sempre aprendi a conotar com as esquerdas. Mas os tempos mudaram, e os núcleos de extrema-direita são agora presença activa e parecem mesmo estar em expansão.
Não que me surpreenda por aí além a presença da extrema-direita na universidade portuguesa. Seria uma questão de tempo; como aliás no resto. Mas não imaginaria que tal acontecesse em Letras (ainda por cima com esta repercussão). Talvez, ingénua ou romanticamente (doença incurável), continue arreigado à imagem das faculdades de Letras e de Ciências Sociais e Humanas da UNL (eu, que passei por esta última, calculo que também aí a extrema-direita dê o ar da sua graça) como bastiões da esquerda, mais ou menos imunes ao advento dos fascismos, nas suas formas contemporâneas.
Idealismo, é o que é.

sexta-feira, março 23, 2007

Justiça Multiculturalista

Eis o que podem fazer décadas de doutrinação encapotada. Sim, porque o multiculturalismo é cada vez mais o rosto das ciências sociais; também esta ideologia, firmemente ancorada nas sociedades europeia e norte-americana, se apresenta travestida de ciência.
Agora foi na Alemanha. Uma juíza entendeu não aceitar o pedido de divórcio (com carácter de urgência) de uma cidadã de origem marroquina, que alegava ser vítima de violência doméstica., invocando não a lei geral do país, mas sim a especificidade do Islão; parece que, segundo a douta magistrada, certamente mui versada no Corão e nas práticas sociais dos casais muçulmanos, “não é invulgar que o homem exerça o direito de castigar a mulher”. Afirmou assim o primado da cultura ou da religião sobre o indivíduo. Aquela mulher que se queria divorciar não existe enquanto cidadã, mas apenas enquanto muçulmana; enquanto parte de uma comunidade.
Recorro ao filósofo Slavoj Zizek:

“Por outro lado o partidário liberal do multiculturalismo tolerante aceita por vezes até as violações mais brutais dos direitos do homem, ou mostra pelo menos uma certa relutância em condená-las, com medo de ser acusado de impor ao Outro os seus próprios valores. Quando evoco os meus jovens anos, lembro-me dos estudantes maoístas que pregavam e praticavam a «revolução sexual»; quando lhes fizeram notar que a China da revolução cultural maoísta encorajava uma atitude extremamente «repressiva» perante a sexualidade, respondiam com prontidão que a sexualidade desempenhava um papel totalmente diferente no seu universo, pelo que não devíamos impor-lhes os critérios de «repressividade» que eram os nossos – a sua atitude perante a sexualidade só parecia «repressiva» quando avaliada nos termos dos nossos critérios ocidentais... Não será a mesma atitude que descobrimos hoje nos defensores do multiculturalismo quando estes nos desaconselham a impor ao Outro a nossa noção eurocentrista de direitos humanos universais?”

in Elogio da Intolerância

O "Caso" Sócrates


No "caso Sócrates" (talvez haja um pouco de exagero nesta expressão), pouco importa saber se o nosso primeiro ministro é engenheiro, dr. (entre nós a abreviatura de licenciado) ou tão-só bacharel, se com isso queremos dizer que está ou não à altura das responsabilidades inerentes ao cargo de primeiro-ministro. Se a ostentação de títulos académicos fosse condição suficiente (ou mesmo necessária) para o bom desempenho político, então este nosso país há muito estaria na vanguarda da Europa desenvolvida, visto que em matéria de habilitações literárias dos titulares dos altos cargos políticos sempre estivemos bem à frente dos nosso congéneres europeus. Tem sido assim desde o século XIX para cá, pelo menos é o que dizem os estudos no domínio da ciência política sobre esta matéria.
O que está em causa, sim, é saber se o primeiro-ministro nos enganou ou mentiu (sim, porque aqui o âmbito não é o da privacidade, é de uma biografia oficial que se trata); se beneficiou, nas universidades por onde passou, de um tratamento privilegiado face aos demais cidadãos.
Creio que os jornais, ao investigarem estas matérias, estão a cumprir apenas a sua função, que é a de bem informarem os cidadãos e assim contribuírem para a transparência da vida pública. Enfim, não julgo que o jornal PÚBLICO tenha ultrapassado as fronteiras da razoabilidade

quinta-feira, março 22, 2007

Já não era sem tempo!










Enfim a estreia de O Caimão, a mais recente obra de Nanni Moretti glosa a Itália política, tendo como pano de fundo a figura de Silvio Berlusconi , antigo primeiro-ministro daquele país.
Estreia tão diferida entre nós, não pode deixar de causar perplexidade. Mas tudo se dissipa, se olharmos para o mercado que temos, em que o aumento do número de salas de cinema vai de par com o estreitamento da oferta; sobra cada vez menos para o resto (esse resto onde se inclui, evidentemente, o cinema europeu), num universo cativo do cinema americano (ou melhor, de um certo tipo de cinema americano).
E assim tivemos que esperar quase um ano para que o filme aportasse às nossas salas, mesmo que Moretti esteja longe de ser um desconhecido. Muito longe de o ser.
A ver muito em breve.

O meu contributo

Na Visão, citada pelo PD:
Cada português envia para a atmosfera, por ano, cerca de seis toneladas de gases com efeito de estufa
Eu, Luís Silva, tendo há muito perdido o uso das minhas faculdades, venho por este meio registar o meu contributo, no fundo, o meu legado à humanidade: de ora em diante, jamais algum feijão, grão ou fava, passará pela minha goela abaixo.
Evitarei, assim, que seis toneledas de gazes sejam expelidos para a atmosfera.

Quantos jornalistas da Visão, vegetarianos, vegans ou outras meritórias formas de vida alternativa, serão capazes de tal sacríficio em prol da biosfera?

Videoclip Lounging

La plus belle et la plus fatale

quarta-feira, março 21, 2007

Videoclip Lounging

Regresso ao Videoclip, eu que há muito andava afastado deste território de sons.
Regresso com o rock insurgente (contra a finitude) de Jeff Buckley e a folk bucólica de Vashti Bunyan.

Jogada de antecipação?

Não deixa de ser legítima a dúvida, sobre o impacto que as suspeitas da eventual participação de Carlos Sousa em ilegalidades, no âmbito do caso das "reformas antecipadas", terão tido na decisão do PCP ter substituído o autarca.

Obviamente, os órgãos do partido tiveram, e terão, acesso a informação priveligiada sobre a actuação dos serviços camarários e das indicações que estes tinham para actuar de determinada maneira. É, pois, possível que os dirigentes do PCP se quisessem antecipar ao que sabiam poder ser o resultado dos inquéritos levantados, numa tentativa de minorar os danos, de manter a famosa aura de honestidade imaculada que caracteriza a imagem publicitada das edilidades por si controladas.
Se outras razões ouve, penso que esta também terá sido considerada.

Hoje, no Sol:
O antigo presidente da Câmara de Setúbal, Carlos Sousa, foi hoje de manhã constituído arguido pelo Ministério Público, no inquérito-crime que investiga o caso das reformas compulsivas de funcionários da autarquia.(...)
(...) é de prever, adiantou fonte judicial ao SOL, que todos os vereadores que participaram nesta decisão possam também vir a ser envolvidos no caso e também constituídos arguidos.
Como me costumam explicar os vários juristas que conheço, na condição de arguido, Carlos Sousa poderá melhor argumentar e defender-se desta acusação. A ver vamos.

Sobre este assunto: Pouca vergonha I; II; Faltas e aposentações I; II; III; IV

[Obrigado ao BB pela dica]

O CDS. Entre o Sexismo e o Racismo

O CDS assemelha-se cada vez mais a uma vulgar comédia televisiva, com todos os ingredientes da nossa contemporaneidade, não hesitando mesmo em convocar o imaginário politicamente correcto. Talvez isso seja um sinal de modernidade do próprio CDS/PP, de que o partido está atento à evolução da sociedade portuguesa, como é desejo do intrépido Portas.
Foi assim que, na noite do conselho nacional e no dia seguinte, tivemos manifestações de sexismo: “Os beirões não batem em mulheres”, asseverou-nos o conselheiro e deputado da nação Hélder Amaral, quando confrontado com a acusação de que teria agredido Nogueira Pinto. Mais tarde, este mesmo conselheiro convocou, em sua defesa, a questão racial; seria ele o bode expiatório, “por não ser branco como ela”.
Sexismo e racismo a separar as águas, metáfora da cisão entre CDS e PP. E o horizonte de Paulo Portas é cada vez mais o de Pirro.

Não sentem a diferença?

terça-feira, março 20, 2007

Videoclip Lounging

Dois e dois são quatro

A liberdade é a liberdade de dizer que dois e dois são quatro.
Admitindo isto, tudo o mais continua.

George Orwell, in 1984.

segunda-feira, março 19, 2007

Ainda se respira

Lá pelo Bonfim.

Não é verdade?

"Quando os amigos deixam de jantar com os amigos [por causa da ideologia], é porque o país está maduro para a carnificina."

Nelson Rodrigues, citado pelo Pedro no Insurgente. Do mesmo autor:

"Nada mais cretino e mais cretinizante do que a paixão política. É a única paixão sem grandeza, a única que é capaz de imbecilizar o homem."

Visto


Se há coisa que me irrita num filme, é o recurso à mais que estafada fórmula da criancinha que não segue as indicações que lhe são dadas, tendo lhe sido explicado explicita ou implicitamente, que disso depende a sorte do mundo, da sua família ou dela própria.
É certo e sabido que basta que a personagem infantil seja posta perante tal responsabilidade, ela falhará. Então não são assim as crianças, debilmente inteligentes e desastradas?
Nesta fantasia filmada, decorrente durante o pós guerra civil de Espanha, há uma criança que se entrega ao mundo do fantástico para se proteger do horror que a cerca. A luta com e da resistência marxista à ditadura franquista, corporizada no capitão-padrasto (até há padrasto!) é filmada de forma brutal como enquadramento da necessidade desse refúgio. Mas até o universo fantástico onde se refugia a protagonista tem regras e consequências para quem as quebra. E para não surpreender ninguém, o filme mostra o que acontece às crianças tolas que não seguem as regras.

Ao contrário de quem me acompanhou nesta ida ao cinema, o filme aborreceu-me um pouco mais que do que me entreteve.
Mas não se deixem levar por mim. Vão vê-lo; não o desaconselho a ninguém.
Talvez eu esteja apenas desiludido com o mundo da fantasia, das fadas, princesas e faunos...

O Partido da "desordem espontânea"


Era Domingo.
Cansado das pesadas rotinas do fim-de-semana, cedo me fui deitar. Renunciei assim a uma noite de televisão, à espera de notícias do conselho nacional do CDS-PP (sim, porque estas coisas divertem-me!).
Hoje, via TSF, soube que o conselho, como se esperava, foi conturbado e exaltado.
Maria José Nogueira Pinto enfureceu as hostes de Portas, ao decidir-se pela convocação de um congresso nacional, em vez das directas subscritas pela maioria dos conselheiros (embora prevaleça o desacordo quanto à percentagem de votos que a moção das directas recolheu; acima dos 60%, segundo a tribo de Portas, abaixo desse limiar para a direcção do partido).
Nesta crónica da vida do CDS-PP, Maria José Nogueira Pinto vestiu o papel da mulher sem medo. Sem medo da fúria e da revolta dos homens. Estes homens que, segundo rezam as crónicas, tiveram um comportamento muito pouco católico; primaram pela má educação.
Convenhamos que é preciso coragem para, ao fim de quase doze horas de trabalhos, ter feito tábua rasa da “democrática votação” dos conselheiros, acolhendo antes um requerimento da Distrital de Leiria, com cerca de mil assinaturas em defesa do congresso.
Foi assim que Nogueira Pinto fez estalar o verniz dos democratas-cristãos, que depressa trocaram a roupagem conservadora e ordeira pela espontânea desordem, livre de quaisquer freios civilizacionais.
Talvez para animar a malta, neste tempos de monotonia socrática, seja preciso um partido assim. O partido da desordem espontânea. Longa vida ao CDS!

sexta-feira, março 16, 2007

Relativismo?

Babel

Ainda fui a tempo de ver Babel no cinema, sempre que posso evito que o primeiro olhar sobre uma obra da sétima arte seja via dvd.
E devo dizer que apreciei este novo filme de Alejandro González Iñárritu, que se cose com as mesmas linhas narrativas do anterior, 21 Gramas; várias estórias, outra vez a fragmentação espacial.
Babel começa algures nas cordilheiras do Atlas, nas terras áridas habitadas pelos povos berberes. Temos uma carabina oferecida por um caçador japonês ao seu guia nessas paragens, que por sua vez a vende a um pastor. Este entrega a arma os filhos, para que protejam o rebanho de cabras dos chacais. Então dá-se o acontecimento unificador: os miúdos procuram quebrar a monotonia do tempo e da paisagem, alvejando os carros que passam ao longe na estrada; e nisso atingem um autocarro de turistas, ferindo uma americana, com o marido em viagem; em viagem de reatamento, talvez na esperança de que as agrestes montanhas do Norte de África pudessem resgatar a confiança perdida. Em risco de vida, numa região remota, a mulher é transportada para uma aldeia berbere, onde constava haver um médico (que mais tarde verificamos ser antes um veterinário).
Este casal americano tem dois filhos, que ficaram nos Estados Unidos ao cuidado de uma ama mexicana. Deslocamo-nos então para o México, para um casamento. E ama com as crianças americanas, loiras e imaculadas, no coração da pátria de Emiliano Zapata. A aventura mexicana vai desembocar na imigração, é uma história sem final feliz: a desafortunada ama acaba condenada à deportação pelos serviços de imigração americanos, quando do seu regresso pela noite dentro, finda a festa de casamento, aos EUA.
Mas Babel não fica apenas por estas geografias: somos levados para a grande metrópole japonesa, para seguir uma rapariga surda-muda, filha de um homem de negócios que é também o caçador a que atrás fizemos alusão. Eu aqui confesso o meu fascínio, sempre que se fala do Japão contemporâneo e lá me deixei-me seduzir pela personagem (a imoderada afirmação da sua sexualidade feminina) e a urbanidade de fundo.
O dispositivo narrativo é eficaz, o recurso à descontinuidade espacial (o tempo dos acontecimentos é mais ou menos o mesmo, mas as geografias vão-se alternando sucessivamente) restitui-nos o pulsar de um mundo unificado e globalizado. Um olhar sobre a globalização que não dispensa as contradições e que não esquece a política: do Japão, pináculo da sociedade de consumo, para a pobreza endémica do interior norte africano; da notícia da turista americana alvejada em Marrocos e dos fantasmas do terrorismo assim convocados; da violência da polícia marroquina que se abate sobre vidas simples, que não escapam às representações do nosso tempo; e, por fim, das injustiças associadas ao fenómeno da imigração.
Babel filma o nosso tempo; é honesto e frontal. Mas, evidentemente, tinha de ser o ódio de estimação dos críticos cá da praça.

quinta-feira, março 15, 2007

Lena

Lena Headey
A rainha Gorgo está quase a chegar.

Walls come tumbling down


SOL:
Um relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil alerta para o perigo de derrocada, «com perda de vidas humanas», nas encostas da Fortaleza de São Filipe, mas o Ministério do Ambiente receia interpretações «descontextualizadas e alarmistas»
A ler, o resto da notícia sobre o um dos "landmarks" mais significativos de Setúbal.

Da Imigração nos EUA

Pelo The New York Times:

A screaming baby girl has been forcibly weaned from breast milk and taken, dehydrated, to an emergency room, so that the nation’s borders will be secure. Her mother and more than 300 other workers in a leather-goods factory in New Bedford, Mass., have been terrorized — subdued by guns and dogs, their children stranded at school — so that the country will notice that the Bush administration is serious about enforcing immigration laws. Meanwhile, tens of thousands of poor Americans, lacking the right citizenship papers, have been denied a doctor’s care so that not a penny of Medicaid will go to a sick illegal immigrant.

As the country waits for Congress and the president to enact immigration reform, the indecency of existing policies is becoming intolerable. The immigrant underclass is in a growing state of misery and fear. States and localities have rushed to fill the vacuum of Congressional inaction with a jumble of enforcement regimes. Farmers are worrying about crops rotting as their immigrant workers retreat further into the shadows. Officials in Colorado have settled on one solution: replacing those workers with prison chain gangs.

Peixinho bom para os pobrezinhos

A azáfama na ASAE é tão grande que começo a sentir pena dos esforçados inspectores.
Além de terem de usar aqueles capuzes fantásticos, que no Inverno tanto jeito darão para os abrigar das geadas e frios madrugadores mas que no Verão que aí vem lhes provocará assaduras no pescoço e comichão no couro cabeludo, além disto, dizia eu, ainda têm um horário de trabalho incomparável na administração pública.
Bom, na realidade são uma polícia, por isso não há horas para a sua vigilância e pronta actuação (são um pouco como a pithoniana "bloody spanish inquisition" - "nobody expects them").

Uma coisa é certa: as TV's apaixonaram-se por eles e dia sim dia não (ou sim), lá temos uma reportagem alargada, o equivalente português do COPS, com os diligentes inspectores a ensacar milhares de CD's, DVD's ou T-Shirts. Tudo produto falsificado, com marcas que são propriedade de alguém ou de alguma empresa. Acção meritória, pois então.

Hoje de madrugada estiveram na lota de Setúbal, espingardas e coletes à prova de bala, rostos tapados - a importância que o actual governo coloca nos serviços secretos e de informações começa também a notar-se aqui.
E, espanto dos espantos, descobriram peixe em caixas de madeira, com pouco gelo, associada à falta dos trezentos cinquenta e sete documentos providenciados pelos duzentos e trinta e cinco departamentos estatais,necessários à certificação que um carapau é um carapau é um carapau.
Tudo apreendido!
E para onde vai o peixinho?
Para o Banco Alimentar e para as insubstituíveis inntituições que apoiam os mais desvalidos, para as mesas que servem. Trabalho meritório, sem dúvida.
Explicava uma das chefas dos inpectores, cara descoberta, coragem exposta ao mundo e à vingança do pessoal da lota ("olhá, pá, 'miga! abrre já a boca toda!" diriam alguns deles...), que o peixinho não servia para ser comercializado.

Nós, os cidadãos protegidos, agradecemos a diligência destes cavaleiros. Os outros, os pobrezinhos, agradecem que hoje nós não comamos carapaus.

Diz que hoje se comemora o dia do consumidor.

quarta-feira, março 14, 2007

Videoclip Lounging

Contornos da Mentira














Emergem os contornos da mentira, instrumento da razão de Estado.
Bush e Blair não se limitaram a extrair conclusões indevidas do relatório do senhor Hans Blix, que à época chefiava a missão da ONU no Iraque. Fizeram mais: entregaram-se a um vergonhoso exercício de distorção, ao inverterem o sentido de um relatório que não sustentava a existência de armas de destruição maciça. Percebemos o alcance das palavras do antigo inspector, que em entrevista nos revelou que eles (Bush e Blair) “trocaram pontos de interrogação por pontos de exclamação”

terça-feira, março 13, 2007

Bar

Bar Rafaeli

Os israelitas insistem em provocar os vizinhos.

Imaginários Soviéticos



















Dva det-domo (Two children's homes)
Elena Il'ina ;
Ill.: V. Ermolaeva
Leningrad: Gosizdat, 1928

Detskii internatsional (The children's International)
Iurii Gralitsa ; Ill.: G. Echeistov
Moskva [etc.]: Gosizdat, 1926

Russian Children's Books




















“Not just to portray the world, but to change it.“
“For a Bolshevik, nothing is impossible.“

Livros infantis dos anos vinte exprimem a crença num mundo cheio de novas possibilidades, metáfora da utopia em curso.
Uma exposição que se debruça sobre os signos inscritos na literatura infantil e escolar daquele período da Rússia revolucionária. E da importância da (s) vanguarda (s), estreitamente implicadas nessa produção literária.


“…the legendary Russian era of upheaval, despite its chaos, poverty, diffuse hopes, completely different needs, and a heterogeneity of ideas which were pitilessly canalized but also reversed by self-censure, has become highly significant for the development of radically modern ideas. Its relicts – and books for children should be taken just as seriously as other important projects – can make us aware of what was culturally possible in a short time under the most difficult conditions and, moreover, what transformations resulted from this.
"The title of the MAK exhibition “Shili-Byii" – "Once Upon a Time" –, which presents books and magazines for children, mainly from the early decades of the 20th century in the Soviet Union, is not merely an allusion to fairy tales; there is also the definite implication that fairy tales should come true – but, at the same time, that they need not necessarily have a happy ending."
"For example, in the sparsely texted children's book “Two Squares: A Suprematist Tale. In 6 Constructions“ conceived by El Lissitzky (1890-1941) in 1920, which is part of the MAK Library and Works on Paper Collection, a black square and a red square fly to earth from outer space to errect a new order. The struggle for the best solution ends after twenty pages with the disappearance of the black square; the red one remains, as a basis for things to come. The building instructions for constructing the new order consist in the simple message "further" – as an expression of the utopia of uninterrupted motion. Good and evil are presented to children through a finely tuned, abstract use of geometric forms, which avoids any type of personification and leaves a great deal open to the imagination."
On the Cultural Environment in Russia 1920 / 1930 / 1940 ...

segunda-feira, março 12, 2007

Visto


A história de um dos ditadores africanos que mais almas entregou ao Criador, vista através dos olhos de um personagem fictício: o médico pessoal de Idi Amin.
Este é um jovem médico escocês que quer fugir à protectora figura paterna e a uma vida de normalidade programada. Onde? O Uganda, foi o escolhido, à sorte, tal como o encontro com Amin foi fortuito.
Ao longo do filme vamo-nos apercebendo da destruição da ingenuidade do médico e da crescente loucura do ditador.
Assustadora, a representação de Forest Whitaker. Um ditador sanguinário e tresloucado, deve assustar.
James McAvoy consegue interpretar bem as mudanças de espírito, o amadurecimento e sofrimento do médico, enfeitiçado pela figura e pelo discurso de Amin.

Para quem tenha curiosidade, veja aqui a biografia de Idi Amin.

O regresso das sanguinárias hordas insectívoras

Ontem, lá andaram os repórteres das tv's pelas praias do país.
Pela milionésima vez, fomos informados que os portugueses, mal vêem um raio de sol, saem todos dos centros comerciais onde passam o resto do ano.
Engarrafamentos a caminho da beira-mar o dia todo, engarrafamentos a caminho de casa ao final do dia.
Eu, claro que também saí da minha toca para apanhar sol.

Para ajudar a marcar o dia, milhares de milhões de insectos sairam também da casca, ou seja, dos ovos onde se podiam extinguir (mantenho essa esperança; que se lixe a biodiversidade). Hordas de melgas sugadoras de sangue, receberam instruções precisas sobre o meu paradeiro. Usando meios de encobrimento dignos dos mais conhecidos serviços secretos e recorrendo a um pequeno arsenal de armas químicas, consegui ludribiar esses exércitos voadores. Apenas uma desgraçada me descobriu, num momento de distracção. Espero que a refeição lhe tenha caído mal.
A partir de agora, a guerra continuará, calor adentro até ao arrefecimento outonal.
Mas não trocava por nada, o regresso por estes dias, da luz e do calor da Primavera.

À mesa do jantar

Em jeito mordaz e caricatural, esta plausível dialéctica envolvendo um bloquista meio hippie e um mui salazarento liberal:

Para se distrair da tentadora sobremesa, o doutor Teles e Melo decidiu brindar a anfitriã com os merecidos elogios.
- Ah, estimada Sr.ª Barbedo e Silva, o manjar que nos ofereceu é uma raridade desde os tempos de abundância do Estado Novo!
A sr.ª Barbedo e Silva corou de prazer e ia exprimir um delicado agradecimento, quando um indivíduo se antecipou.
- Abundância do Estado Novo? Está a brincar, não?
O doutor Teles e Melo pousou o olhar no impertinente. Deveria ter uns trinta e tal anos, sem gravata, alguns dos cabelos espetados. Gedelhudo do BE, percebeu imediatamente o doutor Teles e Melo. O trotskista insistiu.
- Só se está a falar da família Patiño e do Ballet Rose…
E riu alarvemente.
O doutor Teles e Melo passou a mão pelo queixo.
- Estou a falar completamente a sério, caro… senhor. O Estado Novo foi responsável pela maior fase de prosperidade deste país dos últimos 300 anos.
O “hippie” estava pasmo.
- Não me diga que o senhor…
- Doutor - corrigiu o doutor Teles e Melo.
- Como?
- Doutor.
- Doutor?
- Doutor.
O indivíduo pareceu engasgar-se com uma gargalhada contida.
- O sôtor é admirador do Salazar?
O doutor Teles e Melo enrubesceu com a deturpação do título. Mas conseguiu manter a conversa.
- Nada disso. Sou um liberal! Mas há que reconhecer o grande desenvolvimento que o Estado Novo deu ao país.

Por Jorge Palinhos, 5dias.net

quinta-feira, março 08, 2007

Mary Wollstonecraft

















(1759-1797).

Lembrar a radical e feminista Mary Wollstonecraft, pioneira na luta por iguais direitos para as mulheres. Em dia 8 de Março.

It is vain to expect virtue from women till they are in some degree independent of men; nay, it is vain to expect that strength of natural affection which would make them good wives and mothers. Whilst they are absolutely dependent on their husbands they will be cunning, mean, and selfish. The preposterous distinction of rank, which render civilization a curse, by dividing the world between voluptuous tyrants and cunning envious dependents, corrupt, almost equally, every class of people.
A Vindication of the Rights of Women (1792)

Brava Dança (ou os 80's para quase quarentões e mais)



Não foi só pose.
Fizeram a diferença e excelentes canções.
Paulo Pedro Gonçalves dizia ontem, numa rádio, que lhes chamaram fascistas e que durante anos não puderam ir tocar ao Alentejo.
O documentário sobre os Heróis do Mar, "Brava Dança", estreia hoje.
Memórias de quando Portugal começou a mudar. Um pouco.

quarta-feira, março 07, 2007

Nova direcção no TAS

RSO:
Célia David é a nova directora do Teatro Animação de Setúbal (TAS). A actriz substitui no cargo Carlos Curto que se demitiu devido a questões de «ordem interna». A recém chegada directora confessa que decidiu aceitar o cargo para «não deixar morrer» o grupo, realçando que os subsídios do Ministério da Cultura e da Câmara de Setúbal «não são muito famosos» para manter um grupo com 30 anos de vida a funcionar.

Célia David, que completa este ano 25 anos de carreira, sempre dedicados ao TAS, garante que se vai empenhar para que o grupo continue em actividade regular e a fazer produções para as escolas. A actriz realça que estão em causa 16 postos de trabalho e muito investimento em jogo, pelo que o TAS não pode estar em risco porque já é um «grande espólio» do concelho de Setúbal.

Jean Baudrillard



















Jean Baudrillard (1929-2007).
Os indígenas da Melanésia sentiam-se maravilhados com os aviões que passavam no céu. Mas, tais objectos nunca desciam até eles. Só os Brancos conseguiam apanhá-los. A razão estava em que estes possuíam no solo, em certos espaços, objectos semelhantes que atraíam os aviões que voavam. Os indígenas lançaram-se então a construir um simulacro de avião com ramos e lianas, delimitaram um espaço que iluminavam de noite e puseram-se pacientemente à espera que os verdadeiros aviões ali viessem aterrar.

Da mesma maneira que a sociedade da Idade Média se equilibrava em Deus E no Diabo, assim a nossa se equilibra no consumo E na sua denúncia. Em torno do Diabo, era ainda possível organizar heresias e seitas de magia negra. Mas, a magia que temos é branca, e não é possível qualquer heresia na abundância. É a alvura prolifáctica de uma sociedade saturada, de uma sociedade sem vertigem e sem história, sem outro mito além de si mesma.

É neste sentido que o consumo é lúdico e que o lúdico do consumo se tornou progressivamente o lugar do trágico da identidade.

Ou ainda: ao forçar os jovens à Revolta («jovens - revolta»), matam-se dois coelhos de uma cajadada: conjura-se a revolta difundida por toda a sociedade adescrevendo-a a uma categoria particular, e neutraliza-se esta categoria circunscrevendo-a a uma fusão específica: a revolta.

in A Sociedade de Consumo.

terça-feira, março 06, 2007

O Sobressalto da Ministra

As televisões e os jornais noticiaram o sobressalto da ministra Maria de Lurdes Rodrigues com a violência de que têm sido vítimas os professores.
A violência nas escolas é consequência de um estado larvar de indisciplina que não é de hoje, e a posição da ministra encerra de facto uma mudança, num ministério da Educação onde há muito imperava o mutismo sobre esta matéria. É por isso de louvar a nova atitude da ministra.
Ao estado a que chegámos, a fazer eco nos media e no número crescente de relatos de docentes, seria assaz injusto imputar responsabilidade maior a esta ministra, mas não nos podemos esquecer da campanha que fez dos professores bodes expiatórios dos problemas que assolam o ensino e os pôs assim à mercê da fúria das famílias e da sociedade em geral. Ora, isso contribuiu para a erosão da autoridade e do prestígio social do professor, cuja consequência primeira é o aumento da indisciplina, que por vezes desemboca na violência de alunos e pais. Em suma, não sendo a principal responsável (não é possível alhearmo-nos dos sucessivos governos que, à esquerda e à direita, blindaram o estatuto do aluno e retiraram poder de intervenção ao professor), Maria de Lurdes Rodrigues deu também o seu contributo (certamente que involuntário) para o actual estado de coisas.
Para fazer recuar o fenómeno da violência escolar, creio que importa, em primeiro lugar, voltar a definir a relação professor/aluno como uma relação de poder (como aliás bem disse a ministra), necessariamente assimétrica.
Devolver espaço de actuação ao professor e aos conselhos executivos das escolas (em muitos casos, estes são dominados por aparatchiks do governo, a mais das vezes interessados apenas no recalcamento dos problemas, enquanto esperam pela recompensa, traduzida na passagem para o conforto de um qualquer gabinete burocrático da 5 de Outubro...) poderá ser um primeiro passo. Mas muito mais há a fazer, desde logo começando pela redução do universo concentracionário do ministério da Educação, daquela intrincada teia burocrática que faz diferir no tempo a aplicação das sanções, assim esvaziadas de sentido. A simplificação do processo de aplicação de sanções, ou seja, reconhecido como efectivo pelo alunos, é uma questão de bom senso (não são precisas comissões de estudo para o aferir), não devendo ser confundida com qualquer espécie de autoritarismo ou poder absoluto do professor, que ninguém quer (penso eu) o regresso ao tempo da “outra senhora”. É bom lembrar que o exercício da liberdade pressupõe direitos, mas também deveres, e o uso da autoridade até pode ajudar.

segunda-feira, março 05, 2007

Sobre o entretenimento no canal estatal

Há um programa de televisão, apresentado por uma antiga glória do canal público e que tarda em aposentar-se, onde aos portugueses é sugerido que votem na sua escolha do português "mais-qualquer-coisa-boa".

Não tenho acompanhado o programa em detalhe. Lembro-me de, numa polémica inicial, se ter censurado a RTP por ter esquecido de incluir na lista o nome de António Salazar.
Lista!?
Então não estamos a falar de escolher, de entre os portugueses que viveram nos últimos 900 anos, aquele que será o "mais-qualquer-coisa-boa"?
Parece que não, a escolha foi pré-condicionada.
Parece que um conjunto de pessoas (há sempre um conjunto de pessoas que são "as que realmente sabem mesmo-mesmo o que é bom para os outros") fez uma lista.
E parece que entre os mais votados, no final, lá estavam o Dr.'s Salazar e Cunhal, dois campeões da liberdade, símbolos de ideologias que defendiam o primado do respeito pela liberdade e pelos direitos individuais e cujo contributo os terá levado a estar entre "os 10 dos mais-qualquer-coisa-boa" portugueses.

A mim, torna-se evidente, que à entrada do séc. XXI ainda há muito para discutir sobre a memória que os portugueses têm das persongagens e das ideias que suportavam os actos de quem ajudou a configurar o país que temos hoje.

Já agora: se têm de gastar dinheiro a votar, votem em Fernando Pessoa, em Luiz Vaz de Camões, em Sousa Mendes, em D.Henrique ou em D. João II.
Não votem num só. Tem sido isso que nos tem lixado ao longo da história.

Para que a memória não esqueça

Um amigo enviou-me, por e-mail, a referência a um abaixo assinado "contra a concretização do Museu Salazar em Santa Comba Dão".
Não costumo dar grande valor a estas iniciativas, maioritariamente nascidas da emoção do momento e muitas vezes sobre assuntos menos relevantes para serem peticionados. Mas este caso tem a ver com uma memória que insiste em ser empurrada para o esquecimento, apagada dos anais da história - excepto aquela que é contada como a politicamente correcta. A discussão, o comentário, a analise mais académica ou mesmo a mais popular, são desaconselhados. A CRP inclui, até, e na senda do que se passa noutros países europeus, restrições proibicionistas à apresentação pública de certas ideias.
A discussão dessas ideias, ao invés da sua censura, contrinuirá mais para que não se esqueça o impacto que a experimentação, a implementação, das mesmas, teve no nosso país.

Acrescento, abaixo, cópia da resposta que dei a esse mui estimado amigo:
Não partilho das posições proibicionistas que hoje em dia se impõem na politicamente correcta Europa (como na Alemanha, a proibição da suástica, símbolo multimilenar, não específicamente ligado ao "mal nazi").

A proibição da exposição de ideias não as fará desaparecer - como bem deveriam saber os comunistas, pela experiência de tentativa de pensamento único que impuseram na Europa de Leste e noutros locais do globo.
E como sabes, sem que eu to prove mais, não sou, nunca fui, defensor do Estado Novo nem do seu modelo de organização nem do que representa em termos ideológicos. Pelo contrário (a isso me referi no último artigo da Dia D).

Por outro lado, não conheço o projecto, apenas os soundbytes de meia dúzia de tresloucados contra e a favor numa escaramuça mostrada na televisão. Nem sei se o apologismo será prevalecente. Mas mesmo que seja...
Ideias combatem-se com ideias, discussões com discussões.
Nunca com proibicionismos nem com imposições sobre o pensamento dos outros. Foi esse, aliás, um dos graves pecados do Estado Novo e que eu de todo em todo não pretendo repetir.

Podes perguntar: visitarias este museu? Sim, com certeza. Tenho neurónios suficientes na cabeça para poder analisar o que me fôr apresentado. Não tenho intenção de considerar nenhum dos meus concidadãos como dotados de uma capacidade de discernimento inferior à minha. Afinal os seus votos valem tanto como o meu.

Para que conste




E também para pôr alguma água na fervura.
Creio que não virá mal ao mundo com a transformação da antiga casa de Salazar em museu.
Do espólio inventariado, dos manuscritos e antigos objectos pessoais do ditador, podemos extrair valioso conhecimento sobre o homem que governou os destinos pátrios por tão longo período.
Eu gostaria que a futura Casa-museu Oliveira Salazar servisse a História, e não fins propagandísticos. Não sei se é esse o propósito do presidente da Câmara de Santa Comba Dão, mas, mesmo em caso da hipótese contrária, assiste-lhe legitimidade para tal. É da democracia. É da superioridade desta, permitir as manifestações e formas de expressão daqueles que nela não se revêem.
Mais de trinta anos passaram desde a instauração da democracia no nosso país, exigir-se-ia algum amadurecimento. (o que está longe de ser sinónimo de indiferença para com as manifestações de cariz fascista). Mas não foi isso que a URAP, a União dos Resistentes Antifascistas Portugueses, revelou, cuja acção esteve no limiar da intolerância. Destemperada e no limite do insulto às gentes do Vimieiro.

sexta-feira, março 02, 2007

Odemirenses of the World, unite and take over

"O partido fica a dever-lhe imenso. (...) Recebo pelas mãos do congresso o testemunho que ele empunhou."
(Ribeiro e Castro, Abril de 2005)

Ali ao lado, uma imagem de há dois anos: aquele olhar, fixo no ex-líder que discursava, parecia antecipar futuras contrariedades e prováveis embates.

quinta-feira, março 01, 2007

O Regresso















Eis o regresso de Paulo Portas à ribalta política, com o anúncio da candidatura à liderança do CDS, para despertar o partido da letargia prolongada em que se encontra.
Sintomática aquela passagem do discurso em que Portas alude à necessidade de o centro-direita não se fechar sobre si mesmo, de se abrir a uma sociedade em mudança. É difícil não ver aqui uma alusão ao referendo ao aborto (“a sociedade não aprecia atitudes de retórica nem de intolerância”, estou a citar de cor), a um certo desfasamento que parece afectar as elites políticas da direita portuguesa.
E a ambição nunca antes assim explicitada. Quer ser o rosto da oposição a Sócrates, liderando o espaço político do centro-direita.
Não é difícil entrever que Portas vai ganhar o partido (através de directas ou por meio de um congresso extraordinário; esta última via é ainda assim a que mais convém a Ribeiro e Castro e ao seu grupo) e ofuscar Marques Mendes. Mas conseguirá Paulo Portas convencer a maioria do eleitorado do centro e da direita, emergindo como líder natural deste espaço? É que aqui reside o móbil ou a razão de Portas.

Re: Epítetos

Escreve o Adolfo no Arte da Fuga, a propósito da posição no referendo sobre a despenalização do aborto:
Idiota útil foi um dos epítetos que me foi oferecido nos últimos tempos. E com uma frequência notável, devo dizer. Não me preocupo, claro. A idiotice pertencerá sempre a quem não tiver ideias. E esses, normalmente, votam em carneirada.
Recordo o que eu escrevi nas vésperas do referendo, reafirmando o meu sentido de voto no Sim:
Se o Sim ganhar (...) Começará a ser discutida a reorganização dos serviços de obstetrícia, genecologia ou planeamento familiar do SNS. Discutir-se-á a taxa de comparticipação em abortos feitos em clínicas privadas.
Para mim, essa discussão deverá ocorrer depois do referendo, não sendo no entanto díficil adivinhar qual a minha posição. Irei discutir o assunto, sem receio de ver a minha posição diminuída pela decisão de voto que tomei.
Era o que faltava, considerar diminuída a minha posição. O uso do síndroma da manada para apontar a quem não é alinhado, um erro de posição irrecuperável, não me incomoda nada.

Arqueologia, uma área da História

Se há testemunho ainda "vivo" dos primórdios da blogosfera, é a lista de links do Bruno, no indispensável Desesperada Esperança.
Penso poder levantar a hipótese de se tratar de uma experiência de investigação histórica aplicada, tal a preservação que ele tem dedicado ao longo dos tempos (medidos blogosfericamente, uma eternidade...) a páginas que tantas alegrias nos trouxeram e que ele preserva, ali, à mão de semear de todos os que por lá passam diariamente.

Obrigado Bruno, por esse esforço de conservação da memória da blogos lusa.

(A sério: o D.E. é para ler sempre que é actualizado).

Branqueamento à moda setubalense

Todos estes anos passados, talvez seja altura de erigir um monumento, uma estátua, ao antigo presidente da Câmara de Setúbal, Manuel da Mata Cárceres, por, ao contrário de muitos e imprevidentes autarcas, não ter desbaratado os generosos fundos colocados/postos à sua disposição pelos eurocratas de Bruxelas e também pelos zelosos funcionários do bloco Central.

Será um reconhecimento, um agradecimento ao seu legado autárquico.
Naturalmente, deverá ser financiada pelos eleitores/sociedade civil. Afinal eles são responsáveis pelas estátuas que por aí pululam.

Videoclip Lounging

Os Air têm um novo disco, a sair este Março.
Chama-se Pocket Symphony.
Passem pelo Videoclip Lounging e ouvejam o primeiro video.

Visto



Poder ver um filme de Woody Allen é sempre melhor que não poder ver nenhum filme de Woody Allen.
Scarlett "Woody" Johansson absorveu alguns dos tiques de representação de Allen.
E isso é mau porquê?

Aborto. A Proposta de lei

Sócrates não é Guterres.
A decisão de fazer a lei da IVG com os partidos de esquerda, PC e BE, parece constituir a excepção à regra, num país em que a palavra consenso (quase sempre sinónimo de bloco central) pesa, e de que maneira, na vida política.
José Sócrates ousou, nesta matéria, não seguir a bolorenta recomendação do prof. Cavaco Silva, que veio a terreiro apelar a que a futura lei seja fruto de um consenso o mais alargado possível. Evidentemente, que o Presidente da República queria um acordo com o PSD.
Consenso não é fórmula neutra, ao contrário, o seu sentido político é inequívoco e tantas vezes expressão de uma violência surda, de que é exemplo o caso do aborto.
É bom lembrar que a lei de 1984, que primeiramente despenalizou entre nós a prática aborto, só foi regulamentada em 97. E que, nos anos em que o prof. Cavaco Silva foi primeiro-ministro deste país, existiam, nos hospitais, umas comissões de ética mui confessionais, responsáveis pelo estreitamento da latitude de aplicação daquela lei, empurrando as mulheres para as margens do aborto clandestino. O consenso desses anos (que podemos remontar ao governo anterior do bloco central) escondia, pois, formas de violência simbólica e social.
Percebe-se que Sócrates tenha querido evitar equívocos, privilegiando os partidos situados, no hemiciclo parlamentar, à esquerda do PS, que se bateram pelo Sim no referendo último. Creio no entanto que deverá haver abertura a propostas que provenham, nomeadamente, de deputados da direita que deram a cara pela despenalização e que contribuíram para o resultado obtido nas urnas. O que não seria admissível era privilegiar a direcção do PSD, numa espécie de acordo de cavalheiros de resultados previstos. Isso iria, evidentemente, subtrair a vontade dos portugueses expressa em referendo.
A proposta ora apresentada estipula um período de reflexão de três dias para a mulher que decida abortar, bem como consulta médica obrigatória (a consulta médica é por excelência o lugar do aconselhamento). Recusa, e bem, quaisquer comissões de aconselhamento obrigatório, que poderiam ser o Cavalo de Tróia dos que pretendem fazer embargar a lei. O acesso a tais comissões deve resultar da livre escolha, e não de imposição, pois, caso contrário, seria reduzida a eficácia do combate ao aborto clandestino. Acima de tudo, esta proposta tem a virtude de consagrar a fórmula “ a pedido da mulher”, sufragada pela maioria dos portugueses no referendo de 11 de Feveriro.

The Man Who Flew Into Space From His Apartment